Estou nervosa. Muito nervosa. O ar parece que já nem chega aos meus pulmões. Estou dentro do carro com o meu pai e a minha mãe enquanto nos dirigimos para a casa da família constituída por pessoas "que não são simples". Deus, acho que vou vomitar. Porquê que eu aceitei fazer isto? Podia ter ligado à Lília para passar a noite em casa dela. Podia ter dito que tinha imensos trabalhos de casa para fazer. Podia ter dito tanta coisa! Mas em vez disso, estou neste carro a tentar impedir que o vómito chegue à boca. Porquê que eu me sinto assim? É só um rapaz, não é? Um rapaz que por sinal é convencido, mal educado e arrogante. Muito arrogante. E eu e ele, nunca vamos acontecer. Nunca!
Enquanto me perco nos meus pensamentos, o carro pára numa casa enorme, com três andares, um jardim que mais parece o jardim do Eden e com dois BMW na entrada da garagem. Esta casa é linda e muito luxuosa ao mesmo tempo. Calculo que chegamos à casa das pessoas que não são simples.
-Chegamos - anuncia o meu pai, confirmando as minhas suspeitas.
Saímos todos do carro e dirigimos-nos para a porta da entrada, o que demora pelo menos cinco minutos porque o percurso não é assim tão pequeno. Quando finalmente chegamos à grande porta que dá acesso ao interior da casa, o meu pai toca à campainha.
- Oh, olá boa noite! Por favor, entrem. - uma senhora loira, muito bonita e também muito bem vestida, recebe-nos. Deve de ser a mãe do Dinis.
Entramos na casa e a minha primeira reação é dizer "Wow". Quando me apercebo que realmente disse a palavra, volto-me para trás com o objetivo de tentar perceber se alguém a ouviu. Assim que o meu corpo se move, encontro Dinis encostado numa porta com um polo Ralph Lauren cinza, umas calças de ganga e umas sapatilhas DC cinzentas. O cabelo estava molhado, e conseguia ver um pouco do seu peito moreno através dos botões que não se encontravam apertados no seu polo. Uma visão dos deuses. Ele riu-se assim que me viu. Virou as costas e dirigiu-se para uma divisão que me parecia ser a sala de estar abanando a cabeça. Boa Matilde.
A mãe dele levou-nos para a mesma sala para a qual Dinis entrou. O seu pai está sentado no sofá, mas assim que nos vê chegar, levanta-se para nos cumprimentar.
- Daniel, a tua família é linda - diz enquanto troca um aperto de mãos com o meu pai, dá um beijo a minha mãe - e esta calculo que seja a tua filha. Que bonita que ela é, e que olhos que ela tem! Olá, prazer. - ele interrompe o seu discurso para me dar um beijo. - Bem, esta é a minha esposa, Bárbara, e este é o nosso filho, Dinis.
Bárbara cumprimenta-nos com dois beijos, e Dinis limita-se a acenar com a cabeça enquanto lança um sorriso de lábios. É nesse momento que eu me apercebo que a noite vai ser longa.
-O jantar está quase pronto. Por favor, sentem-se. Estávamos todos a assistir um filme.
Acho que Bárbara não se tinha apercebido que o seu filho passou o tempo todo no seu telefone. Pelas reações que ele fazia, deveria de estar a receber nudes de uma rapariga qualquer que já está rendida aos seus encantos.
Dinis apercebeu-se que eu estava a olhar para ele, e os nossos olhares cruzaram-se. Ele lançou-me um olhar de "o quê que queres?" e eu lancei-lhe um olhar de indiferença. Ele abanou novamente a cabeça e saiu da sala.
Nos minutos finais do filme, a minha bexiga necessitava seriamente de expulsar tudo o que tinha guardado. Por outras palavras, tinha de ir mijar, e depressa!
-Bárbara, pode dizer-me onde é a casa de banho, por favor?
-Claro querida. Fundo do corredor, à direita.
-Obrigada.
Ela sorriu-me e eu saí em direção à casa de banho.
O corredor está escuro. E a cada passo que dou, parece que estou ainda mais longe do meu objetivo.
-Estás à procura de alguma coisa?
Apanho um valente susto ao ouvir aquele voz. Sei que é de Dinis. As suas cordas vocais produzem um som tão singular que até poderia saber que era ele a falar mesmo com uma multidão de pessoas aos gritos por perto. Viro-me em direção à fonte sonora e sim, lá está ele. Só consigo ver a sua sombra, e sentir a sua presença. O seu peito sobe e desce como se movimentára no bosque. A minha respiração também está acelerada mas eu tento controlá-la ao máximo. Ele pode ser um tarado, mas eu não sou! Ele percebe que estou a tentar controlar a minha respiração e coloca uma mão no meu rosto. O seu toque é quente, e o meu corpo reage, aproximando-se cada vez mais dele.
-Porquê que tentas controlar isso? Deixa o teu corpo falar por ti. Eu sei que sentes o mesmo. Tens apenas receio de demonstrar. Não tenhas medo, eu não sou nenhum mostro.
-Eu não tenho medo de ti. Tenho medo do que sinto quando estou junto a ti. Nunca senti isto - depois de uma longa pausa, as palavras saem da minha boca.
-Sentiste o quê? Desejo? Vontade de tirar-me a roupa, de me tocar, de me sentir contra a tua pele suave, de os teus olhos serem consumidos por mim?
A minha boca ficou seca. Senti algo por baixo de mim que nem sabia que existia. Senti algo duro contra mim. Senti tanto que já nem sei o que realmente sinto.
-Vês? O teu corpo reage. - ele disse com a boca junto do meu ouvido.
Sinto-me tonta. Perdida. Prestes a adormecer com a anestesia que o seu perfume transmite. O que é isto?
Dinis beija o meu pescoço e ele facilmente se contorce em resposta. Ele sorri e puxa um pouco a minha pele com os dentes. Dói mas sabe bem. Tão bem. Ele afasta o seu rosto do meu pescoço e encontra os meus olhos. Os dele estão arregalados. Parece que pequenas chamas estão presentes naquele olhos verdes.
-Os teus olhos já eram bonitos, mas agora...- ele diz e termina com um gemido. Percebo que os meus olhos também têm na sua constituição todo aquele fogo que arde.
A sua boca aproxima-se da minha e um raio de calor percorre o meu corpo. A minha boca já está à espera dele. Está aberta e à espera que a sua língua a console e explore. O seu corpo está cada vez mais perto do meu. As nossas bocas também. Estamos a momentos de encontrar a felicidade, de saciar o desejo. E quando a sua boca está prestes a tocar-me, ele sorri e pára.
-Anda, está na hora de ir jantar.
Eu olho para ele com desprezo. Com o meu corpo a gritar e a minha boca sem dizer nada. Viro-lhe as costas e continuo o meu caminho pelo corredor em busca da casa de banho. Assim que o encontro, entro lá para dentro e bato a porta com força. Espero que Bárbara e Fernando não tenham ouvido, mas que o seu filho sim. ODEIO-O com tudo o que sou feita!
Sinto algo molhado na minha roupa interior. Fico um bocado à nora mas percebo rapidamente o que é.
Isto é assim? Deixas-me perdida de desejo, deixas que todo o meu corpo se consuma pelo teu fogo e depois não o apagas?
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Nas tuas asas
Romance"Nas tuas asas" somos transportados para o universo de Matilde e de Dinis, que encontraram um no outro a cura para as doenças das suas almas feridas. Porque depois de todas as tempestades, alguns ninhos resistem. Porque o amor acaba sempre por nos e...