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Estava em casa

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Estava em casa.

O mar azul, que se estendia além de onde os olhos podiam ver, as conchinhas coloridas que gostava de juntar quando era menino, o clima quente que abraçava o corpo inteiro com um calor agradável, tudo aquilo remetia a casa.

Inspirou, deixando a brisa marítima preencher os pulmões e a espuma do oceano tocar-lhe os dedos, fria e efervescente. A ponta dos dedos acariciava a areia, formigando com a sensação quente.

Estava em casa, sem dúvidas.

Ao fundo, conseguia ouvir risadas. Elas vibravam nos ouvidos, familiares e gentis, atraente e convidativa. Como o canto de uma sereia, prometendo terra firme aos desesperados. E como um bom marinheiro, rendeu-se ao sons que atiçavam os tímpanos. Os pés se moviam sozinhos, os ventos lhe conduzindo cegamente para onde quer que estivessem soprando, fazendo-lhe rodopiar uma, duas, três vezes, tonto e desorientado. Então, não podia mais ver.

Tudo ao seu redor transformou-se em breu, não podia enxergar um palmo à sua frente, mesmo com os olhos abertos. Levou os braços para a frente do corpo, em busca de tatear algo que pudesse orientá-lo, e por muitos minutos (minutos? horas? não sabia, o tempo passava diferente ali) nada suas mãos encontraram, até finalmente tocar uma superfície irregular, áspera e úmida. Pedra. Era uma parede de pedra que estava tocando. Talvez tivesse entrado em alguma gruta por acidente, quem sabe. Ainda perdido, pisou em falso e sentiu um dos pés afundar em água fria, enviando arrepios pela espinha. Subitamente, não estava mais tão escuro. A sensação de cegueira persistia, mas era diminuída por reflexos de pedrinhas azuis que dançavam na frente dos olhos, como uma galáxia azul particular. Conhecia aquele lugar, tinha certeza. Estar ali trazia a mesma sensação que a praia, a sensação de casa.

As risadas ecoaram mais uma vez, familiares, próximas ao ouvido, provocando uma taquicardia.

"Jungkook!"

Então, a luz azul das pedrinhas girou como um caleidoscópio, e tudo se desfez.

Pisquei os olhos furiosamente em resposta à luz que adentrava pela grande janela à minha direita. Era possível entrever o céu perfeitamente azul pelas cortinas esvoaçantes, e o cheiro reconfortante da maresia penetrou em minhas narinas. Minha cabeça girava um pouco, apesar da calma gradual que tomava conta do meu corpo ao passo que o oxigênio preenchia meus pulmões.

Se tem uma coisa que eu aprendi nesses últimos anos da minha vida, é que sonhos recorrentes são uma merda. Na verdade, nem sempre. Na maior parte do tempo eles são só... estranhos, tipo o sonho que eu tenho desde os meus dezesseis anos, onde eu e o Taehyung estamos em um carro que ele insiste em dirigir e eu só descubro que não, meu melhor amigo não sabe dirigir, quando já estamos na metade do caminho e quase morremos duas ou três vezes. Mas, enfim, o que eu quero dizer é que de uma forma geral sonhos recorrentes são, na melhor das hipóteses, desesperadores e, na pior, um presságio.

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