Je suis malade 2.0

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(Música do capítulo Jesuis Malade - Lara Fabian)

Pov Narrador.

Era por volta das seis horas da tarde. A chuva escorria pela janela fechada do apartamento da família Mills, deixando-a completamente embaçada. Parecia inverno, mas todos ansiavam pelo outono (a primavera seria muita pretensão). Estava frio e ao contrário do que se pensa ainda há uma esperança, por mais que neve a cada folha arracanda do calendário.

Todos vestiam um moletom escuro, tomavam chocolate quente e comiam pipoca. A animação escolhida foi Moana. As vezes Regina se recordava que esse era o filme preferido de Henry. As vezes a senhorita Mills se recordava de muita coisa e chorava as vinte e quatro horas do dia. Havia momentos em que ela colocava um sobretudo por cima do seu pijama e dizia que estava indo para a editora pois os negócios não poderiam ficar de luto. E foi nesta hora em que eu percebi que a bela mulher sempre tentou se esquivar da dor por mais que fosse inevitável o choque.

Isso sim é loucura, mas se eu fosse um pintor iria eternizar as suas breves loucuras, ditas assim. Com certeza seria mágico retratar uma linda mulher sendo envolvida pelo gris em um fundo multicolor. Se eu fosse um poeta não pensaria duas vezes em escrever qualquer rabisco do tipo: "o amor é um doce veneno que causa a saudade, a dor e o esquecimento" - um verso tolo que analisado por outro leitor não faria sentido algum. Se eu fosse um palhaço não pensaria duas vezes em tornar as suas trapalhadas como algo cotidiano, mas se eu fosse o ilusionista... Ah, eu lhe venderia a ilusão da felicidade eterna.

A vida necessita de mais artistas e ela só precisa se lembrar dos motivo das suas emoções um minuto depois, mas essa é a parte mais difícil. Será que Regina seria capaz de viver a árdua lembrança desde o amanhecer até a insônia chegar?

Zelena sentia o seu coração pequenino dentro de seu peito... A vida não poderia lhe golpear mais uma vez. Seria castigo ou apenas o destino lhe mostrando que não se pode fugir do que as estrelas escrevem? Algum palpite, meu caro? Eu diria que nesses casos ninguém ousa dizer uma única palavra. É pretensão demais ter conhecimento da alma de outrem. Nem Deus sabe de todas as coisas, imagine nós, relés mortais.

- Deus! - Zelena clamava todas as noites por ele, mesmo acreditando ser em vão. No requinte do seu ser ainda existia o dom da fé. Será que quando o grito sufoca a garganta todos sabem de onde vem o socorro? Provavelmente não, e, por isso, chamam por tudo e por todos.

Mas isso não tem relevância, certo? O que estamos observando neste ilustre dia são os breves sorrisos que escapam dos lábios da Sra. Mills. Ah, se ela soubesse o aquilo significava para a sua irmã e o seu mais novo filho. Não, não se assuste com o peso dessa palavra, Henry já se considerava como tal.

- Você gostou do filme, mamãe? - Henry era doce em sua fala e tentava se manter tranquilo em relação a resposta que fosse vir, mas a vida não é um conto de fadas e a frustração ficara nítida em seu rosto ao perceber a expressão de dúvida dá mais velha.

- Maninha, qual foi a sua parte preferida? - Zelena insistiu, tentando obter uma resposta mínima, mas não alcançou o êxito. - Você gostaria de assistir novamente? Ou melhor, qual o filme que você gostaria de assistir agora? Vamos lá! Você escolhe o próximo, maninha! - A ruiva só queria um breve momento de lucidez vindo da outra parte. Poderia ser um romance brega, daqueles que Zelena costumava reclamar... Hoje isso não seria um problema.

- E-eu não sei. - Regina Mills, ao perceber os olhares voltados para si, fingiu uma lembrança inexistente querendo atender os pedidos, mas desistiu ao perceber que a sua cabeça não obedeceria os desejos do seu coração. - Me desculpem! - ela tentou se levantar, mas Zelena a impediu, puxando-a para perto.

- Está tudo bem, meu amor.

Há um nobre verso de uma canção que diz: "mentimos dizendo que está tudo bem", e essa é a mais pura verdade. Há mentiras que nos convém. Zelena sabia que não estava tudo bem, mas não era preciso reforçar essa ideia. As palavras ditas carregam um peso maior do que aquelas que são guardadas para nós. E há também o mito de que se acreditarmos nas nossas mentiras, elas passam a ser verdades. Talvez se a frase dita à cima passasse a ser repetida em frente ao espelho, as coisas poderiam começar a mudar.

- Você é um menino muito belo! A sua mãe deve se orgulhar muito de tê-lo como filho! - a morena disse sem saber o quanto era uma frase dolorosa de se ouvir. - Eu disse algo errado? Oh! Me desculpe! - ela não sabia o porquê pedia, mas achou que precisava fazê-lo ao notar aquela expressão no rosto do menino.

- V-você não disse nada de errado, mamãe!

Essa era a nova Regina Mills.... A confusão em pessoa. Não havia mais lógicas, sentidos ou qualquer coisa semelhante em seus feitos e dizeres.

- Você sabe se a Emma já chegou do serviço? Nós precisamos chegar às quatro horas para fazer o ultrassom. Eu não vejo a hora de ver a minha menina pela a primeira vez!

Houve um breve silêncio estranho após tal pergunta. Entre todos os seus devaneios este poderia ser tido como o pior.

***

(Je sui malade

Eu estou doente)

***

Era noite. Não arrisco dizer o horário, e cá entre nós, nem é preciso. Zelena deixou a luz apagada e apenas a televisão iluminava a sala. Com a play list montada no YouTube, a ruiva se sentou e observou o carinho e a paciência que Henry tinha com a sua irmã.

- Me concede a honra? - Henry estendeu as mãos para Regina que aceitou de prontidão, mesmo com receio de não se lembrar dos passos.

Lola também observava a cena. Essa era uma das poucas vezes que a cachorra não farejou o medo vindo da morena.

- Você é a melhor! - Henry disse. Ele sempre tentava arrancar risos de sua mãe. - Uma verdadeira rainha!

- Você é um verdadeiro galanteador. - Regina disse. Um breve silêncio. - Henry, eu adoraria ter um filho como você.

- Eu te amo, mamãe!

E o nobre menino não se cansaria de dizer isso para ela, por mais que ao amanhecer nada disso seria uma lembrança.

Em contraponto, Zelena não conseguia segurar as lágrimas. Lola sempre se aproximava da ruiva. Os animais têm um jeito único de dizer "eu estou aqui e vou cuidar de você".

São dias árduos para a família Mills.

(Je suis malade,
Complètement malade,

Comme quand ma mère sortait le soir,
Et qu'elle me laissait seule avec mon désespoir,
Je suis malade,
Parfaitement malade,
T'arrives on ne sait jamais quand,
Tu pars on ne sait jamais où,
Et ça va faire bientôt deux ans,

Estou doente,

Completamente doente,

Como quando a minha mãe saía à noite,

E me deixava sozinha com meu desespero,

Estou doente,

Perfeitamente doente,

Você chega, nunca se sabe quando,

Você parte, não se sabe nunca para onde,

E já vai fazer dois anos,

Que você não dá a mínima)

126 Cabides - SwanQueenOnde histórias criam vida. Descubra agora