47 - Marília Mendonça

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O dia começou agitado. Pela primeira vez no meu pouco tempo de gravidez, o enjoo se fez presente. A primeira coisa que fiz quando acordei foi correr pro banheiro pra colocar tudo pra fora. É, teria de me acostumar com os meus mais novos companheiros a partir de agora: inchaço, tontura e enjoos. Mas a coisa mais importante que isso me atormentava diariamente: o fato de ainda não ter contado para minha mãe que ela vai ser vovó. A consciência pesava toda vez que eu deitava a minha cabeça no travesseiro. Estava decidida de que não passaria de hoje.
Após ter feito o que tinha pra fazer no banheiro, desci e fui de encontro a minha mãe para tomar café da manhã. Assim que cheguei na cozinha, o cheiro do café e do pão quentinho que acabara de sair da chapa me deixou enjoada, tive que sair correndo pro banheiro pra não vomitar no meio da cozinha, e o pior, na frente da minha mãe. Logo que saí do banheiro, pude perceber a cara nada amigável da Dona Ruth. Estava séria, parada de frente a porta. Certamente me esperando sair para lhe dar explicações. Pois bem, tinha chegado a hora. Contei tudo do início. Sobre como me aproximei do Henrique, como descobri que estava apaixonada por ele, da nossa primeira noite de amor, e de como tinha chegado na parte de ter um fruto de tudo de mais maravilhoso que existe entre nós dois. Vi em seus olhos que ela estava emocionada. Brava, mas emocionada. Dona Ruth era uma mulher sensível, que sempre tentou entender o meu lado e me apoiar em qualquer circunstância.

Ruth: — Marília, eu tenho que confessar que essa notícia me pegou de surpresa. Uma menina nova, sempre responsável, essa era uma das coisas que eu achei que não fosse acontecer. Mas não, você não me decepcionou. A vida toma outros rumos e Deus mostra que tem de ser tudo do jeito que Ele quer, e não como nós planejamos. E eu creio que esse foi um plano dEle na sua vida, pois Ele lhe deu o presente mais precioso que você poderia receber. Então, minha filha, aproveite essa sua fase. Aproveite porque 9 meses passam muito rápido, e é uma experiência única. Quando você sentir o primeiro chute, a primeira mexida. Tudo vai ser mágico e especial, e vai ser a fase mais importante e emocionante da sua vida. - falou secando as lágrimas. — E quero que você saiba que você tem a mim do seu lado em todos esses momentos, que você vai ter o meu apoio sempre, minha menina. A mamãe te ama muito. - disse enquanto me dava um abraço. — Ah, e eu adorei saber sobre o Henrique. Nem nos meus melhores sonhos via ele como meu genro. Ele é um menino de ouro, minha filha. Tenho certeza que ele vai ser um pai maravilhoso. Você não poderia ter mandado um genro melhor. Eu amo muito vocês. Depois vou passar lá na casa da Maria para dar os parabéns e mandar ele criar mais juízo naquela cabecinha dele.  - completou. Agradeci por toda a compreensão dela. Tenho sorte por ter a Dona Ruth como mãe. Curtimos o restinho da manhã e começo da tarde juntinhas.

(...)

A campainha tocou e fui atender. Achei estranho, não estava esperando ninguém. Minha mãe tinha saído, disse que ia fazer umas comprinhas do que estava faltando e eu estava na sala afundada no sofá assistindo filme. Assim que abri a porta, tive uma surpresa: Tia Maria estava parada na porta com uma sacolinha em mãos.

Marília: — Tia! Que surpresa. Não esperava a senhora aqui. - falei enquanto a cumprimentava. — Entra, a senhora já é de casa.
Maria: — Oi minha filha. Pois é, quis fazer uma surpresa. - falou e logo após entrou. Fomos juntas para sala e sentamos no sofá, iniciamos uma conversa rápida, mas percebi que ela estava um pouco inquieta, como se quisesse contar algo.
Marília: — Tia? A senhora tá um pouco estranha. Quer falar sobre algo? Saiba que tenho a senhora como uma segunda mãe, e a senhora tem total liberdade pra falar comigo sobre qualquer assunto. - peguei em sua mão e dei um sorriso leve.
Maria: — Ah, minha filha. É que eu estava um pouco receosa de tocar no assunto, não sei como você está reagindo a tudo - nessa hora o meu coração gelou. Será que ela já sabia? — Lila, - pegou na minha mão. — O Henrique me contou tudo.
Marília: — Tudo? - perguntei nervosa.
Maria: — Sim, meu amor. E eu vim aqui pra dizer que eu vou apoiar vocês em tudo o que precisarem. Sei que deve estar sendo difícil pra você, mas filho é um presente de Deus. Você vai conhecer um amor incondicional, e depois disso, tudo vai fazer mais sentindo pra você. Eu tenho certeza de que você vai ser uma mãe maravilhosa, minha linda. E eu tenho muito orgulho de você, por você estar sendo forte, mesmo quando as coisas podem parecer confusas. - falou limpando as lágrimas que caiam no meu rosto. — E eu estou amando saber que você é minha nora. - sorriu.
Marília: — Ai, Tia. Fico tão feliz em saber que tenho pessoas tão maravilhosas na minha vida. Você e a minha mãe são os maiores exemplos que eu tenho. E se eu for pro meu bebê metade das mães que vocês são, eu estarei satisfeita. A senhora não tem noção do quão é importante saber que tenho com quem contar, e que o amor da minha vida tem uma mãe tão maravilhosa quanto ele. Muito obrigada por tudo, tia. A senhora me deu um dos melhores presentes da minha vida, que foi o Nim e o Henrique.
Maria: — Eu quem agradeço, meu amor. Por você ser essa menina maravilhosa, e por estar me dando o meu primeiro neto. - sorriu. — Falando nisso, eu trouxe um presentinho. - falou e no mesmo momento se virou para pegar a sacolinha que tinha trazido. Me entregou e eu abri, e me derreti com o que estava dentro. Era uma camisetinha com a frase "Amo a minha mamãe". Não aguentei e chorei. Agora mais do que nunca a ficha tinha caído. Eu sou mãe. E o amor da minha vida é o pai. Me levantei e me aproximei de Tia Maria a abraçando e agradecendo pelo presente. Passamos um tempinho conversando e imaginando se o meu filho viria mais parecido com o Henrique ou comigo. Até que ela se levantou e disse que precisaria voltar pra casa, pois já estava ficando tarde. Nos despedimos e ela falou que viria me visitar mais vezes, e que eu era pra ir mais vezes lá pra casa dela também, eu concordei e ela foi embora. Depois que a tia Maria foi, passei mais um tempo pensando em como seria daqui pra frente, até que me surpreendo com uma voz que eu reconhecia muito bem.
Henrique: — Que mamãe mais linda. - falou sorrindo quando os meus olhos foram de encontro aos seus.
Marília: — Você quem é o papai mais lindo. - sorri. — Vem cá! Senti a sua falta. - falei manhosa.
Henrique: — Eu também, meu amor. Mas quis dar esse tempinho a mais pra você poder digerir tudo. Como você tá? - perguntou sentando ao meu lado e me puxando para os seus braços.
Marília: — To ótima. Contei pra minha mãe. E ela adorou saber que você é o genro dela. - sorri. — E a tia Maria veio aqui. Conversou comigo, trouxe um presente.
Henrique: — Eu também estou adorando ter a tia Ruth como sogra. - falou me dando um beijo no pescoço. — E um presente, é? O que ela trouxe? - perguntou e eu mostrei pra ele. — Eu to muito feliz com tudo isso o que está acontecendo, Lila. - falou e eu me derreti inteira.
Marília: — Eu também, meu amor. No início tava complicado, mas agora já estou entendo tudo e parece que estou vivendo um sonho. Não imaginei viver isso nunca. E a felicidade que eu to sentindo nem cabe dentro de mim.
Henrique: — Sou um cara de sorte por ter vocês. Os amores da minha vida. - falou me apertando nos seus braços, e logo em seguida colocou a mão em cima da minha barriga. Nesse momento senti um arrepio, uma sensação de tranquilidade e paz. Nos entreolhamos e nos beijamos. Estávamos carregados de sentimentos e precisávamos externar isso. E externamos. Do melhor jeito possível. Não lembro como chegamos, mas quando me dei conta, eu e o Henrique estávamos no meu quarto, na minha cama, desprovidos de qualquer peça de roupa. Fazendo o que fazíamos de melhor: nos amar. A saudade era tanta que uma sessão apenas não foi o suficiente. Nos amamos a tarde inteira. Do nosso jeito. Único, singular e cheio de amor.

O irmão do meu melhor amigoOnde histórias criam vida. Descubra agora