Resolução - Parte 1

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Ouviu-se uma longa gargalhada, era uma daquelas que era alta, transbordava sinceridade e empolgação. Foi longa o suficiente para só terminar quando a pessoa provavelmente se engasgou e parou de rir para que pudesse tossir e evitar a própria morte.

- Hum, me dê um momento, só um, ok?

Aquela era uma voz masculina, não era muito grossa ou alta, mas também estava longe de ser uma voz fina ou alguém que estivesse falando baixo. A pessoa encheu os pulmões de ar e os esvaziou com calma, havia parado mesmo de rir.

- Bem, eu me lembro de um cara. É, era um cara, só um, um bem filho da puta, por sinal. O nome dele era, hum, calma, ah, claro. Se chamava Master, isso, era Master o nome dele.

Ainda que não estivesse reclamando diretamente, era de se suspeitar que a pessoa que estava falando estava bastante fraca. Ao final de cada pequena frase, essas que por sinal já demoravam a serem ditas, a pessoa respirava profundamente e quando tossia era como se os pulmões reclamassem tal como um motor velho reclama quando o dono do carro tenta o ligar.

- O Master ele é tipo o meu irmão gêmeo do mal, entende? Não lembro quando exatamente ele apareceu pela primeira vez ou porquê ele morre de ódio pelo mundo todo e todo mundo que vive nele, mas esse é o jeitinho surtado dele.

Quando a referência ao fato do Master ser "o irmão gêmeo do mal" da pessoa que estava falando foi feita, ficou claro quem era essa pessoa.

Por baixo de uma enorme barba castanha escura com partes grisalhas muito discretas e um longo cabelo liso de mesmas cores, estava ele, ninguém mais, ninguém menos que Leonardo Ott, o (velho) Doctor.

Quando comparado ao visual que sempre teve, o pobre rapaz estava fisicamente irreconhecível. Magro o bastante para ser confundido com um esqueleto que fugiu do cemitério, debaixo dos olhos escuros que expressavam o mais duro cansaço haviam enormes olheiras, e sua pele era quase cinzenta.

- Ele passou a vida querendo acabar com o planeta, e depois de muitos anos perdendo pra mim, ele conheceu uns caras, senão me engano eram quatro. Quatro, sim sim. Eles se diziam deuses que cuidavam de todos os universos, mas eu suspeito que eram só uns magos bêbados pra caramba, sabe? O detalhe que fez o Master se apaixonar foi que cada um deles tinha um enorme poder no coração, e se juntasse esses quatro corações, ia conseguir fazer o quê bem entendesse.

Ainda que de maneira bem humorada e demorada, a explicação que o Doctor estava fazendo, trazia consigo uma interessante (e quase cem por cento verídica) recapitulação dos acontecimentos que antecederam sua chegada (e consequentemente prisão naquele castelo) no Sanctum.

- Eu, de verdade, passei maior tempão duvidando que ele pudesse fazer uma coisa dessas. Ainda mais porquê ele parecia ser apaixonado pela Onda Fria, que é uma ex amiga minha que pirou e usou os podereszinhos dela pra tentar me matar, não acho que deu muito certo, mas tudo bem. Ele queria ter uma filha com a Onda Fria, lembro disso, mas quando deixou esse plano de família pra trás, ele focou de verdade no plano de pegar os poderes dos deuses, então pegou fez a maior bagunça no multiverso, e inclusive o desgraçado matou minha família, amigos e namorada pela segunda vez.

Naquele momento os olhos do Doctor se encontravam brilhando, estavam marejados com a vaga lembrança daqueles que ele amava mas de fato se foram, mais uma vez.
Ele ergueu o rosto e ao cerrar os lábios e olhos, se mostrou muito pensativo enquanto olhava para longe.

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