Capítulo 3: IMPROMPTUS DA PAIXÃO

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Com a dor, minando-lhe o ânimo, Jen percebeu que estava viva. Lembrava-se que caíra de uma árvore, lembrava-se que passara a tarde junto ao Vulcano, ruminando seu desejo de vingança, mas nada mais, além disso.

Abriu os olhos e viu Lisa sentada próxima, com a testa enrugada de preocupação e com os olhos contornados por olheiras azuladas. Sorriu para ela, ao que a moça levantou-se rapidamente e saiu para buscar o médico.

Este, um senhor muito velho de expressão aquilina, examinou os olhos de Jennie, perguntou quantos dedos estava lhe mostrando e por fim, tocou-lhe a base do crânio, massageou-o e encerrou seu exame.

- Felizmente, nenhum trauma que possa deixar seqüelas! – diagnosticou. - Ainda assim, gostaria que ficasse em observação para evitar que lesões internas que não pude perceber nos surpreendam.

O velho senhor já ia saindo, quando parou e perguntou para Lisa.

- De onde ela despencou mesmo?

- Do velho Jequitibá Rosa, ao lado da ala Noroeste...

- Inacreditável como não tenha morrido! Certamente as árvores menores lhe apanharam a queda, como podemos perceber pelos vergalhões que tem em todo corpo. Bem, preciso ir embora. Ainda tenho que fazer um parto.

Lisa aproximou-se do leito e olhou Jennie com uma expressão tão intensa de amor e aflição que a comoveu.

- O que fazia no Jequitibá, Jennie?

- Eu, eu não me lembro! – confessou a moça, sinceramente.

- Quase a perdemos! - lastimou-se Lisa.

- Mas o Doutor Ernesto assegurou que melhorará! - Mestra Tae, rompeu a tranqüilidade do quarto com sua voz cortante. - é preciso que se explique, senhorita! Esta instituição é tradicional e respeitada e não podemos jogar seu nome aos ares pelas peripécias de uma aventureira sem juízo.

- Tae! – exclamou Lisa indignada, enquanto Jen sentia suas faces arderem em brasa.

Por sobre os ombros de Tae, Jen percebeu quando JiSoo entrou no quarto silenciosamente. Em seu rosto, comumente cínico e zombeteiro, uma expressão nova, desconhecida. Era como estivesse presente somente seu corpo, vazio de alma. A face estava pálida e seus enormes olhos castanhos, se ocultavam parcialmente sob a espessa linha de seus cílios.

- Sei o que você pretendia mocinha! - continuou, TaeYeon. - Queria alcançar o quarto de Lisa. Outras antes de ti, já tentaram seduzir um Kim Manoban, mas eu não permiti!

- Chega! Tae! Eu não admito que a ofenda. Naquele outro dia, eu a levei para conhecer a ala residencial por motivos puramente artísticos. Não acredito que tenha se aventurado por lá para me assediar...

A expressão de Lisa agora, denunciava bem que pela sua vontade, gostaria de acreditar piamente na possibilidade de que Jennie a procurava em seu quarto.

- Bom! Ainda quero descobrir o que a Kim fazia, bisbilhotando a ala? Responda menina. Só assim vou saber que providências tomar...

- Eu não me lembro! Só me lembro que passei a tarde junto ao Vulcano, esperando anoitecer e que... Estava com fome!!!

A franqueza e sinceridade da resposta singela de Jen eram irrefutáveis. Todos que ali estavam puderam perceber. Inclusive JiSoo.

- Ora! Então está explicado! – Lisa concluiu com alívio e desejando botar um ponto final no assunto. - Estamos matando nossa Sul-mato-grossense de fome! Já li sobre a dieta pantaneira, regada por muita carne, arroz carreteiro e variedade de peixes...

JiSoo virou as costas e saiu do quarto tão silenciosamente quanto entrara.

Mestra TaeYeon, abriu a boca várias vezes e não conseguiu dizer palavra, nem contra argumentar. Por fim, achou até plausível a conclusão de Lisa, pois exatamente no 3o andar da ala, havia uma grande e suntuosa cozinha, com suas despensas carregadas de iguarias, com muita e variada comida. Deu de ombros.

Pour ElleOnde histórias criam vida. Descubra agora