Capítulo Cinco

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Vengeance ouve o barulho de motor à distância. Olha pela janela, sua casa é a primeira na zona selvagem. Isso o faz sentir-se como o guardião dessa parte da Reserva.
O jipe está a favor do vento. Descarta, imediatamente, Tiger, seu visitante frequente. A brisa movimenta toda a folhagem ao redor, trazendo o cheiro humano e Espécie.
Vengeance abre a porta, de olho em quem se atreve invadir seu território. O jipe para a, aproximadamente, cem metros de distância. Vengeance vai até eles, parando a trinta metros, mostrando seu aborrecimento.

__ O que fazem aqui? __ vibra sua voz, num tom firme de rosnado.

__ Calma, Ven. Eu trouxe a Valentina para conhecer o local. Ela está aqui para nos ajudar.

__ Oi. __ Valentina acena com tchauzinho delicado, que ele prontamente ignora.

__ Ela não é bem vinda aqui. __ Vengeance se dirige a Jaded, desfazendo-se da existência da fêmea.

__ Justice concedeu acesso. Ele sabe o que é melhor para todos nós.

__ Não!! __Vengeance grita de forma profana.

O medo arrepia o corpo todo de valentina. Nunca pensou que um ser humano pudesse emitir um som assim. Esse tipo de tom só ouvido em filmes de terror.

__ Ven? __ Jaded chama na voz tranquila de um Espécie, para acalma-lo. __ Não fazemos mal as fêmeas, lembra? Muito menos as que querem nos ajudar. __ Quando o retorno é o silêncio e um olhar furioso de Vengeance, Jaded já sabe que tal visita não irá acontecer hoje. Mas, ainda assim, continua: __ Ela só quer conhecer o lugar, nada mais. Se quiser, pode vir conosco. Eu garanto.

Vengeance não responde e não se mexe, mostrando-se irredutível.
Jaded dá a ré no jipe, pois chamara atenção dos demais moradores da zona selvagem. E todos, principalmente ele, sabe o limite que não deve ultrapassar nessa parte da Reserva.
Valentina abre a boca para falar, mas Jaded sinaliza para que se mantenha calada.
Numa distância mais segura ele a informa:

__ Somos Espécies. Não diga algo, até ter certeza que não podem te ouvir, ok?

Ela fecha a boca imediatamente. Depois de um segundo...

__ Me avise quando for seguro.

Jaded sorri.

__ Esse aviso nos garante que estamos bem, por agora. Sabe como é: os habitantes da zona selvagem tem os sentidos mais aguçados do que nós outros.

Valentina sorve cada informação com uma gana qualificada.

__ Eu sempre esqueço desse detalhe. __ depois de uma pausa: __ Ele definitivamente não gosta de mim.

__ Não leve para o lado pessoal. É como expliquei: eles não socializam...

__ ...bem. __ Valentina completa. E parece que todos repetem a mesma coisa desde que se interessou por essa parte específica da Reserva. __ É, eu sei.

Jaded foi uma companhia agradável durante todo o dia. Charmoso como o pecado; mostrou-lhe alguns lugares interessantes, contou-lhe histórias engraçadas e outras muito tristes. Foi uma boa distração, mesmo que sua mente voltasse ao homem fera e selvagem. Toda aquela agressividade que trincou-lhe os músculos salientes, que particularmente... está tudo no seu devido lugar. Não que os outros não tivessem em plena forma, pelo contrário. Mas algo naquele homem... algo naquele homem a instiga, cativa, chama e atrai.
'Amanhã voltarei a "bater naquela porta". E toda aquela selvageria pode fazer sua aparição o quanto quiser. Faria saber porque se chama Valentina'...

Valentina teve um encontro com Zandy, no final do seu expediente. Haviam se encontrado mais cedo no refeitório, como a maioria das vezes; mas não se atreveu a tocar no assunto no meio de tanta gente; contudo, marcou esse horário para um reencontro. Percebeu, que apesar de cautelosa, Zandy foi muito receptiva. Apresentou detalhes emocionantes do início de seu relacionamento com seu marido, um Nova Espécie. Revelou que se divorciara duas vezes antes, e nada se compara ao que vive agora, com o homem que realmente ama.
As duas conversaram na sala de estar bem arrumada de seu anfitrião; e não lhe escapou que viera acompanhada de um Espécie fascinante de cabelo multicolorido, ao invés da sua inseparável melhor amiga: Creek.
O Espécie com suas feições felinas, com aparência de um tigre. E, mesmo que estivesse, agora, fora de vista, de modo que as duas tivessem privacidade, Valentina analisou-os juntos, ao chegarem. Ainda que não apresentassem nenhum gesto notoriamente afetivo, faziam boa figura juntos. De mãos dadas quando os viu, pareciam um casal de namorados com ar diferente, dos que descobrem o verdadeiro motivo de se amar alguém.
Ele uniformizado como a segurança da ONE, não foge do que se espera de qualquer um da sua espécie. Foi muito compreensível do "porque" Zandy o havia escolhido: exótico e bonito demais, não desperdiçou nenhum momento com olhares paqueradores para Valentina, como normalmente acontece quando entrevista homens, principalmente os casados.
Em realidade, toda sua atenção esteve direcionada a Zandy, sua esposa. Diferente dos demais fora desse portão, que descartam relacionamentos sérios com momentos fulgazes com desconhecidas, só pelo prazer do tão superestimado jogo de poder e sedução; algo pelo qual ela admira e admite que a percepção de diferença entre os Novas Espécies e homens comuns está a um nível superior, que vai além da genética.
Zandy enfatiza que ninguém, além de médicos, parentes mais chegados e a própria ONE sabem que Nova Espécies podem sim procriar. Se Valentina pudesse medir o peso de cada informação que recebeu ao longo de sua jornada profissional, ela poderia dizer que essa lhe valeria o prêmio máximo de jornalismo. Lógico, tudo isso viria entrincheirado com uma guerra civil, invasão a ONE, sádicos milionários com amor a esporte excêntricos e assassinatos de pessoas inocentes.
Uma coisa retorna a mente de Valentina: a lembrança de Richard inventando desculpas quando atendeu aquela ligação a primeira vez que se encontraram no refeitório. 'Estranho'; pensa agora.
Fora da lista que acaba de citar, exceto ela, ninguém mais deveria saber de algo assim... Valentina relata esse fato a Zandy, que torna-se reflexiva por um instante.
O papo seguiu e foi esclarecedor; no entanto, quis conhecer seu pequeno; cada assunto relacionados a Thomas ganhou uma entonação diferente. Valentina foi catapultada pelo humor da conversa onde Thomas foi protagonista. Sendo assim, a conversa findou com gostinho de "quero mais" e ficou a promessa de um novo encontro...

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