Capítulo Sete

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Valentina segura a barra do roupão para não tropeçar e o proteger da sujeira. 'O que diabos está fazendo?'; outra de suas perguntas, da qual a resposta é o silêncio; porque nem mesmo ela sabe o motivo de sua mais nova maluquice de segui-lo de madrugada, num terreno obscuro e infestado de feras. De todo o tipo.
Uma série de coisas podem dar errado. É muito óbvio que o seu estado de espírito está em guerra com sua mente; e sua mente com seu corpo. Resultado geral: uma merda de desordem filha da puta. O que explica querer dar uma de detetive uma hora dessas, no meio da selva. Sem contar que, se algo pior acontecer, apostaria tudo o que tem, seu corpo nunca seria encontrado.

__ Se eu sair viva daqui... __ ela pisa num galho e quase tropeça. __ sossegarei meu facho como âncora. __ murmura pelo caminho. __ Chega de aventuras.

Ouve-se alguns latidos aqui e ali, sua única forma de orientar-se. E, então, o barulho de água, basicamente um "squash" de mergulho, ao que lhe diz estar mais próxima do lago.
Uns vinte metros a frente, mais ou menos, desviando de detritos vegetais e árvores, o brilho de água é visto por entre essa última, sem indícios de qualquer criatura presente.
Fixa, firmemente, na ideia de que todos dormem a essa hora; inclusive as feras perigosas. Precisa pensar assim...
Se atenta ao silêncio e... 'Pera aí... Silêncio? Cadê os latidos dos cachorros? Puta merda, CADÊ OS LATIDOS DOS CACHORROS?!!'.
Valentina sente o lábio inferior tremer ao olhar a escuridão atrás de si, pensando que a melhor ideia seria voltar. Olhando ao redor, se pergunta: 'Mas como?'
Retrocede alguns metros, que traduzidos para a realidade, seriam alguns passos, em vista do breu quase total a sua volta; e a falta de visão aguçam muitos dos seus sentidos. Já lera sobre isso em alguma revista; no entanto, esqueceram de mencionar que, principalmente, a imaginação e o terror abismal têm participação especial nesse enredo. E, essas coisas, trabalham na mente de um ser de um modo intrigante.
Volta-se em direção ao lago, novamente; das duas uma: ou está andando em círculo, ou está numa ilha. Descartando a segunda hipótese, imagina que, possivelmente, parte desses bichos tenham aversão a água; e, é claro, sua teoria basea-se num filme relacionado a alienígenas. 'Mas quem se importa? Melhor uma teoria furada, do que nenhuma...'
Distraída em divagações, mais uma vez, nem nota as criaturas cercando-a a frente.
Rosnados assustadores que, numa noite escura como essa, poderiam ser dos cães do capeta. O barulho a faz saltar e as mãos se desprendem da barra do roupão, pondo-as à frente do corpo, como se pedindo calma aos "bichinhos".

__ C-c-c-calminha, ca-ca-cachorrinhos bonitinhos. __ sua voz está um tom acima de um sussurro. __S-s-s-se vocês se comportarem, da-darei um ossinho para cada um... Não o meu! Mas-mas um ossinho de boi, que é um ossinho bem grandão.

Os cães avançam, do mesmo modo em que ela recua: devagar; e o adicional de amostras de presas em rosnados que parecem vindo de bestas.
'Indaga se teria sido uma boa filha para seus pais; lembra-se da discussão com seu colega de turma na quarta série, a quem devia desculpas, mas preferiu o orgulho a ter de fazer as pazes; ter experimentado sorvete de amarena... '
Sendo esses os pensamentos de quem vive seus últimos momentos, Valentina retrocede mais alguns passos, quão lentamente quanto possível. Nem sonharia em lançar qualquer movimento brusco sem razão.

Um corpo duro bate às suas costas, e sua boca é tampada antes que o grito saia; o aprisionamento de sua cintura por um braço forte o suficiente para firma-la no lugar.

__Vão. __Comanda a voz rosnada atrás dela.

Ela sabe quem é. E o alívio imediato briga feio com a ansiedade.
Mesmo com o coração disparado, as emoções são tão chocantes ao ponto de querer chorar.
Vengeance solta sua boca, mas o braço permanece apertado à sua cintura. Ela não é capaz de se mover, nem para vê-lo como desejava. Seu nível de estresse alcançou o pico máximo para se manter estática, paralisada e ofegante.
Um fungado alcança-lhe o pescoço e se embrenha pelo seu cabelo para chegar a nuca.
Arrepio instantâneo. Desse, sexual e incontido, com calafrios que atravessam a espinha.

VENGEANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora