Capítulo 1

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Você nunca entenderia

Pansy estava sentada na ponta da barra, acompanhada por um cigarro bruxo e um whisky de fogo, quando a outra entrou. E talvez fosse o álcool ou alguma força sobrenatural que a fez sorrir – um sorriso estranhamente vazio e ao mesmo tempo cheio de significados – vendo a recém-chegada observar sua atitude incompreensível e fora do normal, sentando-se do outro lado da barra.

 A outra pediu uma bebida e voltou a olhá-la pelo canto dos olhos, vendo como ela a observava e continuava sorrindo simplesmente, sem saber por que sorria. A bebida chegou, e depois de dar um gole no seu chá, Hermione, sem nada entender, retribuiu o sorriso, de maneira tímida, apenas como se estivesse cumprimentando.

 Isso fez Pansy sorrir mais, olhando seu whisky e bebericando um pouco. Uma força maior a fez se levantar, a bolsa pendurada no ombro, a jaqueta de veludo verde pendurada no antebraço, o copo na mão e o cigarro preso entre os lábios.

 Hermione a observou, desviando os olhos para a caneca, assim que percebeu que a outra vinha na sua direção.

 - Estranho, não é? – a voz de Pansy já não era a mesma de antes, aquele tom esganiçado havia mudado até atingir um perfil maduro, firme, já não agudo.

Hermione a encarou, sem entender o que queria dizer com isso, reparou como os traços da outra estavam bem definidos e rígidos, que seus olhos eram frios e que ela tinha profundas olheiras. Viu-a postar o copo no balcão, sua bolsa e jaqueta penduradas no encosto da banqueta, o cigarro entre os lábios.

 - Estar de volta a Hogwarts sem os antigos amigos – acrescentou vendo a outra tomar consciência sobre o que ela falava.

 A grifinória fez que sim com a cabeça, observando sua bebida atentamente, sentindo suas mãos esquentarem sobre a caneca. O Três Vassouras estava quase vazio, apenas um ou outro do pequeno povoado tomava algo, afinal era uma quarta-feira.

 - Por que está falando comigo? – Hermione a encarou, as palavras acabando de escorregar de seus lábios sem pensar muito, punindo-se pela falta de educação.

 - Achei que seria a única a entender... – murmurou, seus lábios grudados no vidro do copo, o líquido âmbar descendo por sua garganta.

 - Hum.

 - Como um vazio específico. Você sem Potter e Weasley, eu sem Draco e Blaise.

 Hermione não respondeu, nutria aquele rancor interminável por Pansy Parkinson, pelo que ela tentara fazer, pelo que sempre fora. E por mais que ela estivesse certa, não concordaria, não diria nada. Por mais que as palavras de concordância quase fugissem de seus lábios e ela demonstrasse a necessidade de mostrar seus sentimentos acerca desse tema e tirar aquele dolorido constante na altura do peito.

 Todos os Corvinais tinham voltado, um pequeno grupo de Lufa-lufas, mas os Grifinorios e Sonserinos não, eles estavam contentes demais por terem ganhado seus diplomas sem terem que fazer as provas finais, sem terem as aulas do último quadrimestre de suas vidas.

 - Por que voltou? – Hermione a olhou. Não entendia porque diabos Pansy Parkinson estava buscando conversa, talvez fosse a bebida, afinal ela estava corada e sua voz saía ligeiramente mais alta que o normal, fazendo-a ter uma aura sensual, a maneira como suas palavras deslizavam com uma suavidade maligna e eram ditas com uma monótona pronunciação.

 - O Ministério diz que o que a Guerra ensina nenhuma escola pode ensinar. Mas acredito que há muitas coisas em Hogwarts que a Guerra não me ensinou.

 Pansy meneou a cabeça, observando Hermione beber seu chá com calma, tentando não demonstrar o nervoso que estar conversando com uma figura tão odiada lhe gerava.

 - E você, Parkinson? – perguntou tentando afastar aquele olhar fixo da outra.

 - A Escola Oficial de Medibruxos não aceita essa desculpa esfarrapada do Ministério. Necessito minhas notas finais. Assim como a maioria dos Corvinais que voltaram.

 Hermione compreendeu porque Parkinson havia voltado, mesmo sem sua bandinha ridícula. Mas ainda assim, queria que a outra parasse de falar de uma vez. Aquilo era estranho demais, difícil demais de compreender e aceitar. Pansy nunca falaria com ela assim como ela nunca falaria com Pansy.

  Ignorou-a, bebendo seu chá antes que esfriasse e viu a outra pedir mais um whisky, enquanto terminava o anterior num último gole, fazendo uma pequena careta ao sentir o líquido ardendo pela garganta.

 O cheiro do cigarro fazia Hermione ficar cada vez mais aborrecida, aqueles cigarros bruxos cheiravam tão mal quanto os trouxas. Mas tinham aquela aparência estranha, como se fossem miniaturas de charuto, e a sonserina o levava aos lábios, apertando o filtro e sugando a fumaça para dentro de si, como se fosse a única coisa que soubesse fazer na vida. Pansy tinha um leve toque de desespero em seus atos.

 Pansy sentiu o olhar da outra a recriminar e não soube ao certo por que, se pelo tabaco, pelo whisky ou por sua simples existência. Sentiu-se ridícula de repente, como se recobrasse toda sua sobriedade, seus olhos enregelaram, dando-se conta de quão estúpida se estava sentindo.

 Tomou um grande gole do whisky, penitenciando-se com o sabor amargo por sua falta de compostura, onde já se vira uma sonserina sangue-puro confraternizando com uma grifinória sangue-ruim?

 Aquela sensação desconfortável e o silêncio incômodo, os olhares rápidos e quase-discretos de Hermione observando-a com cara de poucos amigos. Odiou-se.

 - Ok. Já entendi, eu realmente não sou bem vinda para a senhorita-sabe-tudo – ela murmurou alto o suficiente para a outra escutar a sentencia.

 A sonserina se levantou e Hermione a observou abertamente. Pansy a olhou. Seus olhos se encontraram e a morena viu todo o ódio que a castanha tinha dela. Sorriu levemente, mas continuou sua ação de colocar a jaqueta. Também, que mais dava? Ela não passava de uma sangue-ruim metida a sabichona. Maldita hora que decidira tomar tantas doses de whisky de fogo.

 Ela abriu a bolsa, pegando o dinheiro, ainda sentindo os olhos da outra queimando na sua fronte.

 - Por que, Parkinson?

 Pansy buscou os olhos da outra, tentando descobrir sobre o que exatamente ela perguntava e viu, mais claro que água: Hermione perguntava por que Parkinson tentara entregar Harry Potter ao Lorde das Trevas.

 Parkinson jogou a franja para trás, seus cabelos negros e curtos caindo de maneira suave, ajeitando-se sozinhos. Tomou ar com tranqüilidade.

 - Você nunca entenderia, Granger – disse simples, sua voz ainda saindo mais alta que o normal, seus três whiskys de fogo  fazendo um efeito estranho, suas pálpebras pesadas.

 - Eu nunca participaria da Causa, Parkinson – respondeu dura e Pansy riu amargamente, seus olhos brilhando estranhamente chamativos.

 - Você tira conclusões rápido demais, Granger – falou, deixando o dinheiro sobre o balcão.

E assim que falou, deu-lhe as costas e saiu pela porta do bar, deixando a grifinória sozinha com seus pensamentos, se dando conta que o dinheiro que a outra deixara pagava a conta das duas. Apanhou as moedas, sentindo-as pesarem na palma de sua mão e correu até a porta, aquela maldita não teria o gosto de lhe pagar nada, não necessitava do dinheiro dela.

- Parkinson! – chamou, mas a morena já se esfumava, desaparatando para próximo dos portões de Hogwarts.

Hermione seguiu ali, olhando o lugar onde a outra desaparecera, sentindo o negro da noite engoli-la com dúvidas e raiva.

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