Capítulo 15

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Vira-Tempo

A porta de madeira branca do quarto se abriu e a doutora se endireitou na poltrona que havia estado sentada há horas. Havia adormecido em algum momento, segurando os dedos magros da paciente, a cabeça apoiada no colchão a frente. Ela espreguiçou tranquilamente, depois de certificar-se de quem era o visitante.

- Passou a noite aqui?

- Sim – murmurou, dando de ombros e recebendo o café que ele lhe ofereceu.

- Ela vai melhorar – o homem murmurou, apoiando-se no móvel branco – Olhe como dorme, tranqüila, em paz, parece até feliz como não estava há anos.

- Ela não se lembra de nada, Potter, como pode estar feliz?

Ele riu abafado, encarando a médica, observando o rosto dela, que não havia mudado muito, apenas algumas imperfeições e novas rugas de expressão, tal como ele, mas que agora tinha entradas nas testas como seu marido.

- Draco me contou sua idéia. Me parece genial, fazê-la lembrar dessa maneira.

- Não se iluda, Potter, não ache que ela vai se lembrar assim, tão facilmente.

O moreno se aproximou dela, sentando-se na beirada da cama da melhor amiga, adormecida. Observou a mulher, relembrando como ela era quando jovem, toda aquela alegria, todo aquele perfeccionismo, a alegria e a mania de estudar todo o tempo. Os segredos dela, que ocultara de Ron durante tanto tempo, o sorriso envergonhado.

- Acho que você passa tempo demais com o Blaise, pegou a mania dele de que é melhor ser pessimista agora do que sofrer depois – ela riu abafado, observando a ambos na sua frente – É uma boa maneira de não se iludir, mas ela vai lembrar, ela vai ficar boa. Precisamos apenas saber qual foi o estopim, Pansy.

- Ele continua sem querer falar comigo?

- Sim. Diz que enquanto você for a médica dela ele não dirá nada.

Harry bufou, passeando os dedos nos cabeços alvoroçados da amiga que continuava adormecida. Se Ron dissesse algo, qualquer coisa que ajudasse... Mas não, ele não havia dado nem um mísero motivo para o desmaio inicial, nem antes durante as outras entrevistas com os médicos anteriores. A doutora Parkinson era a última esperança deles e Harry, conhecendo bem a sonserina, sabia que ela moveria montanhas para curar Hermione.

- Se ele fez algo pelo que sentir-se culpável, será difícil que confesse. Ron não gosta de assumir a culpa quando faz algo.

A doutora levantou, precisava ir a casa, tomar um longo banho, pensar bem. Reler todas as cartas de Hermione, pensar na história delas e decidir como faria Ronald Weasley cuspir toda a verdade. Passou a mão nos cabelos, aproximando-se e acariciando o rosto da outra mulher, ainda presa num sono profundo.

- Potter – murmurou – Se o Weasley lhe tiver causado isso – ela o olhou nos olhos – Ele será um homem morto.

E então ela andou com firmeza porta a fora do quarto do hospital, deixando Harry ver os olhos marejados dela por apenas um instante. Era bom vê-la assim, fazia com que ele sentisse que a solução do caso de Hermione estava cada vez mais perto.

- Você vai se lembrar, Hermione, porque ainda a ama.

*

Estava atrasada. Estava se arrumando já fazia algum tempo, não que Hermione ligasse muito para isso, mas estranhamente tinha aquele pequeno problema feminino de indecisão. Havia mudado de roupa três vezes, coisa que era extremamente fora do seu comportamento normal, havia passado rímel e um batonzinho cor de boca. Era simples, mas para ela já era muito.

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