ENTRE O DESEJO E O PRAZER
Como já vimos, tornar-se pessoa é estabelecer o equilíbrio entre os dois pilares: disposição de si e disponibilidade para o outro. Uma pessoa estabelecida nesta harmoniosa construção tem mais facilidade de lidar com sua
vida afetiva, com seus conflitos e com suas conquistas.
Sempre que falamos de vida afetiva, de alguma forma esbarramos em dois conceitos fundamentais: desejo e prazer. Esses dois conceitos fazem parte da vida humana, e o tempo todo estão perpassando nossas condutas, escolhas e atitudes. Somos movidos pelos desejos e pelos prazeres.
Fundamentado como pessoa, torna-se mais fácil viver a dinâmica
do prazer sem dele tornar-se escravo, e ao mesmo tempo saber descobrir o desejo como elemento vital que traz duração às relações humanas estabelecidas.
Essa reflexão é importante uma vez que um dos grandes limites encontrados nas pessoas é a busca desenfreada do prazer, seguida pelo desconhecimento da força que há no desejo.
Quanto maior é a fragilidade de uma pessoa, maior é a facilidade que ela terá de entregar-se ao mundo do prazer, que naturalmente nega qualquer forma de sacrifício. Incapacitada de viver os limites próprios de qualquer
processo de escolha e os sofrimentos que dele provêm, a pessoa passa a interpretar a vida de maneira ingénua e simplista. Já na perspectiva do desejo, a vida é mais real. Há sempre o espaço para o sacrifício, a luta, o desafio.
Por isso, faremos agora uma distinção que é de suma importância neste momento de nossa reflexão: desejo e prazer.
Há uma diferença fundamental a ser observada. Desejo não é o mesmo que prazer. Quando não diferenciamos essas duas realidades, incorremos no erro de estabelecer relações objetais, isto é, tratar o outro como um objeto do nosso prazer. A busca pelo prazer pode nos cegar para a dignidade do outro e conseqúentemente acorrentá-lo nos cativeiros de nosso egoísmo.
Quando vivemos na esfera do desejo, isso se torna muito diferente, pois o desejo é bem mais profundo que o prazer. O desejo parece atuar em nossas motivações mais consistentes, e, assim, naturalmente tendemos a
descobrir os sacrifícios e as limitações como processo natural para o crescimento que necessitamos.
Vejamos.