Neófito

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   Gregory Spen era um cara muito determinado. Quando ele colocava uma idéia na cabeça, dificilmente desistia dela.

    Naquela manhã, ele ia ter o encontro que mudaria a sua vida, assim como mudou a de seu irmão, Dylan, e a de seu melhor amigo Matthew. Não era uma entrevista de emprego, nem tampouco um teste para a faculdade, ele iria em direção ao poder que tinha direito, e corria por suas veias como um antídoto mágico.

    O garoto não devia saber quase nada sobre os Solarus, mas ele era esperto e persuasivo, a ponto de manipular as duas pessoas mais importantes da sua vida, em busca de informações. Ele descobriu tudo: quem eram, onde se encontravam secretamente, quais os costumes que seguiam — tão antigos quanto o próprio sol — e, principalmente, as fraquezas. Ele nunca entraria em nada que não soubesse exatamente aonde o levaria. E só havia um lugar onde ele gostaria de estar: no topo.

    Gregory caminhou pelos corredores da escola com passos lentos. Fazia dois anos que não a frequentava mais. Saíra de lá com tantos méritos que era impossível não olhar para ele e lembrar de todas as suas conquistas ali. Era um lugar que ele adorava, porque o adoravam de volta, dez vezes mais.

     Não havia pressa para chegar. Ele estava quase uma hora adiantado, talvez chegasse antes mesmo do babaca arrogante que daria sua passagem ao mundo da magia. Então ele ouviu os passos da garota, e se escondeu detrás da parede, ocultando-se nas sombras. O que ela fazia ali?

    A garota tinha os cabelos ruivos longos e repicados, e um péssimo senso de moda, se vestindo de uma maneira tão horrível que o fez se sentir ofendido apenas de olhar. Gregory sempre prezava pela elegância, acima até mesmo da beleza ou da educação.

    Ela olhou para todos os lados em busca de alguém, e seu olhar passou direto por Gregory sem percebê-lo. Vestido como estava, e com o tom escuro da sua pele, a escuridão parecia absorvê-lo. Ele não a culpou por não tê-lo visto.

     Assim que se assegurou de que estava sozinha, afastou uma cortina na parede — para o mérito de quem a colocara ali, nem mesmo Gregory havia percebido a sua existência ali, anos antes — e bateu três vezes, revelando uma porta secreta que, com certeza, não estava ali antes.

    A porta se abriu por alguns segundos, e a garota foi engolida pelo breu, sendo selada lá dentro, sem nada mais para provar que aquilo acontecera mesmo.

    Nada faria Gregory sair dali, agora que conhecia o segredo da porta. O que havia por trás dela? Será que haveria monstros ou demônios lá embaixo? Ele não era tão idiota a ponto de abrir a porta sem saber o que encontraria depois, sozinho e sem nenhuma informação.

    Sem que ele percebesse, vários minutos se passaram, e não houve mais nenhum movimento na porta. Podia não ser uma entrada única, e a garota poderia nem estar mais viva, pelo que ele sabia.

    Cerca de meia-hora depois, algo finalmente mudou. As sombras já começavam a ser substituídas pela luz do sol. Gregory sobressaltou-se. Esquecera completamente o seu compromisso com o Solarus. Por sorte, estava adiantado, podendo chegar lá sem tanta pressa. Gregory se virou para ir embora, e…

    O vermelho tomou a sua visão, e ele a viu. Pela baixa estatura e fluidez nos movimentos, se tratava de uma garota, vestida com uma capa vermelha que a cobria da cabeça aos pés.

     Ela andou de forma graciosa até a parede, e passou a mão pela pedra, sentindo os tijolos sob os dedos. Ao contrário da outra, ela não bateu na porta com os nós dos dedos, mas fez uma manobra muito mais complexa, que Gregory não chegou nem perto de advinhar o que era. Ela abriu as mãos e, sem tocar na parede, fez com que os tijolos sofressem um impacto estrondoso e nada discreto.

   Então, para o completo espanto dele, ela se virou para onde ele estava, e o encarou diretamente. O olhar afiado dizendo que o conhecia bem mais do que ele esperava. O sorriso estranho que ela lhe deu depois, povoaria os pensamentos do garoto por um longo tempo…

    Assim que perdeu a garota de vista, Gregory correu para a sala onde era esperado, e se deteve na porta. Tentou acalmar os batimentos cardíacos e a respiração. Não faria bem algum parecer afobado em um momento como aquele.

     Ele deu um passo para dentro do laboratório, e constatou que ele estava vazio, como se ninguém tivesse estado ali. Gregory nunca se enganaria com relação ao horário, e sabia que os Solarus eram muito rígidos com relação aos próprios compromissos. Não havia nada mais ali para ele.

     Em um rompante de raiva, ele deu um soco na porta, tão forte que seu sangue escorreu pela madeira. Ele tinha perdido a oportunidade da sua vida por causa daquelas malditas garotas. Isso não seria perdoado!

     Um brilho dourado no chão chamou a atenção de Gregory, e ele foi até lá. Um pingente de ouro em formato de sol estava caído no chão, confirmando a presença do Solarus.

    Gregory fechou a mão ainda cortada sobre o pingente.
Agora era uma questão de honra. Ele descobriria quem eram aquelas garotas… e acabaria com elas, uma a uma. As destruiria da mesma forma que fizeram com ele.

    Se não podia mais se tornar um Solarus, se tornaria algo ainda melhor.

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