Escudos

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Uma barreira de luz vermelha se ergueu do chão, separando Trish do monstro. Ele bateu nela como se fosse um vidro espesso, e voltou a atacar.

Trish parou. Estava tão tonta, e com as pernas fracas que achava que desmaiaria a qualquer momento.

A garota não sabia de onde surgira o escudo que impedia a criatura de pular em seu pescoço, mas não podia se dar ao luxo de ver até quanto tempo ela suportaria. Ela tomou impulso e correu, sem olhar para trás, com o último arroubo de energia que tinha.

Uma barreira de carne surgiu em seu caminho tão rápido que ela não conseguiu frear antes de colidir com ela.

O rapaz, que parecera ter se materializado ali, colocou a mão no ombro de Trish, segurando-a no lugar com um aperto firme.

Ela virou a cabeça e olhou diretamente para o rosto dele, completamente envolto pelas sombras. Uma corrente grossa de aço negro estava envolta em seu braço como uma pulseira.

Como ele tinha ido parar ali? Ela queria perguntar, mas a boca estava seca, e suas palavras sumiam assim que passavam pela mente.

Os olhos do jovem eram de uma cor dourada faíscante e intensa, como se possuísse uma luminária dentro da íris.

A pouca esperança de Trish morreu. Ela tinha ido parar na mão da um maldito Solarus. E ele com certeza sabia o que ela era.

Não havia como escapar sem lutar. Trish sabia disso. Preparou o seu melhor golpe com a perna e mirou no meio das pernas dele.

Antes que a pancada o acertasse, ele desviou o corpo para o lado, e pegou o pulso dela, torcendo de uma forma que ela teve que se curvar para que o osso não quebrasse. Ele dobrou o braço dela, virando de costas para ele. A dor lacinante a fez gritar.

Ela sentiu o hálito quente do rapaz fazer cócegas em seu ouvido.

— Você não devia tentar me atacar já que fui eu quem a salvou — ele disse, com a voz baixa e urgente — essa é uma forma muito feio de agradecer.

— Você não me salvou — ela cuspiu. O aperto dele em sua mão não diminiu — Você é a porra de um Solarus. Vocês não salvam ninguém, seu infeliz.

— Além de mal-educada ainda é difamadora. Não sei se gosto disso.

O rapaz virou a mão de Trish em um ângulo extremamente doloroso. Ela gemeu.

— Me solte, seu desgraçado.

— Não planejo segurá-la por muito tempo. Só até você me prometer que não vai me atacar. Você tem palavra, bruxa?

— Muito mais do que você.

Ele riu, uma risada um tanto estrangulada.

Como ela tinha ido parar em uma situação daquelas? O que um Solarus fazia ali? Suzan parecera intimidada enquanto fazia aquele ritual macabro, será que um deles a havia ameaçado para fazer aquilo?

— Você está vendo aquela besta? — ele perguntou, fazendo-a olhar para o cachorro demoníaco que se lançava contra a parede avermelhada com uma fúria assassina.

Trish não respondeu. Era óbvio que ele estava provocando-a.

— Aquilo mataria você e eu em um piscar de olhos. Então, teremos um minuto ou dois, no máximo, para agir, antes que a gente ganhe uma passagem só de ida para o inferno. Você está me entendendo?

— Eu estava me virando muito bem antes de você aparecer no meu caminho e torcer o meu braço, seu babaca — ela respondeu, juntando toda a frustração que estava sentindo em um único ataque.

O rapaz soltou a mão de Trish com um impulso, lançando-a para frente, longe de qualquer possível ataque físico. É claro que ela poderia atacá-lo com magia quando quisesse.

Mesmo estando esgotada e dolorida pela corrida e pela tentativa de defesa, Trish levantou a mão e preparou um feitiço.

— Não temos tempo pra isso bruxa — O rapaz falou, como se estivesse esperando exatamente por aquilo.  O dourado dos olhos dele estava perdendo o brilho e escurecendo muito rapidamente, e Trish não sabia se aquilo era algo bom ou ruim.

   — Você tem duas opções: corre o mais rápido possível para salvar a sua vidinha miserável, e… AI! — ele parou o que estava dizendo e fez uma careta como se tivesse sentido uma dor súbita. — E nós dois morremos , além de várias outras pessoas. Ou você me ajuda a prender a criatura enquanto é tempo e todo mundo vive.

— Você só pode estar brinc…

O Solarus apontou para o escudo que impedia a fera desvairada de passar.

A barreira estava se apagando tão rapidamente quanto os olhos do rapaz, e a julgar pela expressão de dor que ele fizera, sua energia estava se drenando muito rapidamente.

— Certo. O que faremos?

Ele balançou a cabeça, passando a língua pelos lábios, que começavam a rachar.

— Forme um escudo de proteção em volta de mim pelo tempo que você conseguir, até que eu consiga prendê-lo com essa corrente — ele levantou o braço, desenrolando a manilha escura. — Se você simplesmente me abandonar lá para morrer, você morre também. Entendeu?

Nem tinha passado pela mente de Trish abandonar o Solarus á própria sorte. Embora fossem inimigos declarados, ele era um ser humano, acima de tudo. Ela não era tão maldosa a ponto de sacrificar uma vida para se salvar.

— Isso não vai dar certo… — Trish murmurou para si mesma. Mas fechou os olhos e, caçando as últimas forças que tinha, fez um círculo de luz azul em volta do garoto Solarus.

Era a primeira vez que trabalhava em conjunto com o inimigo.

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