CAPÍTULO SEGUNDO

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Dobramento

Começaram aos poucos, muitos múrmuros pelas ruas, falando baixo, como se estivessem contando segredos. Meu pai passou a ir muito mais tarde para casa e mamãe dizia que era porque a crise piorou. O último dia de calmaria começou comigo, minha irmã Soror e Codrim, filho da nossa nova amiga, indo buscar frutas montados na prigritia. A prigritia é uma grande preguiça, são animais muito inteligentes que nos ajudam quase que por vontade própria. É claro que ela se interessava mesmo era na comida, mas mesmo assim, era como uma irmã. Existem poucas hoje em dia, eu nunca tinha visto outra além da minha, até esse dia. Seus passos foram diminuindo, parando aos poucos e nos jogou ao chão, deitou e começou a grunhir, tentamos ajudar sem saber o que estava acontecendo. Até descobrirmos que prigritia estava dando a luz, isso mesmo, ela estava grávida. Foi quase uma hora para os dois bebês nascerem, eram tão pequenos e fofos, nesse momento notei que nunca havia dado um nome à prigritia, Codrim e Soror deram nomes aos bebês, Lápis e Lazuli, plantas coloridas que cercam a domum. As duas novas prigritias que serviriam de grande ajuda para as pessoas da domum encontraram suas casas rapidinho, a Lazuli ficou com a família do Codrim e a Lápis com um vizinho nosso.

No mesmo dia, minha mãe e eu dormimos preocupadas, papai não voltou pra casa. Acordei assustada quando o sol ainda estava se pondo. Um amigo do papai, Stfean entrou com pressa na nossa casa e falou para nos arrumarmos e segui-lo o mais rápido possível. A domum estava sendo atacada. Pegamos poucas coisas e saímos, Stfean não parava de falar coisas que eu não entendia. Perguntei várias vezes onde o papai estava mas ele não dava atenção. Dêmos uma volta gigante na cidade para chegar atrás da morada do Papa, depois de grandes escadarias de pedra. Eu caí duas vezes com a correria das outras pessoas que pareciam desesperadas. Estávamos em uma espécie de estádio gigante, de início parecia uma caverna mas ele era na verdade coberto por um tecido, dava pra ver os raios do sol passando pelos buraquinhos. Todos os moradores da domum estavam ali, agora mais calmos. Conversavam sobre o que estava acontecendo e o pouco que eu ouvia eram termos desconhecidos para mim, algo sobre o Papa e povos de outro domum. O Stfean sumiu assim que entramos, mas os outros amigos do papai disseram que ele estava no domum ainda, comandando os jovens para irem até a caverna de tecido.

O dia se resumiu em ver pessoas chegando, acomodando-se e resmungando palavras feias sobre o Papa. Uma das famílias que se alojou ali trouxe uma pequena casa de pano, cabiam os pais, a filha e o animalzinho, pequeno e fofo. Tinham roupas limpas e bonitas, a pequena bola de pelo era toda lisa, com um círculo rosa no pescoço. Eles eram borúgos, pessoas que vivem no alto da montanha, trabalham com algo relacionado com outras domum's. Era aniversário da garotinha, ela olhou pra mim por um segundo enquanto parecia cuspir no doce que trouxeram a ela, todos bateram palmas, o que me faz pensar que é um costume cuspir no presentes.

Papai finalmente chegou, com a cabeça escorrendo água, estava cansado. Ele abraçou a mamãe com o lado esquerdo do corpo pra não molhar ela, enquanto olhava pra mim, fiquei em pé e perguntei o que estava acontecendo, ele titubeou e disse:

- Um monte de animais estranhos pularam o cercado, atacaram alguns fazendeiros e não temos forças pra fazê-los recuarem. – Papai colocou a mão na cabeça da Soror e continuou - Vamos treinar os jovens para irem ao campo impedir que os bichos cheguem na cidade, mas isso pode levar alguns dias, portanto não é seguro ficar por lá.

- Tudo isso por animais? – Questionei incrédula.

Rezingou enquanto olhava pra mim:

- É. Vou levar a Sô – É assim que ele chama a Soror – para o treinamento.

Interrompi:

– O que? Ela não pode treinar essas coisas, ela só tem 11 anos e é menina, como vai aprender a lutar?

ASINUS PRIMAOnde histórias criam vida. Descubra agora