CAPÍTULO SEXTO

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Tímido Lar

Os sois compunham a majestosa paisagem, plana e seca, um mar dourado de vegetação contrastando o céu limpo, distorcido por rápidas linhas azuis das borboletas desenhando abstratos no azul, tomando lugar das nuvens. Era lindo. Esse trajeto até a casa era grande, mas passou tão rápido, com nossas esperanças abrindo caminho pelo gramado, de longe pudera se ver, a mais rápida prigritia atravessando o campo. Nós conseguimos.

Prigrita parou deslizando pelo chão de terra escura, em frente à casa. Paredes feitas com madeiras claras e tecido dourado no telhado, janelas de sementes e um riacho, tão azul como o céu, gritava perante nossos olhos sorridentes. Enquanto descia da prigritia, pensei um pouco em como abordar os moradores, afinal, poderia ser perigoso. Antes que eu pudesse chegar a uma ideia, Codrim pulou para o chão e correu em direção a porta, eu o alarmei:

- Espera Codrim! Pode ser perigoso.

Ele bateu à porta, sua animação explodia pelo corpo, friccionando suas pernas e com um sorriso que até de costas dava pra ver. Desci rápido, meus pés afundaram levemente na terra, era úmida e macia, quase como areia dentro da água. Segurei a mão da Soror, que desceu devagar, com um pouco de medo, o que sumiu no instante que tocou o chão fofo. Cheguei a frente de Codrim, prigritia se pôs ao nosso lado, esperando a porta se abrir.

Sons de passos dentro da casa, uma voz distorcida pelas paredes, afastei as crianças para trás de mim, enquanto a porta se abria lentamente. Uma fresta, um rosto. Era uma mulher com o rosto bem escuro, pintas brancas logo abaixo do olho azul e amarelo, tranças uniformes por entre seu pescoço e uma vestimenta muito diferente, um tecido furado, em formato de flores e plantas, com detalhes absurdos. Ela se surpreendeu ao me ver, com um certo medo, passou os olhos por mim e os desceu até as crianças, que se escondiam atrás de mim, arqueou as sobrancelhas e abaixou os ombros, então falei:

- Olá senhora, meu nome é Asinus, nós estamos viajando há dezenas de dias, procurando por outras pessoas ou uma domum. Estamos quase sem comida e... – Tentei achar algo mais pra dizer, enquanto ela olhava para minha boca, arregalando os olhos.

Apenas fitei a mulher enquanto ela olhava a situação toda, parecia estar avaliando o que fazer. Enquanto eu pressionava os dentes, aflita, uma voz ao fundo disse algo que não entendi.

A mulher então falou:

- - Não consegui entender as palavras.

- O que? – Perguntei assustada, virando a cabeça para tentar ouvir.

Ela voltou a falar, mais alto dessa vez. Palavras confusas e ditas erradas, completamente aleatórias.

Minha respiração ficou mais pesada e rápida, o que ela estava dizendo?

Um homem abriu totalmente a porta, olhou-nos e começou a falar palavras estranhas também, virando para a mulher e depois pra gente, como se perguntasse alguma coisa. Levei a cabeça mais à frente, confusa. Eram como bebês tentando falar, perguntei-me se eles não sabiam falar.

O homem usava roupas diferentes, um apoio nos ombros, tecido mais grosso e sem flores. Tinha um cinto com coisas penduradas, não sei bem o que eram, pareciam penas grossas. Seu cabelo era mais vermelho, parecido com o meu e da Soror. Também tinha pele escura e pintas brancas no rosto, mas nele, eram em cima das sobrancelhas, não em baixo. Seu porte era diferente da maior parte dos homens da nossa Domum, ele era mais forte, maior.

As crianças estavam assustadas. Movi a mão até perto da boca, como se estivesse comendo.

- Comida. C-o-m-i-d-a.

ASINUS PRIMAOnde histórias criam vida. Descubra agora