Hoje seria aniversário do meu pai, se ele ainda estivesse aqui, iriamos comemorar em uma lanchonete que ficava na esquina de casa, como sempre fazíamos, nos dois ficávamos lá até tarde fazendo competições para ver quem de nós comia mais hambúrguer, ele sempre ganhava.
Me arrasto para fora da cama, na tentativa de afastar esses pensamentos que insistem em ficar. Entro no banheiro e encaro meu reflexo meio abatido, meus olhos estão um pouco vermelhos e há olheiras em excesso. Entro na banheira, tomando um banho rápido. Saio do banheiro vestindo uma calça jeans e uma blusinha branca justa, calço meus tênis e tento o máximo possível fazer uma maquiagem que esconda as olheiras, mas eu falho e acabo piorando a situação.
Peço um táxi e desço até a portaria do prédio, cumprimentando o porteiro e me sentando em um banco qualquer, enquanto espero pelo táxi que não demora muito a chegar. No caminho de casa até a empresa, minha mãe me liga, mas eu ignora a chamada, ela costuma me ligar sempre no aniversário do meu pai, mas eu sempre ignoro, a última vez que eu atendi, a conversa não terminou muito bem, eu entendo que ela sofre com isso, mas hoje ela é casada com outro, ele é um cara legal, e eu fico feliz que ela tenha superado a morte do meu pai, porque eu sinceramente não superei, e nem sei se vou conseguir superar.
O táxi para em frente a empresa e eu desço, entregando o dinheiro para o moço, eu diria que acordei meio indisposta hoje, meu corpo todo doía e meus olhos ardiam um pouco, cumprimentei algumas faxineiras por quem passei e entrei no elevador, mas antes das portas se fecharem, o infeliz do meu chefe entrou correndo, e apertou o botão do último andar. Durante o caminho todo fomos em silêncio e assim que o elevador chegou ele saiu parecendo querer voar de lá de dentro, não entendi muito bem mas não me importei.
Caminhei até minha mesa e comecei a trabalhar, havia mais algumas coisas que eu deveria imprimir, organizar a agenda do "demônio" e ainda marcar algumas reuniões, mas eu simplesmente não conseguia fazer tudo isso, a única coisa que eu conseguia pensar era no meu pai e de como tudo isso ainda me afetava de uma forma devastante. Acho que a pior coisa, foi ouvir Carla, a recepcionista da empresa dar feliz aniversário para o seu pai, e prometer que passaria na casa dele mais tarde para comemorarem.
Não era inveja, mas isso me deixava péssima, eu sentia falta de tudo isso. Me levantei da cadeira e segui até a sala do meu chefe dando três batidas e esperando uma ordem positiva para poder entrar, assim que a ouvi, respirei fundo e abri a porta, ele estava sentado, na mesma cadeira de sempre, com a mesma carranca de sempre, escrevendo qualquer coisa em alguns papeis
-Sr. Mendes, eu não estou me sentindo muito bem, será que eu poderia ir embora? Eu posso adiantar o meu trabalho em casa e amanhã trago tudo pronto
-O que você tem? Ele perguntou sem ao menos olhar no meu rosto, e continuou escrevendo no papel
-É... problemas familiares, e.... Gaguejei
-Eu não me importo! Disse seco -Problemas familiares não devem serem trazidos para o trabalho. Ele disse ainda sem olhar para mim, como alguém consegue ser tão frio? Respirei fundo tentando conter algumas lágrimas que insistiam em se formar. Ele finalmente me encarou, dessa vez com ódio, mas sua face suavizou assim que seus olhos se encontraram com os meus, ele juntou as sobrancelhas em confusão e suspirou
-Tudo bem! Vá para casa e amanhã eu quero tudo pronto aqui, na minha mesa! Ele relaxou o corpo na cadeira, me encarando
-Obrigada! Falei com a voz trêmula e sai da sala
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Negócios, propostas e amor
Dla nastolatkówLidya uma jovem brasileira de 20 anos que se muda para Toronto atrás de uma vida nova depois de uma fatalidade em sua família, quando finalmente consegue um emprego de secretaria na "Mende's acess" que é uma das empresas mais renomadas e disputadas...