Até aonde ?

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Até aonde você é capaz de ir para conseguir salvar alguém que ama ?

– Desculpas mais não aceitamos mães solteiras. - Disse uma mulher morena, com os olhinhos caidos. Com um ar frio, sem piedade alguma, enquanto encarava uma porção de papelada a sua frente.

– Mas o que ser mãe solteira tem haver com a vaga de emprego ? Eu tenho experiência, tenho especializações e eu lhe asseguro que darei tudo de mim, me doarei para o trabalho, assim como todas as outras mulheres que trabalham nessa empresa... - Senhorita Castelli tentava argumentar.

– Não insista, já falei para ti sobre a minha posição, aqui não vamos contratar uma mulher solteira e com filho, e aposto que nenhuma outra construtora fará isso, nenhuma empresa que tem um nome a zelar cometeria uma loucura como essa - Ana  a encarava com raiva.

– Você é mulher, deveria entender isso melhor que qualquer outra pessoa.

– É exatamente por isso que não contrato mulheres para a minha empresa, principalmente as que são mães, com certeza vai dar algum trabalho no futuro, faltar por conta do filho doente, ir em apresentações de escola, e tantas outras coisas, não tenho paciência para isso.

– E se fosse um pai, um homem solteiro que tivesse um filho ? - Vitoria se levanta muito irritada.

– Olha Senhora, o regulamento da minha empresa não está em discussão, por isso eu peço que se retire, se a senhora não fizer por bem, então eu mesmo a obrigarei, saia daqui agora. - Ela apontou para a porta de saída.

Castelli pega o seu currículo, coloca novamente dentro da pasta, e encara aquela mulher na mesa, ao mesmo tempo que parecia vazia e vulnerável, também possuía um olhar de quem ama o mundo, mas se esconde nas marcas de um passado sombrio. Ela era linda.

" Como pode alguém negar um emprego simplesmente por ser uma mãe solteira ? Minha faculdade, especializações nada vale diante de uma empresa e tudo por quê ? Porque tenho um filho ? "

Vitoria saiu chorando da empresa, já era a quinta empresa que tentava e não conseguia nada. Kauã era uma criança linda tinha 5 anos e fazia exatamente 1 ano que havia perdido seu pai e desde então Vitoria ia atrás de emprego. Conseguiu um emprego temporario em uma empresa que logo depois faliu.

Dentro do táxi voltando para casa, seu telefone toca.

– Alô, Dra Amélia ? - enxugava as lagrimas.

– Senhorita Castelli, tenho ótimas noticias para você. - A doutora falava com uma voz animada.

– O que aconteceu doutora ?

– Encontramos um doador para o Kauã. - ela disse contente.

– Isso é perfeito !! - Eu chorava ainda mais de felicidade. – Mais me diz ele é daqui de são paulo ? Quem é ele ?

– É melhor que você venha amanhã para meu consultorio assim poderemos conversar melhor.

- Tudo bem doutora Amélia, amanhã eu passarei aí.

Após alguns minutos cheguei em casa, abri a porta e guardei algumas bolsas, meu coração aflito só pensava em abraçar meu filho. Eu tinha uma pontinha de esperança.

— Como ele está ? - perguntei a dona Dora que tomava conta de kauã na minha ausência.

– Continua com febre desde a hora que a senhora saiu, nada dela abaixar.

Senti um aperto no peito. Ele era minha vida. Me agachei do seu lado, comecei a acariciar seu cabelo. E quando percebi já estava chorando. Chorando sem parar. Era medo. Cansaço. Mas ainda sim eu tinha uma esperança.

– Meu filho, resista, resista a mais essa noite. Eu te prometo que esse pesadelo vai acabar. Eu prometo. - segurei suas mãozinhas tão lindas e delicadas. Kauã continuava imovel. Com o olhar perdido.

A campanhia toca.

- Boa noite, a senhorita Vitoria chegou ? - perguntou uma moça de cabelos cacheados.

- Sim está no quarto com o menino. Ele não está muito bem.

- Ele piorou ? - ela que segurava um embrulho deixou em cima do sofá e correu para o quarto.

– Julia, quando esse pesadelo vai acabar ? Quando ? - me joguei em seus braços.

– Calma solzinho Calma. - eu a abraço enquanto ela olhava kauã deitado em sua cama.

(.....)

– E ai amiga como foi na empresa ?

Julia e Vitoria bebiam um chá.

– O de sempre, você sabe o que é né.

– Meu Deus que pessoas sem coração.

– Me sinto como uma pessoa com uma doença contagiosa sabe ? Eles nem se quer lêem meu curriculo. Não valorizam o quanto eu estudei. Nem minhas experiências. -  comecei a chorar de novo.

– Ai sol... eu tenho uma idéia para você. A fundação Hala, vai abrir um concurso para um projeto em Fortaleza. Porque você não tenta ? Muitas vezes esses concursos abrem portas.

– Você acha que consigo... digo... ganhar alguma coisa.

– Mesmo que você não ganhe, talvez alguem veja seu talento na arquitetura e se encante e te contrate.

– Ta bem. Eu vou tentar. Não tenho nada a perder mesmo.

– É assim que se fala. - Julia parecia uma pouco mais animada. - Aliás amanhã não poderei está aqui com você.

– Por quê ?

– Porque irei pro Rio. Um projeto da Binyapi. Preciso ver como estão as obras.

– Isso é muito bom amiga.

– Senhorita Vitoria Castelli Fernandes. Eu sinto que sua vida vai mudar em breve. - apertei sua mão como uma forma de apoio.

– Obrigada por isso Julia. - sorri. – Aliás esqueci de te contar, a doutora Amelia encontrou um doador para o Kauãn. ‐ sorri pela primeira vez.

– Ta vendo só, isso que é noticia boa. Vai dar tudo certo. E para começar venha aqui. - Ju me puxa para um abraço.

(...)

– Amigo não confie nas mulheres, ria das suas promessas.

– Vem cá, você não vai mudar esse seu discurso nunca né, senhorita Kannenberg.

– Meu amigo quem não muda nunca são as mulheres. São traiçoeiras, infiéis, se eu fosse você não confiaria em nenhuma.

– A claro, porque agora eu to aqui bebendo com um homem né ? - soltei uma gargalhada. – Me poupe Ana . Se todo mundo pensasse como você. Não seriamos hoje melhores amigos e a humanidade entraria em extinção. -Thomas sorriu, enquanto saboreava seu whisky.

– Ah, e você acha que estou mentindo ? Então olhe para os exemplos clássicos e reais na biblía, tem muitos exemplos. Vou te dar dois deles. Adão foi traido por Eva, depois sansão foi traído por Dalila e nas mil e uma noite Sahzeria foi traido por sua esposa.

– Ana coloca na sua cabeça, nem todo mundo é assim.

– Pra mim são meu amigo. Eu nunca mais confio em mulher nenhuma. E não vou confiar jamais.

– Que pena que sua mãe não vai ter netos, o lado bom disso tudo que meus filhos ficarão com a sua parte.












Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora