i: new romantics

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"Heartbreak is the national anthem

We sing it proudly"


A pilha de louça suja ainda estava na pia quando eu cheguei em casa após mais um dia interminável de trabalho.

Deixei escapar um suspiro.

– Eu já vou lavar! – gritou Dorcas, de dentro do apartamento.

– Você disse isso ontem – respondi.

A cabeça da minha colega de quarto despontou no corredor.

– Mas hoje é verdade! – ela disse, sorrindo.

Revirei os olhos, pendurando a minha jaqueta em um dos ganchos perto da porta.

– Dorcas, você não pode continuar fazendo isso – eu disse. – Você prometeu que ia começar a ser mais responsável.

Dorcas franziu o nariz.

– Eu sei, mamãe – ela respondeu. – Mas minha avó me ligou, hoje. Eu tive que passar o dia todo com ela, escolhendo os mil presentes de aniversário dos meus irmãos.

Dei uma risada.

A avó de Dorcas era uma das mulheres mais ricas de Manhattan. Chegava a ser ridícula a quantidade de dinheiro que Cecilia Meadowes gastava por semana – até mesmo os seus gatos tinham as unhas feitas. No entanto, era graças à generosidade de Cecilia que eu e Dorcas conseguíamos dividir o apartamento na 19th St.

Durante os anos finais na universidade, nós duas conseguimos abandonar a vida dos dormitórios sem precisar nos preocuparmos com os preços exorbitantes de Manhattan, que, mesmo depois de formadas há anos, continuavam sendo muito mais altos do que os nossos bolsos podiam pagar.

– Como está Cecilia? – perguntei.

– Ótima – bufou Dorcas. – A mulher está com quase oitenta anos e ainda consegue andar na Quinta Avenida como se estivesse em um desfile.

Dei uma gargalhada e me joguei no sofá. Dorcas assumiu que isso era minha rendição em relação à briga sobre a louça suja e se jogou na poltrona.

– Você está irritada com ela por não estar cheia de problemas de velhice? – perguntei.

Dorcas riu.

– É claro que não – ela disse. – Mas é pecado secretamente desejar que ela fique em casa tricotando e assando biscoitos?

Revirei os olhos, ainda rindo.

– Você falou com Amos hoje? – ela perguntou

Franzi as sobrancelhas. Eu não aguentava mais Dorcas trazendo aquele assunto à tona todos os dias.

– Não, Dorcas – respondi –, e não vou.

Ela suspirou.

– Lils, ele é o seu noivo – ela começou.

– Era – interrompi. – Eu tenho quase certeza de que me trair com Evelyn anula o noivado.

Dorcas segurou a risada.

– Isso é verdade – ela disse. – Mas você precisa falar isso para ele. O homem não para de mandar cartas para cá.

Dei uma risada.

Amos era uma pessoa extremamente performática. Ele realmente acreditava que iria conseguir mudar as coisas me mandando cartas, só porque no início do nosso relacionamento eu havia lhe dito que era uma grande fã delas.

Kiss Me TwiceOnde histórias criam vida. Descubra agora