ii: state of grace

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"And I never saw you coming,

And I'll never be the same"


A casa vitoriana na Cornelia Street talvez fosse a coisa que meus pais mais amavam no mundo.

Eles consideravam a mudança para aquela casa o início da sua vida juntos, embora tivesse chegado nela com uma Petúnia de dois anos nos braços e um pequeno feto que viria a nascer e crescer sendo conhecida como Lily Evans na barriga de minha mãe. Eles haviam trabalhado, trabalhado e economizado para conseguir comprar a casa dos sonhos deles – que tinha uma cozinha com uma ilha para meu pai e um quarto extra para a biblioteca da minha mãe.

Eu havia nascido naquela casa, mas a minha primeira lembrança dela não eram os meus primeiros passos, minhas primeiras palavras ou os meus desenhos favoritos que passavam na televisão aos domingos. Minha primeira lembrança era do dia em que um grande caminhão de mudança parou em frente à casa ao lado.

Eu observei da janela da cozinha os homens carregando os móveis para dentro. Uma geladeira, um sofá que parecia confortável, uma bicicleta do tamanho da minha, uma cama em formato de foguete.

– Túnia! – exclamei. – Acho que eles têm um filho da nossa idade!

Petúnia, de má vontade, se levantou da mesa, onde fazia um desenho de um castelo com uma princesa e um príncipe, e colou o rosto no vidro, ao lado do meu.

– É um menino, com certeza – ela murmurou. – Que nojo!

Dei risada.

Mamãe havia me explicado que Petúnia já estava virando mocinha. Precocemente, é claro, como tudo que Petúnia fazia. Ao meu ver, nove anos ainda não era idade de virar mocinha. Meu pequeno cérebro de apenas seis anos não conseguia entender como Túnia já conseguia achar o nosso novo vizinho nojento.

– Você nem conhece ele... – murmurei.

– Eu já sou quase uma mulher, Lily. Eu sei das coisas. Quando você for mais velha, você vai entender – ela disse. – Aposto que esse garoto come meleca de nariz, ou coça o bumbum e cheira a mão!

– Eca! – exclamei.

Ela assentiu e voltou a fazer o seu desenho com calma. No entanto, eu continuei observando a mudança, ansiosa pela chegada dos novos moradores da casa ao lado.

Horas mais tarde, quando minha mãe já estava implorando para que eu fosse tomar um banho antes do jantar, eles chegaram.

Um pai alto que poderia ser estrela em um comercial de pasta de dente. Uma mãe elegante, mas que ostentava um sorriso de quem estava realizando seu maior sonho. Um menino da minha idade, vestido com um macacão jeans, que puxava um pastor inglês peludo e desgrenhado pela coleira.

O cachorro puxou a coleira tão forte, provavelmente porque estava morrendo de vontade de fazer xixi, que o menino se desequilibrou e quase caiu.

– Snuffles! – ele exclamou, rindo.

A mãe riu e segurou a mão do menino, o puxando para dentro da casa, enquanto o pai pegava algumas malas no porta-malas do carro.

Minha mãe veio até mim e fez um afago no meu cabelo.

– Se você for tomar banho e se comportar, amanhã de manhã podemos ir dar as boas-vindas a eles – ela disse.

Me virei para ela.

– Você promete? ­– perguntei.

Ela assentiu.

– Podemos fazer uma torta hoje à noite... ­– ela continuou.

Kiss Me TwiceOnde histórias criam vida. Descubra agora