Capítulo VIII
Carver fez um esforço enorme para não ultrapassar o limite de velocidade durante o trajeto que ligava Hunters Hill ao norte de Sidnei. A potência do Audi esporte podia ser facilmente contida, porém, o desejo que corria em seu sangue, inflamado pela resposta imediata de Katie à sua chamada, era algo que lhe escapava ao autocontrole.
Sim... sim...
Sem argumentos, sem acordos, nenhum jogo. Apenas espontaneidade. Como a Katie de outrora, que estava sempre disposta a encontrar-se com ele em qualquer tempo ou local.
Embora, é claro, não fosse mais a mesma coisa. Os sonhos românticos há muito haviam ficado para trás. E não podia desconsiderar a hipótese de ela ter refletido melhor acerca de continuar mantendo um caso com ele, reacendendo um relacionamento que tinha acabado de maneira tão desastrada.
Por outro lado, o sexo na noite daquela terça-feira fora maravilhoso e, desde então, a lembrança dos momentos de êxtase estava enlouquecendo-o. Não vivera nada parecido nos dez anos que ficara sem vê-la. Talvez acontecesse o mesmo em relação a Katie. Se assim fosse, não haveria barreiras no que poderiam proporcionar um ao outro.
Prazer sem limites...
Esses tórridos pensamentos o acompanharam durante todo trajeto. Quando Katie abriu a porta, o corpo de Carver reagiu intensamente ante a visão daquele corpo maravilhoso sob um roupão vermelho, sem nada por baixo. Ao entrar no pequeno apartamento, enlaçou-a quase que de imediato com um movimento preciso, puxando-a de encontro ao peito musculoso. Com um giro rápido de calcanhares fechou a porta atrás deles.
Nenhum cumprimento, nenhuma palavra. Em silêncio, colou os lábios ardentes contra os dela em um beijo quente e insaciável, tornando tudo o mais irrelevante. Era óbvio que ele a desejava, e a urgência do seu desejo encheu Katie de felicidade. Isso significava que pensara nela nos dias em que não se viram, que antecipara em sua mente aquele momento e agora não podia mais esperar.
Com o corpo colado ao dele, Katie percebeu-lhe a excitação pulsante o que lhe provocou sensações intensas que não podia controlar. Sua mente fervilhava com as recordações da paixão que sentiram um pelo outro no passado. Não era diferente agora... o mesmo beijo... os mesmos anseios.
Onde terminaria a atração sexual e começaria o amor? Não se confundiriam em um único sentimento? Um desejo assim seria apenas atração física? Ou a força daquele desejo desenfreado era causada pela ausência de tantas palavras que ficaram perdidas no tempo?
Vá atrás dele...
Sim, pensou ela, invadida por uma agressividade primitiva. Aquele homem era dela e não permitiria que nada ficasse entre eles. Nada!
As mãos delicadas de Katie deslizaram até os botões da camisa de Carver. Assim que os desabotoou, ele livrou-se da peça e, sem afastar os olhos do corpo dela, despiu-lhe o roupão. O desejo que sentiam um pelo outro tornava-se mais evidente a cada segundo. As mãos firmes de Carver, sem demora, começaram a acariciar cada centímetro do corpo feminino, sedento de paixão. Tocando os cachos macios dos cabelos, afagou-lhe a nuca. Carver segurou-a com um braço, enquanto o outro descia pelos quadris, pressionando-a, eliminando toda a distância entre eles. Ela cedia ao desejo urgente, correspondendo com ânsia e loucura aos movimentos sensuais daquele corpo que a arrepiava de prazer.
— Katie... — sussurrou ele.
Seu nome...
Desejava que ele lhe pertencesse de corpo e alma, e quando já estavam próximos à rendição total...
— Não! Espere... — irrompeu ele, afastando-a subitamente. — Não é assim que eu quero.
— Que tal ser como eu quero, Carver? — As palavras foram proferidas com um misto de frustração e desafio.
— Ninguém me domina — disse ele, livrando-se da calça e afastando-se dela, como um guerreiro orgulhoso, exibindo sua nudez como escudo.
— Mas você pode me dominar? — retrucou Katie, lançando-lhe um olhar furioso.
— Você alguma vez disse não a algo que eu tenha feito? — perguntou Carver. — Diga não, Katie, e eu paro agora mesmo.
"A escolha é sua, Katie", pensou ela.
E naturalmente, jamais diria não. Além do mais, não queria dizer não, especialmente quando ele começava a beijá-la, e sua língua traçava caminhos eróticos em sua pele. Nem, mesmo quando ele fez uma pausa para buscar a proteção do preservativo, apesar de ter ficado ressentida. E não fora capaz de dizer não quando finalmente ele a possuiu, pois todo seu corpo ansiava por ele e pela gloriosa sensação de tê-lo dentro dela em uma união que a levava ao paraíso.
Carver jamais se esquecia de usar o preservativo, e Katie sentia que aquela entrega não era total.
— Você não precisa usar isso — disse Katie. — A menos que seja para evitar a transmissão de alguma doença — acrescentou, lembrando que não sabia nada sobre a recente vida sexual dele.
— Não de minha parte — redarguiu ele. — Você tem alguma doença sexual?
— Claro que não — respondeu amuada.
— Você está tomando pílula, Katie?
— Não, mas já fui ao médico pegar uma receita — informou ela com honestidade.
— Então existe o risco de uma gravidez.
— Não creio. Eu não estou em meu período fértil.
— Pode ser, mas com essas coisas não se brinca.
Katie franziu a testa diante da expressão cínica de Carver.
— Você acha que estou mentindo para você, Carver?
— Não. Mas qualquer pessoa pode cometer erros. Prefiro Prevenir do que remediar.
"Ninguém me domina". As duras palavras que ele proferira martelavam na cabeça de Katie.
— Você costumava confiar em mim quanto a isso — disse ela, encarando-o.
— Não é uma questão de confiança. Trata-se de evitar uma gravidez indesejada. Acredito que um bebê não faça parte dos seus planos por ora — disse ele, com sarcasmo.
— Eu sei cuidar de mim e me responsabilizo por minhas ações.
— E se falhar?
— Eu me responsabilizo por isso também — retrucou, teimosa.
Os olhos de Carver se estreitaram, e seu tom de voz ficou baixo e grave.
— E o que você faria, Katie? Faria um aborto sem me dizer nada? Pedir-me-ia ajuda para livrar-se do meu filho? Você já parou para pensar nas conseqüências?
Katie encarou-o estupefata, imaginando o que o levaria a proferir acusações tão duras e infundadas.
— Você já passou por uma situação dessas, Carver? — perguntou ela, enquanto cada nervo de seu corpo se retesava.
— Sim. Já passei por isso. E não desejo passar outra vez, nunca mais. As mulheres têm sempre o mesmo argumento, acham que podem segurar um homem através de uma criança, e o custo disso não é meramente financeiro.
Percebendo do que ele estava falando, Katie ligou de imediato os fatos.
— Por acaso está tentando dizer que sua filha...
Aquilo chocou-a profundamente, porém uma parte do seu ser ficou satisfeita pela possibilidade de a filha de Carver não ter sido fruto de um ato de amor. Era muito mais fácil aceitar que uma gravidez acidental o houvesse conduzido ao casamento. O que também explicava sua súbita partida para a Inglaterra.
Mas era óbvio que Carver não tinha intenção de revelar mais nada. Uma máscara fria de orgulho sombreou-lhe a expressão
— Minha filha é um assunto só meu.
Katie teve uma estranha sensação. Seu instinto a aconselhava a ter prudência. Estava pisando em um terreno hostil e deveria evitar, voltando ao que realmente os ligava no presente. Em um impulso, tocou-lhe suavemente o queixo, encarando-o com uma expressão desafiadora.
— Você me fez duas perguntas. Devo respondê-las ou prefere tirar suas próprias conclusões?
Carver fitou-a curioso e lançou-lhe um sorriso cínico.
— Responda, por favor.
— Em primeiro lugar, não tenho nenhuma intenção de ter uma gravidez acidental.
— Pelo tempo que está pretendendo dedicar ao seu trabalho, soa razoável.
— Se de alguma forma a biologia contrariar a natureza e a ciência... — disse ela, pausadamente, zombando da falta de confiança dele em seus métodos contraceptivos — e eu tivesse uma gravidez inesperada, jamais faria um aborto.
— Uma criança muda tudo, Katie, acredite-me. Toda a sua vida será afetada.
— Seja lá quais fossem as conseqüências, eu teria a criança — declarou convicta. — Seria uma opção minha. Minha responsabilidade.
— E o pai da criança?
— Assumiria somente o que estivesse disposto a assumir. Eu não lhe pediria nada, sabendo que seria um filho que não desejava ter.
— Na teoria — disse Carver, franzindo o cenho. — Mas na realidade é bem diferente. Você nunca passou por isso e seria melhor nunca ter que passar.
Dizendo isso, ergueu-lhe o queixo, pressionando os lábios contra os dela e murmurou:
— Vamos simplificar as coisas e deixar que o prazer impeça a dor.
Katie não tinha certeza se conseguiria transpor a barreira defensiva que Carver erguera em torno de si. Os beijos dele, cada vez mais ávidos, faziam crescer um calor que lhe invadia deliciosamente o corpo, nada mais importava a não ser as indescritíveis ondas de prazer que a escravizavam. Não importava que continuasse a usar os preservativos, aceitaria qualquer condição para tê-lo a seu lado.Katie observou os movimentos ágeis e seguros de Carver preparando-se para partir, até uma próxima vez. Pelo menos tinha certeza que haveria uma próxima vez, apesar de nenhuma promessa ter sido feita. A única informação que conseguira arrancar de Carver fora sobre uma gravidez indesejada.
Na verdade, Carver não relacionara aquilo ao seu casamento e cortara a tentativa que ela fizera de ligar o fato ao nascimento da filha. Poderia estar totalmente errada. Em todos aqueles anos que ficaram separados, havia a possibilidade de ele ter se envolvido em alguma experiência que terminara com um aborto, deixando-o mais precavido quanto à prática de sexo seguro. Não significava, necessariamente, alguma relação com seu casamento.
Katie ficou intrigada, e a curiosidade a invadiu.
"Vá atrás dele..."
"Mas como?"
Carver vestiu a jaqueta de couro e encaminhou-se em direção à porta. Sua expressão assimilava-se à de um livro fechado. Desesperada para abrir aquelas páginas ocultas, Katie decidiu lançar mão do único argumento em que conseguiu pensar.
— Quando liguei para você da Inglaterra, após ler sua carta, foi um grande choque para mim saber que estava casado.
As mãos de Carver estavam na bainha da jaqueta, ajustando o zíper para fechá-la. Então, relaxou os dedos e fitou-a com um brilho estranho no olhar.
— É mesmo? — perguntou em um tom insípido, destruindo qualquer possibilidade de uma resposta satisfatória, voltando a atenção novamente para o zíper da jaqueta.
Katie ficou frustrada. Repetir a afirmação parecia inútil e o sentimento de que pioraria ainda mais as coisas era muito forte.
Carver voltou a encará-la com um olhar de escárnio.
— Acha que o tempo espera por você, Katie?
— Não — respondeu confusa, não compreendendo de imediato o teor daquela pergunta.
— Pelo que me lembro, passaram-se seis meses, antes que pensasse em me telefonar. — A voz de Carver tinha um tom quase acusatório.
— Você deixou aquela carta com minha tia — ela o lembrou.
— Sim. Ela me disse que você estaria retornando da viagem ao mediterrâneo em poucas semanas.
— Ela esqueceu de me entregar a carta, Carver. Um pouco antes do meu retorno à Inglaterra, soube que uma amiga muito querida estava morrendo de câncer e partiu para vê-la. — Katie deu um profundo e longo suspiro antes de continuar. — De qualquer maneira a carta ficou guardada e só me entregou quando voltou do funeral da amiga. Liguei para você no mesmo dia em que a recebi.
Carver permaneceu petrificado por um breve momento. Com o olhar fixo no rosto de Katie, estava distante e parecia não enxergá-la. Era como se ela não existisse, como se ele estivesse em outro tempo e espaço.
Katie quis destruir aquela sensação de vazio e trazê-lo de volta, mas sua mente estava congelada. Naquele momento, não tinha condições de pensar em nada sensato. Contara-lhe toda a verdade, agora só restava aguardar a reação dele.
Carver estremeceu como se uma onda elétrica despertasse seu corpo, os olhos vidrados fitaram-na com um brilho afiado. Sua expressão mudara, e um sorriso sardônico aflorou-lhe aos lábios.
— Bem, isso tudo são águas passadas, não é mesmo?
Incapaz de responder, Katie fitou-o em silêncio. "Por que não me esperou?", gritou ela mentalmente. Mas que motivos lhe dera para tal? Por que ele deveria parar de viver por sua causa? Ela prosseguira vivendo apesar de tudo.
Entretanto ele estivera sempre em seu coração, em um lugar que nenhum outro homem conseguira ocupar.
— Boa noite — disse Carver sucinto, saindo rapidamente do apartamento.
Katie deu um suspiro desanimado.
Não tinha certeza se ele amara ou não a esposa. Porém isso nem era tão importante assim, comparado ao choque que sentira com aquele telefonema fatal ao saber que ele se casara com outra pessoa.
Mas seria diferente se uma gravidez não planejada o houvesse obrigado a casar. Isso tornaria as coisas mais fáceis, seria muito mais aceitável e aumentaria a possibilidade de tê-lo de volta, embora não soubesse como destruiria a parede de tijolos que ele construíra em torno de si mesmo.
Katie fechou os olhos e afundou o rosto no travesseiro que ainda exalava a água de colônia masculina. O mesmo perfume do pirata, o homem mascarado. Mas ela o desmascararia. Era só uma questão de tempo. Nem que fosse a última coisa que fizesse. Descobriria por quem batia o coração de Carver Dane!
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Baile De Máscaras
Любовные романыParecia ser só uma aventura... Quando Craver Dane, sócio de uma das maiores instituições financeiras de Sidnei, foi a um baile de máscaras, esperava se divertir com uma mulher que lhe despertasse as mais loucas fantasias e aplacasse seu desejo arden...