Capítulo XII
— Suco ou vinho, Katie? — ofereceu Max, com uma bandeja de suco de frutas na mão.
Aliviada por aquela intervenção, Katie apressou-se em responder:
— Suco. Obrigada, Max.
— Hum-hum. — disse ele, virando-se em direção a uma mesa de serviço sobre a qual estavam copos de vidro e descartáveis e começou a verter o suco. — E você, Susannah, não está com sede? Todo este trajeto de jipe deve ter sido muito cansativo.
— Foi sim, muito cansativo — repetiu Susannah, meneando a cabeça com um gesto afirmativo.
— Mais uma lata de cerveja, Carver?
— Não, obrigado.
Max trouxe um copo de suco para Katie e outro para Susannah, sorrindo calorosamente para os três.
— Robert me falou que foi você quem deu o sinal verde para o serviço de táxi de Katie, Carver, e Amanda me contou que, desde então, ela tem se dedicado a isso arduamente.
— Eu a adverti que seria estafante — respondeu Carver.
— Não me importo com isso — Katie retrucou, tentando aparentar calma e lidar com a situação com toda naturalidade possível.
— Bem, eis uma ótima chance para relaxar e se divertir algumas horas. Por favor, venham sentar-se — disse Max, guiando-os até uma mesa desocupada sob a sombra das parreiras. — Talvez seja uma boa oportunidade para conferir como anda seu investimento, Carver. Katie, provavelmente, está louca de vontade de se vangloriar a respeito do sucesso de seu empreendimento.
— Fico feliz em saber disso — comentou Carver gentil.
— Ótimo! — exclamou Max. — Pegue uma cadeira. Vou buscar mais uma cerveja.
Devidamente acomodados, Carver colocou a criança no chão de frente para a churrasqueira.
— Vá pegar o jipe, Susannah. Mostre a Katie como você é uma boa motorista. — disse ele, incentivando-a.
A menina pôs o copo sobre a mesa, lançando um olhar para Katie. Claramente ávida por chamar sua atenção, seguiu a sugestão do pai. Katie deteve-se fascinada a olhar o vai-e-vem sinuoso dos cachos pretos da menina.
— Parece que nossa anfitriã leva jeito de casamenteira — observou Carver secamente.
— Sim. — Katie engoliu em seco, sem forças para encará-lo. — Amanda e eu somos velhas amigas. Fiquei na mesa dela no baile de máscaras, ela estava tentando me arrumar uma companhia.
— Ah! — Após uma breve pausa, ele indagou: — Ela sabe que eu era o pirata?
— Acho que não. Eu não lhe contei.
Ambos ficaram em silêncio por alguns instantes. Katie suspeitou que a mente de Carver deveria estar repleta de especulações. Sentiu uma enorme vontade de lhe dizer que Amanda planejara aquele encontro para os reaproximar e que não fazia a mínima idéia de que fossem amantes.
Susannah virou o jipe manualmente e então sentou-se atrás do volante com uma expressão decidida. Em seguida, moveu os pezinhos, conduzindo o veículo de brinquedo em direção à casa de brinquedos.
Lá, desceu e apanhou uma caixa de plástico vermelho. Colocou-a no compartimento traseiro do jipe e guiou de volta à mesa onde eles estavam sentados. Agarrou a caixa e a entregou a Katie. Em seguida escolheu uma letra de plástico e lhe ofereceu.
— Isto é um M — anunciou orgulhosamente.
Katie pegou a letrinha, fingindo examinar.
— Isso mesmo. Um M. — repetiu ela.
— E é vermelho.
Katie concordou.
— Sim, é vermelho.
— M de maçã, e maçã é vermelha.
— É verdade. Como você é inteligente!
Susannah, entusiasmada, pegou outra letra.
— Este é um A, e é amarelo, A de amarelo.
Katie concordou com um ar de surpresa.
— Você conhece todas as letras do alfabeto, Susannah?
A menina fez um gesto com a cabeça em afirmativa.
— Papai me ensinou.
Katie sentiu-se profundamente comovida ao ouvir aquele tratamento carinhoso.
— É muito bom que você se lembre de todas elas. Quer me mostrar mais alguma?
— Sim.
A caixa estava sendo esvaziada gradualmente, quando Max interrompeu a brincadeira.
— Venham crianças! As lingüiças já estão assadas. Hora de comer!
— Todos para fora da piscina — ordenou Amanda, abrindo o portão de segurança para que as crianças saíssem. — Tragam as toalhas para se secarem.
O filho de Amanda foi o primeiro a passar pelo portão e logo foi instruído pela mãe:
— Vá buscar Susannah e a ajude a se servir, Nick.
— Está bem! — concordou ele. — Olá, Katie! Você me viu mergulhar?
— Foi um grande salto! — respondeu ela com um sorriso.
Ele retribuiu o sorriso e virou-se para os companheiros gritando:
— Ei, olhem, Katie está aqui!
O anúncio em voz alta fez com que um bando de crianças, que Katie transportava regularmente aos centros de recreação, corresse ao seu encontro. Todos desejando um pouco de atenção.
— Um de cada vez — instruiu Katie. — Vamos buscar algumas lingüiças. — Dizendo isso, levantou-se e ofereceu a mão a Susannah. — Você quer vir conosco?
A garotinha assentiu, agarrando avidamente a mão oferecida, e todos caminharam em direção à churrasqueira.
— As crianças estão sempre seguindo Katie — comentou Amanda, dirigindo-se a Carver.
A resposta dele perdeu-se em meio ao burburinho das crianças.
Como babá, Katie já havia encontrado vários adultos que não dispensavam muito tempo às crianças. Carver obviamente não se enquadrava naquela categoria. A criança que segurava pela mão era muito amada. Papai me ensinou. Katie supôs que Carver lhe dedicava todo o tempo que tinha disponível depois do trabalho.
Aquela criança, que poderia ter sido sua, estava em primeiro lugar na vida de Carver, e, vê-los juntos, fê-la sentir-se ainda mais relegada a um segundo plano na vida dele. Os dois formavam uma unidade enquanto que ela... bem, obviamente era boa para sexo, porém, agora, aquela constatação tornara-se bastante dolorosa.
Katie ajudou Susannah a se servir. Duas lingüiças com molho de tomate, salada de batata e pão. Colocou tudo em pratinho plástico e, em seguida, encaminhou-a para o pai.
A criança hesitou, fitando-a com um brilho suplicante olhar.
— Você vem também?
— Quando terminar de ajudar as outras crianças — prometeu Katie, necessitando de tempo para adotar uma conduta que suplantasse a dor que brotara em seu peito. — Agora vá — acrescentou persuasiva. — Seu pai cortará as lingüiças para você.
A menina cruzou o pátio em direção ao pai, segura de que Katie eventualmente a seguiria. Era uma criança encantadora, dócil e completamente inocente. Susannah não pedira para nascer, mas merecia e tinha todo o direito de ser amada pelo pai.
— Não precisa ajudar, Katie — disse Amanda em voz baixa. — Deixe a tarefa de servir as crianças comigo — acrescentou dando-lhe uma cutucada no braço. — Volte para junto de Carver.
— Não quero — declarou Katie insípida.
Amanda fez-lhe uma carranca.
— Por que não? — persistiu.
— Deixe-me em paz, Amanda. Pare de me pressionar. Conduzirei isso ao meu modo. — advertiu irritada.
Mas Katie não tinha escolha, a não ser juntar-se novamente a eles e tentar tirar algo positivo daquele encontro. Colocou sorvete de morango em uma tigela de plástico e seguiu em direção a Carver e sua filha.
— Ainda tem lugar em sua barriguinha para isto? — perguntou a Susannah, colocando a tigela sobre a mesa.
A menina assentiu ansiosa, brindando-a com um amplo sorriso. Em seguida, Katie sentou-se à mesa.
— Diga obrigada, Susannah — instruiu Carver afetuoso.
— Obrigada — repetiu timidamente.
Naquele momento, Max surgiu com dois copos de vinho e uma garrafa de Chardonnay.
— Uma recompensa por seu trabalho, Katie — declarou ele, servindo-lhe um copo de vinho. — Carver?
— Aceito. Obrigado, Max.
Álcool não ajudaria em nada, pensou Katie angustiada, desejando saber se fora Amanda quem instruíra o marido.
— A carne já está na brasa. Não vai demorar muito para almoçarmos — informou Max, afastando-se para servir os outros convidados.
Susannah estava saboreando seu sorvete com entusiasmo.
— Não fique tão embaraçada, Katie — aconselhou Carver tranqüilamente. — Não me importo por termos nos encontrado desse modo.
Katie fitou-o diretamente nos olhos e, sem se conter, provocou:
— Mas isso não estava em seus planos, não é mesmo? Na realidade, se quisesse, poderia ter me convidado para acompanhá-lo até aqui. Você sabe que tenho os domingos livres.
— É que, normalmente, passa-os com seu pai — retrucou ele, encarando-a com um brilho frio no olhar.
— Contei a meu pai sobre o nosso relacionamento. Não o estou escondendo dele, Carver.
— Você contou a ele? — perguntou surpreso.
— Sim.
Carver ergueu as sobrancelhas, considerando o que aquilo poderia significar, já que o relacionamento deles não era tão reservado quanto julgara ser, como provavelmente gostaria que fosse.
— Meu pai não faz objeção alguma a um relacionamento entre nós — declarou ela, observando o efeito daquela revelação.
Um sorriso cínico curvou os lábios sensuais.
— Ele já não tem mais motivos para as acusações que me fez um dia.
— Não, não tem — concordou ela, com visível embaraço. Em seguida, perguntou desafiadora:
— E quanto à sua mãe? Você lhe contou sobre mim?
Carver rebateu com um brilho sarcástico no olhar.
— Contar o quê?
— Que faço parte de sua vida novamente.
— Até que ponto faz parte, Katie? — perguntou, apontando para os convidados ao redor. — Estas pessoas são mais seus amigos que meus. Então, por que não me convidou para acompanhá-la aqui hoje?
Naquele instante, Katie percebeu que ficara subentendido que, no íntimo, ele ainda achava que não estava à altura dela. Estava enganado, sempre estivera enganado, pensou ela, apressando-se em rebater seus argumentos.
— Porque não fez tentativa alguma de me aproximar de sua família, Carver — retrucou, indicando com um gesto de cabeça para Susannah que ainda saboreava o sorvete.
— Isto se aplica a ambos.
"O que pretendia dizer com aquilo? Imaginava que estivesse satisfeita com os encontros ocasionais? Que não queria assumir um compromisso? Que desejava apenas sexo quando fosse conveniente para ambos?", perguntou a si mesma indignada.
— Sua presença aqui não me incomoda, Carver — redarguiu.
As feições dele se endureceram.
— Ora, pare com isso! Não está demonstrando prazer algum em minha companhia, Katie.
— Não estava segura se seria bem recebida.
— Você deseja ser bem recebida... — O olhar dele pousou em Susannah e, em seguida, tornou a encará-la com intensidade. — ...por minha família?
— Sim — declarou com firmeza, desafiando o tumulto emocional que se formara em sua mente, provocado pela presença da filha dele e a possibilidade de um encontro com Lillian Dane.
— Você me convidaria para um encontro com seu pai?
— Sim — respondeu sem hesitação. — Quando você quiser.
Durante vários segundos, Carver fitou-a, estudando atentamente a determinação em seu olhar. O próximo passo dependeria dele.
— Espero que saiba o que esta decisão significa, Katie — disse suavemente. — Outras pessoas serão afetadas por ela, não apenas eu e você.
Katie achou que ele estava blefando, provavelmente, querendo que permanecessem como amantes secretos. Porém, não estava disposta a ficar presa no espaço restrito de quatro paredes de seu quarto.
— Enfrente essa decisão, também, Carver — retrucou mordaz, resolvida a avaliar quanto significava para ele.
Porém a resposta de Carver transportou-a a dez anos atrás e silenciou qualquer argumento.
— Apenas espero que esteja segura, Katie. Muito segura desta vez.
Podia ver no brilho dos olhos dele a lembrança de como ela fugira quando as coisas se complicaram.
Ela jurara amá-lo naquela ocasião, mas não fora capaz de permanecer a seu lado na alegria e na tristeza. Agora, nenhum deles mencionara a palavra amor. Seria apenas uma palavra se não houvesse uma prova concreta desse sentimento.
Katie resolveu que providenciaria um encontro entre Carver e seu pai. Não importava como a mãe dele reagiria ao vê-la, de alguma forma, conquistaria Lillian Dane. Assim como a filha dele.
— Acabei — declarou Susannah, chamando a atenção de Katie, enquanto colocava a colher, cuidadosamente, na tigela vazia.
Katie sorriu.
— Acho que você gosta muito de sorvete de morango.
A menina fez um gesto afirmativo com a cabeça.
— Morangos, também. Papai sempre compra para mim — disse ela, olhando para o pai. — Fazem bem para mim, não é, papai?
Carver contemplou-a com um sorriso cheio de amor, concordando.
— Sim, querida.
Naquele instante, Amanda aproximou-se da mesa para recolher a tigela vazia.
— Foi suficiente ou gostaria de mais um pouco, Susannah?
— Chega, obrigada.
— Está bem! — Amanda dirigiu um sorriso luminoso a Katie e a Carver. — Agora que as crianças já comeram, vamos reunir algumas mesas e fazer uma grande festa para os adultos. Pode nos ajudar, Carver?
— Claro que sim.
A súbita intervenção quebrou a atmosfera intimista que não transcorria tão harmoniosa quanto Amanda esperava. Katie, definitivamente, teve que reconhecer a sensibilidade da amiga, para identificar problemas e resolvê-los de maneira sutil.
Uma vez postas as mesas a seu gosto, Amanda assegurou-se de que Katie e Carver sentassem juntos.
Foi servido então um verdadeiro banquete: carnes variadas, lingüiças, cebolas fritas, batatas assadas com molho de ervas e cebolinhas, diversas saladas e pão foccacia. Embora a comida estivesse deliciosa, Katie quase não comeu.
O clima era de descontração, os assuntos interessantes e as piadas inteligentes. Carver parecia estar bem à vontade na companhia daquelas pessoas. Katie, por sua vez, continuava a se afligir com a falta de confiança que ele demonstrava e, quanto mais pensava sobre aquilo, mais injusto lhe parecia.
Fora há muito tempo. Tudo acontecera quando tinha apenas dezenove anos, um ano após a formatura do segundo grau. Ainda vivia com o pai que influenciara de modo dominante sua juventude. Agora era uma mulher dez anos mais velha, com provas óbvias de sua independência, tomando grandes decisões e com determinação para realizá-las.
Para aumentar ainda mais sua angústia, havia a presença cativante da filha de Carver.
Durante todo o almoço, Susannah aparecera ao seu lado para lhe mostrar alguma coisa, solicitando mais sua atenção do que a do próprio pai.
Sentia-se ferida por Carver ter se casado com outra mulher, por ser pai daquela criança e, por causa dela, considerar um compromisso entre ambos um risco difícil de assumir.
A sobremesa fora servida. Torta de ricota com passas e café para acompanhar.
Pouco a pouco os convidados foram se dispersando. Susannah subiu no colo de Carver sonolenta e recostou a cabeça em seu peito, porém, não fechou os olhos. Fitou Katie fixamente, em silêncio. Parecia satisfeita pelo simples fato de tê-la ali, sentada junto a eles.
Katie estava exausta mental e emocionalmente.
Recostou-se na cadeira mantendo os olhos fixos nas águas tranqüilas da piscina até que repentinamente sentiu um puxão na manga da blusa. Era uma mão de criança tentando chamar sua atenção. Katie não percebera que era Susannah até voltar-se e deparar com a menina que descera do colo do pai e estava de pé ao seu lado com uma expressão interrogativa. Porém, havia uma timidez hesitante nos grandes olhos castanho-escuros.
Katie tornou-lhe um sorriso encorajador.
A pequena menina se apressou em falar.
— Você é minha mamãe?
A pergunta inocente partiu o coração de Katie com uma força tão devastadora que seus olhos se encheram de lágrimas.
— Susannah... — disse Carver, gentilmente ralhando com ela. — Eu já lhe disse que sua mãe foi para céu.
A menina voltou-se para o pai.
— Mas você falou que ela tinha cabelos iguais aos meus, papai.
Katie empurrou a cadeira para trás e ergueu-se com o coração aos saltos. Aquilo era demais! Não podia agüentar ouvir como Carver explicaria tudo a Susannah. Engoliu em seco várias vezes. As lágrimas saltavam dos seus olhos, mas mesmo assim, com um esforço sobre-humano conseguiu falar:
— Eu o deixarei resolver isso com sua filha, Carver.
De repente, tudo em volta obscureceu. Katie afastou-se aflita demais, incapaz de suportar permanecer ali por mais tempo ou até mesmo de se desculpar com Amanda ou Max. Queria sair dali o mais rápido possível.
Apenas momentos mais tarde, quase de volta ao norte de Sídnei, percebeu que mais uma vez estava fugindo, porém era muito tarde para retroceder. Provavelmente muito tarde para tudo.
Isso resumia toda a sua história de amor com Carver Dane.
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Baile De Máscaras
RomanceParecia ser só uma aventura... Quando Craver Dane, sócio de uma das maiores instituições financeiras de Sidnei, foi a um baile de máscaras, esperava se divertir com uma mulher que lhe despertasse as mais loucas fantasias e aplacasse seu desejo arden...