capítulo um

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Capítulo I

A primeira coisa que atraiu a atenção de Carver Dane naquela mulher foram os cachos negros e sedosos, caindo em cascata pelas costas alvas como marfim.
Sua boca torceu-se em sinal de auto-reprovação. Dizia-se que as pessoas sempre se atraem pelo mesmo tipo físico, e ele não fugia à regra, porém achava que bastavam dois relacionamentos desastrosos em sua vida.
Esperou que seu bom senso prevalecesse, mas isso não aconteceu. Seu olhar teimava em seguir a mulher pelo salão, enquanto dançava.
Bem, aquilo poderia ser uma peruca. Afinal, estavam em um baile à fantasia, quando as pessoas dão asas à imaginação e se transformam.
Propositadamente conduziu seu par, até ficar bem perto da bela morena. Ela estava fantasiada de Carmen, a cigana da ópera de Bizet. Usava um vestido vermelho que delineava todas as curvas de seu corpo estonteante, finalizando com um provocante rabo de peixe que revelava pernas longas e bem torneadas, enquanto seu par a rodopiava pelo salão.
Usava várias pulseiras nos braços e brincos de argolas douradas. Ela era realmente muito sexy, concluiu Carver, decidindo que a convidaria para a próxima dança.
Katie Beaumont estava divertindo-se bastante. Deixara seus cabelos soltos, como há muito não fazia. Vestir-se de Carmen e dançar entre pessoas estranhas a fazia sentir-se muito liberal. Não havia necessidade de manter uma imagem de mulher responsável. Era uma maravilhosa sensação de liberdade, para quem vivia constantemente preocupada com a opinião dos outros a seu respeito.
Seu par, que estava fantasiado de toureiro, suava abundantemente ao final da dança.
— Foi maravilhoso — disse ele. — Venha tomar um drinque comigo.
— Muito obrigada, mas estou sendo esperada em minha mesa — desculpou-se Katie, sorrindo sob a máscara escarlate e afastando-se em seguida. O rapaz era um ótimo dançarino, mas ela não queria sua companhia.
Dirigiu-se rapidamente até uma das mesas oficiais de sua melhor amiga dos tempos de escola, Amanda.
Katie estava contente por reencontrá-la, após terem perdido o contato por vários anos. Graças a uma feliz coincidência, Amanda fora levar seu filho de quatro anos à creche, onde Katie trabalhava havia seis meses. Amanda casara-se com um dos maiores investidores da bolsa de valores de Sidnei.
Embora Katie não tivesse nenhuma vocação para freqüentar a alta sociedade, a companhia de Amanda, de vez em quando, quebrava a monotonia de sua vida. Ela se divertia com os gestos extravagantes da amiga, enquanto conversava com os outros convidados à mesa. Não havia dúvida de que era uma ótima anfitriã, e estava especialmente fantástica naquela noite, vestida em uma exótica fantasia de odalisca, de cores vibrantes.
— Então, que tal o toureiro? — perguntou ela, no momento em que Katie se sentou.
Katie fez uma careta, sabendo que estava frustrando os planos da amiga de encontrar um marido para ela.
— Dança muito bem, mas é um tanto presunçoso.
— Humm... Então precisamos achar um par melhor. O homem que tenho em mente está com uma fantasia de pirata.
— Pirata? Não o notei — respondeu Katie alheia.
— Bem, ele a notou. Não tirava os olhos de você enquanto dançava.
Katie sorriu, certa de que muitos homens a observaram, portanto aquele talvez não tivesse nada de especial.
A fantasia de Carmen era realmente muito sensual, mas, naquela noite, não se importava com os olhares ávidos dos homens. Era inofensivo e reconfortante sentir-se desejada quando não havia perigo algum envolvido.
— Você não tem que encontrar nenhum par para mim, Amanda. Estou aqui apenas porque seu marido não pôde vir, lembra-se?
— Não me faça lembrar. Já estou bastante aborrecida com Max. Ele não tinha o direito de perder este baile, especialmente quando sou eu quem está organizando o comitê de caridade. Ele só se importa com seus jogos de golfe no final de semana!
— Não foi você mesma quem disse que os contatos são bons para os negócios dele? Tudo tem um preço.
— Eu sei, Katie. É por isso que não gosto de ocupar minha bela cabeça com nenhum tipo de trabalho. E você gosta de tomar conta daquelas crianças na creche?
— Gosto, mas estou planejando abrir meu próprio negócio. Já marquei uma entrevista com uma companhia de investimentos que Max me recomendou.
— Oh, Katie, tenho certeza de que poderia encontrar um marido adequado para você, que a sustentasse!
Katie meneou a cabeça.
— Prefiro me sustentar sozinha.
Amanda deu um suspiro resignado.
— Isso não é natural — disse, fazendo um gesto que mostrava o salão. — Isto é natural para alguém com a sua aparência.
— Um baile à fantasia? — perguntou Katie, com um sorriso irônico. — Mas fico grata por ter me convidado.
— Isto significa que está se divertindo? — perguntou Amanda triunfante.
— Estou sim, Amanda.
Sua amiga ofereceu-lhe uma taça de champanhe.
— Brindemos a uma noite fantástica. E que haja muitas iguais.
Katie sorriu, tomando um gole da bebida, porém não repetiu o brinde. Podia dar-se ao luxo de passar uma noite agradável e frívola, mas não tinha a mínima intenção de transformar aquilo em rotina.
Suspeitava que Amanda mantinha uma vida social agitada e intensa para compensar o estilo de vida de seu marido que era introspectivo e viciado em trabalho.
Apesar disso, o casamento deles aparentava ser bem-sucedido.
Katie imaginou se os anos que passara trabalhando como babá em Londres não a teriam deixado céptica em relação à durabilidade dos relacionamentos. Assistira a tantos casos de infidelidade e casamentos de aparência que não lhe haviam restado muitas ilusões românticas.
O que amava era a inocência das crianças, adorava a companhia delas. Daí, a idéia de abrir um negócio próprio para transportar crianças, cujos pais não tinham tempo de levá-las às diversas atividades que julgavam importantes ao seu desenvolvimento.
De qualquer forma, não tinha a mínima intenção de conhecer os amigos divorciados que Amanda insistia em lhe apresentar. E parecia que só havia homens descasados disponíveis para uma mulher que em breve completaria trinta anos.
Katie não estava à procura de vínculos, gostava de ser independente. Existira apenas uma grande paixão em sua vida e, a menos que alguém, algum dia, em algum lugar, pudesse despertar-lhe os mesmos sentimentos, preferia permanecer solteira.
Viver por conta própria parecia-lhe infinitamente melhor do que ficar ao lado de alguém a quem não amasse.
Perdida em seus pensamentos, Katie olhou em volta para os homens que dividiam a mesa. Nenhum deles lhe despertava qualquer tipo de emoção. Eram uma boa companhia para passar algumas horas: inteligentes, bem-sucedidos, porém nenhum deles parecia real a seus olhos. Tinha a impressão de que estavam representando. Seria o efeito das fantasias? Mas afinal, ela também não estava representando? Aquela era uma noite singular. Uma noite de magia...
Sorveu mais um gole de champanhe e riu das piadas inteligentes que estavam sendo contadas. O conjunto recomeçou a tocar, e Amanda a despertou de seu devaneio.
— O rei dos piratas está vindo aí. A sua direita, olhe.
Katie, obediente, virou a cabeça, curiosa por ver quem havia despertado o interesse de Amanda.
— Então, Katie, não me diga que ele não é instigante.
O termo estava errado, pensou Katie, era bem mais do que isso.
Ele atravessava o salão resolutamente, com uma capa preta pendendo de seus ombros e uma máscara púrpura. Uma camisa branca, desabotoada até a metade do peito, revelava um tórax viril. Um cinto largo com uma fivela prateada cingia-lhe a cintura, e a calça preta parecia retesada pelos músculos bem definidos de suas coxas. Botas até os joelhos completavam o conjunto, dando-lhe uma aparência de agressiva masculinidade.
Era alto e parecia perigoso, quase sem escrúpulos.
O coração de Katie se acelerou. Não havia dúvida de que ele vinha em sua direção com a graça de uma pantera e não parecia o tipo de homem que aceitava um "não" como resposta. Um estremecimento percorreu-lhe o corpo. E sem se dar conta do que estava fazendo, puxou a cadeira e levantou-se antes que ele chegasse até ela.
Aquele homem emanava um magnetismo que abalava-a inexoravelmente, e não sabia se devia lutar contra ele ou sucumbir. Todos os seus instintos estavam em alerta, porém era mais uma sensação de excitação do que de medo.
Não sentia algo assim desde que seu amor por Carver Dane a envolvera em uma intimidade sexual tão avassaladora que deixara seu coração em pedaços quando acabara.
Chocada por ter sido compelida a recordar o que estava deliberadamente enterrado em sua mente, Katie retraiu-se quando o pirata estendeu-lhe a mão confiante, em um convite mudo.
Ela fitou hipnotizada a mão estendida, e as memórias de Carver foram enviadas de volta a um recanto de sua mente. Aquelas mãos não eram calejadas por trabalhos braçais.
— Dança comigo?
A pergunta tinha um leve toque de cinismo, atraindo a atenção dela para os olhos de atrás da máscara. Estavam envoltos em sombras e não revelavam sua expressão. Seus lábios firmes estavam curvados em um sorriso cínico.
Katie pensou que ele parecia estar resistindo à atração que a fantasia de Carmen lhe despertava. Por outro lado, a fantasia de pirata provocava um impacto tão forte que ele deveria saber o efeito que causava nas mulheres e certamente a julgara um alvo fácil.
Seu lado perverso a impeliu a impor uma certa resistência àquela autoconfiança. E ao invés de oferecer-lhe a mão em sinal de aquiescência, colocou-a em sua cintura e fitou-o demoradamente.
— Você gosta de correr riscos? — perguntou ela. — Os homens costumam perder-se de amor por Carmen, assim que caem em suas garras.
Amanda não conseguiu conter o riso.
— Minha vida é cheia de riscos. Um a mais não fará diferença.
— E você sempre consegue sair ileso? — perguntou Katie, deliberadamente.
— Não, mas sei esconder as cicatrizes.
Ela gostou da resposta. Tornava-o mais humano, menos invencível. Deu um sorriso.
— Um lutador destemido?
— Eu diria, um sobrevivente. Você prefere que eu me afaste, Carmen?
— Isso estragaria o jogo — disse ela, estendendo-lhe a mão. — Você gostaria de dançar comigo?
Ele pegou-lhe a mão e levou-a aos lábios.
— Acredite-me... será um grande prazer. — Virou-lhe a mão e, em um gesto deliberado e sensual, pressionou os lábios na palma macia.
Katie ficou confusa com a súbita explosão de choques elétricos ao longo de sua espinha. E antes que pudesse recobrar a compostura, ele enlaçou-lhe a cintura e conduziu-a ao centro do salão. Colocou a mão dela em seu ombro e pressionou o corpo contra o dela.
— Agora vamos dançar — disse ele com a voz rouca, carregada de sensualidade. —capaz de seguir os passos do pirata Vamos ver se Carmen é.

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