capítulo nove

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Capítulo IX

Assim que desligou o  motor do carro, Carver se deu conta de que estava em casa. Não sabia com exatidão como chegara do norte de Sídnei até Hunters Hill. Lembrava-se apenas que deixara Katie, entrara no carro e agora estava ali com o carro estacionado em sua garagem.
A sensação de ter perdido a noção do tempo fez com que consultasse o relógio. Passava alguns minutos da meia-noite pouco mais do que havia planejado. O choque de saber que Katie lhe telefonara no mesmo dia em que lera aquela carta o deixou confuso demais. Porém, ainda havia coisas a serem feitas, como por exemplo, falar com sua mãe...
Por causa dela não ficara tempo suficiente na Inglaterra para encontrar Katie quando ela voltou de viagem. Por poucas semanas... Bastaria apenas um olhar e saberia que a chama do amor que sentiam um pelo outro continuava acesa.
Frustração e raiva ocuparam-lhe a mente, enquanto caminhava até o apartamento da mãe.
Ela nunca gostara de Katie. Sempre falara mal dela e ressentia-se do tempo que ele passava com ela e do amor que lhe dedicava. Nunca se importou com os sentimentos dele.
Mesmo cinco anos mais tarde, quando ele provara que poderia ter sucesso seguindo o caminho que escolhera, sua mãe fora contra a sua ida à Inglaterra e a intenção de trazer Katie com ele.
Carver estava farto de tanta interferência. Tentou convencê-la a aceitar que tinha o direito de ter sua própria vida, de amar a mulher que escolhesse. Contudo ela teria aceitado realmente esse fato? Teria adoecido por causa disso? O que teria acarretado aquele surto de pneumonia que o afastou de Londres.
Sua mãe não morrera.
A única morte fora a do seu sonho. E agora sabia que aquele sonho poderia ter se realizado...
Ao entrar, o olhar de Carver voltou-se para a mãe ainda sentada na poltrona, feita sob encomenda para ela. Cochilara lendo um livro que estava caído sobre seu colo. Embora tivesse pouco mais de cinqüenta anos, aparentava ser bem mais velha e vulnerável, e não havia mais ódio em seu coração.
Não podia culpá-la por aquela carta ter se perdido. Tampouco a tia de Katie, por ter ficado chocada com a doença da amiga e ter esquecido algo que não parecia tão importante. Uma mensagem de um homem que não fazia parte da vida da sobrinha havia anos.
Sua mãe não escolhera aquela enfermidade que lhe causara tanto mal, afetando-lhe todo o sistema imunológico, tornando-a vulnerável a qualquer vírus.
Carver fizera tudo que estava ao seu alcance para proporcionar-lhe um ambiente seguro, mas inevitavelmente havia viagens e compromissos... Como poderia culpá-la por pegar pneumonia no pior momento da vida dele?
Deveria culpar a si mesmo por ter ido àquela festa, tentando tirar Katie da cabeça de uma vez por todas. Então conhecera Nina, com seus espessos cachos pretos e sentira-se atraído por ela de imediato.
Na verdade fora o único culpado por não estar mais livre quando Katie lhe telefonara.
Carver suspirou fundo para aliviar a tensão do peito. Estendeu as mãos e gentilmente acordou a mãe.
— Você chegou?
— Sim — respondeu ele, pegando o livro. Fechou-o e colocou-o em cima da mesa. — Quer ajuda?
— Não, obrigada, querido. Vou me recolher em um minuto.
A fragilidade dela fez Carver experimentar um sentimento de culpa.
— Mamãe, se for muito incômodo para você tomar conta de Susannah quando eu sair, por favor fale que chamarei a babá para ficar aqui à noite.
— Não, não precisa — insistiu ela, apertando-lhe a mão. — Preciso me sentir útil algumas vezes, Carver. Você faz muito por mim, e Susannah não dá trabalho algum. Raramente acorda. Deixe-me fazer isso por você, por vocês dois.
— Tem certeza de que não é pedir demais? — perguntou ele, franzindo a testa.
— Claro que não, querido. Eu teria acordado se ela me chamasse. Foi apenas um pequeno cochilo. Não deixaria Susannah em risco por nada deste mundo. Eu amo essa criança.
— Eu sei que sim, mamãe — concordou sorrindo. — Ela também a ama.
A mãe retribuiu o sorriso.
— Bem, finalmente chegou. Vá dormir querido. Você tem que trabalhar amanhã.
— Sim, mamãe. — Em seguida, inclinou-se e deu-lhe um beijo no rosto. — Boa noite, e obrigado por cuidar de Susannah.
— Boa noite, filho.
Carver retirou-se e cruzou o corredor, encaminhando-se para o quarto da filha. Aproximou-se da porta que estava entreaberta. Cuidadosamente moveu-se para o interior do aposento e debruçou-se sobre a cama onde a menina estava adormecida, mergulhada em um sono profundo. Parecia não ter se movido desde que ele saíra. As cobertas não estavam espalhadas, a cabeça permanecia do mesmo lado do travesseiro. Sua mãe tinha razão, a menina tinha um sono tranqüilo e raramente acordava durante a noite.
Carver beijou a face suave e redonda, deliciando-se com o aroma infantil que exalava da pele de porcelana. Susannah não fora concebida intencionalmente em um momento de amor, porém, agora, não podia imaginar a vida sem aquela criança.
Ao deslizar os dedos com suavidade sobre os cachos escuros e sedosos da menina, um misto de angústia e revolta traspassou-lhe a mente. Ela deveria ser filha de Katie, não dele com outra mulher. Em outras circunstâncias, isso teria acontecido, e ela a desejaria, jamais a rejeitaria quando nascesse.
Entretanto o destino se encarregara de guiá-los para rumos diferentes e agora era impossível mudar tudo que acontecera.
Os anos se passaram, e as coisas haviam mudado. A escolha de Katie era dedicar-se ao seu trabalho, no momento a maternidade não estava em seus planos. Outras crianças fariam parte desse projeto, porém tomar conta delas não significava amá-las.
Não podia esperar que ela amasse Susannah, filha dele com outra mulher. Não como ele a amava, afinal era sangue do seu sangue e não suportaria se Katie não a amasse.
Nunca deixara de desejar Katie Beaumont. Mesmo quando ela abandonara a Inglaterra, tentou entender as razões e quis trazê-la de volta. Pensou que ela retornaria quando estivesse pronta para enfrentar a fúria do pai, mas ela não voltou.
Entretanto, não sabia o que a resposta dela à sua carta teria causado se não houvesse se casado com Nina.
Sonhos...
Contudo sua filha era real, não era sonho. Seria sempre sua, um amor incondicional para o resto da vida. Um amor que nada conseguiria destruir.
Quanto a Katie... bem, só o tempo poderia dizer.
Atração sexual era uma coisa, amor, outra bem diferente.

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