capítulo dez

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Capítulo X

Dez dias se passaram desde que Katie vira Carver pela última vez. Aquele longo espaço de tempo fez aflorar inúmeras incertezas e ansiedades em sua mente. Seria o fato de ter mencionado seu período fértil que o mantivera afastado até que não houvesse mais o risco de uma gravidez indesejada? Errara ao se referir àquela carta, complicando ainda mais as coisas ao invés de abrir uma porta para um entendimento entre eles?
Não sabia exatamente o que se passara na vida de Carver e que efeito a resposta tardia à sua carta teria causado.
Foi um alívio quando ele ligou outra vez, querendo vê-la. Katie concordou de imediato, precisava desesperadamente dessa chance para coordenar os pensamentos confusos. Desta vez, estava determinada a conseguir algumas respostas. Não cederia ao desejo de ir tão rápido para a cama com ele.
"Vá atrás dele..."
Descobrira o ponto exato para enfraquecer-lhe as defesas. Se sexo era o único trunfo que possuía, não hesitaria em usá-lo.
Carver sabia tudo que ela fizera durante os anos que estiveram separados. Lera suas referências. Sua vida era um livro aberto, porém a dele continuava com muitos pontos obscuros.
Quando o toque da campainha soou no apartamento, Katie estava totalmente vestida. As roupas serviriam de escudo contra seus próprios instintos, pensou ela. Ao girar a chave na porta para abri-la, mais uma vez sentiu-se dominada pelo aroma másculo, enebriando-a, testando sua decisão. Reuniu todas as suas forças para resistir à tentação de cair nos braços daquele homem. Seria maravilhoso!
— Olá! — exclamou ela firmemente, convidando-o a entrar. — Fiz café há pouco. Venha, sente-se e lhe servirei uma xícara, se gostar de café é claro.
Katie estremeceu quando percebeu o olhar provocante desvendando-lhe os anseios mais secretos. Contudo, a antecipação ardente nos olhos escuros de Carver fora substituída por um brilho irônico quando respondeu:
— Obrigado. Acho que estou precisando de um pouco de cafeína.
Carver conseguiu passar por detrás dela sem tocá-la. Aquela proximidade fez com que Katie sentisse os nervos aflorarem-lhe à pele. Com uma súbita dificuldade de respirar, dirigiu-se à cozinha para servir o café, notando que ele não fizera nenhum movimento para sentar-se. Simplesmente deteve-se a observá-la, acompanhando-lhe todos os movimentos.
— Leite e açúcar?
— Puro — respondeu ele, em um tom seco.
Enquanto Katie acrescentava açúcar em seu próprio café, Carver caminhou até a cozinha. Colocando a xícara sobre a pia, encostou-se ao batente da porta como se quisesse bloquear-lhe a passagem.
— Qual é o problema, Katie? O que está acontecendo? — perguntou suavemente. — Teve um dia longo, cansativo? Não me quer aqui hoje?
— Não... quer dizer sim — respondeu ela, sacudindo a cabeça, tentando raciocinar com clareza. — Eu quero falar com você, Carver. Acho que precisamos conversar, esclarecer algumas coisas entre nós.
Carver voltou a fitá-la com uma expressão zombeteira.
— O quê, por exemplo?
— Você me escreveu aquela carta. Sabe muito bem o que estava escrito nela. Ainda assim se casou com outra pessoa em seis meses. Não foi tudo rápido demais?
Carver encolheu os ombros.
— A falta de resposta à minha carta era coerente com o seu silêncio durante todos aqueles anos. Era como se eu já não existisse em seu mundo, Katie.
— Então, seguiu em frente e encontrou outra pessoa — retrucou ela, demonstrando toda a amargura que sentia, antes mesmo de considerar suas justificativas.
— Eu não estava procurando ninguém. Definiria minha relação com Nina como um momento de loucura, e ela pensava o mesmo em relação a mim.
"Nina", o nome da mulher que respondera àquele telefonema, identificando-se como esposa dele.
— Por que se casou se não estava apaixonado?
— Porque ela ficou grávida e havia uma criança a ser considerada.
"A filha dele." Aquelas palavras confirmavam suas dúvidas a respeito do nascimento da filha de Carver.
— Mas se os pais não se amam... Bem, na minha concepção, não podem proporcionar um ambiente saudável para uma criança — redarguiu ela, lembrando-se de quanto a notícia sobre o casamento dele a magoara. — Eu entendo que...
— Você não entende nada — cortou ele, encarando-a com um ar de desprezo. — Ficar grávida e ter uma criança não se enquadrava ao estilo de vida de Nina — continuou. — Ela era, por natureza, uma grande oportunista, arriscando-se de acordo com as chances que se apresentassem. Quando ficou grávida, pediu-me dinheiro para fazer um aborto.
— E você não aceitou isso.
— Eu paguei para que continuasse grávida e casei-me com ela, assim teria direitos legais sobre a criança.
— Você pagou para ter o bebê?
— Minha filha é um ser adorável, Katie — disparou ele. — Preferia que pagasse a Nina para se livrar dela?
Katie sacudiu a cabeça e se deu conta de quanto Carver amava aquela criança.
— Quando Susannah nasceu, Nina deixou o bebê comigo e seguiu sua própria vida do modo como gostava de viver, com uma quantia considerável para fazer tudo que sempre sonhou — explicou Carver.
— Simplesmente foi embora, abandonando tudo?
— Já tínhamos entrado em um acordo a respeito do divórcio e da custódia paterna. Meses mais tarde, ela morreu em um acidente de pára-quedas antes mesmo de completar um ano exigido para separação legal.
Katie sentiu-se chocada com aquelas revelações, e com elas veio um sentimento de pesar por tudo que Carver passara.
— Ela não se importou em deixar o bebê com você?
Carver deixou escapar um suspiro exasperado.
— Nina não gostou de ficar grávida. O único sentimento que ela expressou foi alívio quando tudo terminou.
Katie lamentou que aquele casamento tivesse sido tão terrível. Ambos ligados por uma criança que nada significava para Nina e era tão preciosa para Carver.
— Então, na realidade, sua filha nunca teve uma mãe? — perguntou ela, desviando o olhar do rosto atraente.
— Ela tem a mim. — O tom severo na voz de Carver instintivamente a fez recuar. Suas palavras pareciam significar que somente seu amor bastava para a criança, que nunca decepcionaria a filha. — Além do mais tem a minha mãe... nanna, como ela a chama, que a enche de amor e carinho — acrescentou, voltando a deixar claro que a mãe ainda vivia com ele. — Não pense que minha filha é uma criança rejeitada. Ela não é!
Katie empalideceu.
— Tenho certeza de que ela deve ser muito especial para você.
Atordoada, sorveu um gole de café, tentando recobrar sua capacidade de raciocínio, porém sua mente girava em torno da palavra amor. Carver não amara sua esposa, mas amava sua filha, um amor que tinha o apoio da mãe.
— Por que não se tornou um médico, Carver? — disparou ela.
— Perdi o interesse em satisfazer os caprichos de minha mãe — declarou sucinto, bebendo o restante do café e colocando novamente a xícara sobre a mesa.
Temendo que aquele gesto fosse um sinal de que ele iria embora, Katie decidiu explicar sua pergunta.
— Ao longo de todos esses anos sempre o imaginei formado em medicina. Você falava sobre especializar-se em cirurgia...
— Sinto muito desapontá-la — retrucou sardônico, demonstrando impaciência com as lembranças dela. Afinal de contas, por que tais recordações significariam alguma coisa? Jamais o procurara para fazer com que significassem.
Carver endireitou-se. A rejeição fria em seus olhos revelava que odiara ter de contar aquilo tudo. Não tinha que lhe dar satisfações. Ela estivera ausente todos aqueles anos.
Um sentimento de culpa pulsou dentro dela e, na tentativa de mantê-lo mais tempo ali, Katie decidiu prosseguir com o assunto.
— Não me desapontou, Carver. Apenas sua mãe era tão inflexível que achei que não deveria permanecer no seu caminho.
Depois de uma pausa, Carver fez uma carranca e contestou a afirmação dela.
— Você nunca ficou no meu caminho, Katie.
— Talvez... — Ela parecia escolher as palavras para não ofendê-lo. — Talvez eu tenha agido errado naquela época.
— Se tinha tal impressão, por que nunca me falou a respeito?
Katie deu um suspiro desesperado, reconhecendo tardiamente sua parcela de culpa por todos aqueles desencontros.
— Eu achava que ser médico era a coisa mais importante para você.
Carver fitou-a demoradamente, fazendo-a sentir uma onda de calor que se espalhou por todo seu corpo, enquanto lembrava o imenso prazer que proporcionavam um ao outro.
— E o que pensa agora, Katie? — perguntou suavemente, movendo-se em direção a ela. — De que adianta ficar nos martirizando? Nossas vidas tomaram rumos tão diferentes!
— Tem que ser assim? — Aquilo era ao mesmo tempo um protesto e um apelo.
Carver tomou a xícara de café das mãos dela e a colocou sobre a pia da cozinha. Promessas de sexo alucinante ardiam naqueles olhos ansiosos à medida que a enlaçava pela cintura, trazendo-a para mais perto.
— Considero nossa relação atual mais importante, não acha?
— Sim... — sussurrou Katie, incapaz de negar o desejo que sentia de estar nos braços dele.
— Então vamos esquecer o passado — murmurou ele, depositando-lhe beijos rápidos e sensuais na face que automaticamente se ergueu de encontro ao rosto dele. — E continuar.
— Até aonde? — Aquilo soou como um clamor do fundo do seu coração. Um clamor que o desejo físico que ele lhe provocava não respondia. Com um gesto carinhoso cingiu-lhe o pescoço, trazendo-o para bem perto de si. — Até aonde, Carver? — repetiu, buscando algum conforto emocional.
— Quem sabe? — respondeu ele, com um olhar penetrante. — Por ora, tudo que quero é isto.
De repente, Katie sentiu a boca provocante de Carver beijá-la sofregamente, dissipando qualquer pergunta adicional de sua mente dominada pela paixão. Era bem mais fácil esquecer tudo e abandonar-se por completo ao desejo incontrolável que ambos sentiam. Foram tantos anos solitários, e as sensações que ele lhe despertava eram tão intensas, que simplesmente não havia espaço para perguntas. Onde ou como, quando ou por quê.
No momento em que Carver beijou-lhe os seios, Katie lembrou-se de que foram eles que denunciaram sua identidade no baile de máscaras, e sentiu um certo orgulho por serem únicos, pelo menos para Carver. E o melhor de tudo fora o fato de saber que ele nunca amara outra mulher. Ainda era única na vida dele. Tinha que demonstrar, fazê-lo acreditar que estavam destinados um ao outro.
Excitadíssima, Katie ansiava que aquelas mãos fortes a despissem e a levassem para cama. Que a possuísse, dando vazão ao desejo sem limites que nutriam um pelo outro. Amava a visão da sua masculinidade, os músculos rijos, a sensação do seu corpo movendo-se contra o dela, ansioso pelo momento da entrega total.
— Katie, está tomando a pílula? — murmurou ele, beijando-lhe os ombros.
— Sim.
Carver não hesitou, não fez mais perguntas, não pegou nenhum preservativo, simplesmente moldou-se ao corpo dela, penetrando-a. A mente de Katie quase explodiu de felicidade. Ele deixara de lado a proteção, o último obstáculo que o mantinha separado dela. Talvez aquela conversa tivesse surtido efeito. Fora dolorosa mas necessária. Carver estava agindo como antes, quando confiava no seu amor.
Era tão maravilhoso senti-lo movendo-se tão quente, tão rijo, tão real, proporcionando a ambos um prazer avassalador. Katie sentiu uma imensa satisfação quando ele atingiu o clímax, uma carícia interna, profunda, de intimidade total. Sentindo a doce harmonia daquele ato, Carver deu-lhe um beijo cheio de ternura que encheu o coração de Katie de esperança.
Quando Carver a puxou para mais perto, acariciando-lhe a pele nua, era como se houvessem dado uma trégua, deixando de lado as feridas do passado, acreditando em um futuro. Katie não teve mais a sensação de que havia uma parede de tijolos ao redor dele, impedindo qualquer acesso à sua vida pessoal. Ele parecia disponível.
Mergulhou o rosto no peito másculo, sentindo o ritmo suave da respiração dele. Todos aqueles anos, não tivera coragem de lutar por um amor que convencera a si mesma que estava condenado. Mas agora se sentia pronta a conquistá-lo.
— Carver?
— Humm... — respondeu, sonolento, traçando-lhe gentilmente com os dedos os contornos do corpo.
— Dez dias é muito tempo sem ter notícias suas.
Carver deu um longo suspiro e passou a mão por entre os cabelos dela.
— Não tente me prender, Katie. Tenho outros compromissos. Precisamos de tempo.
Para Katie, já haviam perdido tempo demais, mas não se sentia no direito de exigir nada.
— Não gosto de sentir que posso perdê-lo novamente.
— Não farei promessas, Katie — disse ele, em um tom suave, acariciando-lhe os cabelos calmamente. — Você tem um negócio para dirigir. Eu tenho uma família para manter unida. Vamos apenas esperar para ver o que a vida nos reserva.
Katie disse a si mesma que deveria se conformar com aquilo. Por enquanto...

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