Capítulo XV
Minutos depois de Katie concluir a última viagem pela manhã, a campainha do telefone do seu carro soou. Provavelmente seria mais uma chamada de trabalho que não estava disposta a aceitar naquele momento. Planejara ir a uma loja de roupas usadas durante a semana, na qual pretendia alugar um vestido para usar no Baile Anual dos Financistas. Porém, havia passado os últimos dias trabalhando até tarde e, quando se deu conta, já era quinta-feira. O tempo estava se esgotando, pois o baile seria no dia seguinte. Portanto, pensaria duas vezes antes de aceitar qualquer trabalho extra aquele dia.
Estendendo o braço, Katie ativou o receptor e suspirou aliviada ao ouvir uma voz familiar.
— Alô, Katie? Sou eu, seu pai. Já terminou o serviço desta manhã?
— Sim, papai.
— Então venha almoçar comigo.
Ela praguejou baixinho ao ouvir o convite inesperado. Disporia de tempo para mais esse compromisso? Devido aos acontecimentos sociais dos últimos dois domingos, não via o pai havia quase três semanas.
— Onde você está? — perguntou ela, preocupada com a distância que deveria percorrer. — Estou indo em direção a Chatswood. Preciso alugar um vestido de baile para...
— Alugar? Você quer dizer alugar um vestido usado? Pretende ir a um baile com Carver Dane com um vestido usado?
— Ora, papai, ninguém notará.
— Katie, vire à direita agora mesmo e volte para a cidade — comandou ele, autoritário. — Deixe o carro no estacionamento do Opera House. Pagarei a taxa.
— Mas, papai, isso está completamente fora do meu caminho — protestou. — Não tenho muito tempo...
— Se Carver Dane dispôs de tempo para almoçar comigo ontem, minha filha pode fazer o mesmo hoje — declarou ele.
— Carver? Você almoçou com Carver?
— Bem, estarei esperando no Oyster Bar, do Quay. Está uma ótima manhã para comer ostras.
— Papai...
Ele desligou o telefone. Era inútil pensar em ligar de volta, ele não atenderia. Sem dúvida, jogara a isca perfeita para atraí-la. O vestido de baile poderia esperar, entretanto a vontade de saber o que se passara entre seu pai e Carver era instigante.
Aquilo a deixara intrigada e apreensiva.
Seu pai resolvera contatar Carver justo naquele momento delicado da relação deles, provavelmente decidindo ao seu bel-prazer, como sempre, que, com sua ajuda, tudo se resolveria para a filha.
Katie rangeu os dentes furiosa diante da arrogância do pai. Será que não percebia que aquela interferência, especialmente da parte dele, seria mal recebida? Teria imaginado que se oferecesse um pedido de desculpas, desculpas muito atrasadas, poderia ajudar? Nesse caso, como Carver teria reagido a isso?
Com o coração pulsando acelerado e a mente agitada pela curiosidade, Katie pegou a estrada que a levava até Harbour Bridge. Um desperdício de tempo, porém, não podia deixar de se preocupar com os efeitos da intromissão dele.
Para ser franca, não precisava de mais essa complicação, o encontro com a mãe de Carver no último domingo já fora bastante difícil. As decisões predeterminadas de Lillian Dane poderiam ter sido bem-intencionadas, mas dificilmente ajudariam seu relacionamento com Carver.
Após a conversa que tiveram, a mãe de Carver esforçara-se para tratá-la como uma convidada bem-vinda. Entretanto, era impossível afirmar se aquilo não fora apenas uma tentativa para agradar o filho e a neta do que propriamente um sinal de amizade a uma mulher que planejara evitar até onde fosse possível.
Contudo, Carver ficara satisfeito com o resultado daquele encontro. Acreditou ter estabelecido uma ponte entre o passado e o futuro onde não havia lugar para rejeições. Katie não lançou nenhuma dúvida sobre essa convicção, esperava, sinceramente, que ele tivesse razão. Agora, porém, o ponto chave da questão era se o mesmo ocorrera entre Carver e o pai dela.
Embora fosse quase meio-dia, o tráfico fluía normalmente, e Katie chegou a tempo de encontrar uma vaga no amplo estacionamento do Opera House. Desceu do carro e caminhou até o Oyster Bar onde encontrou o pai sentado em uma das mesas ao ar livre, admirando a linda vista do terminal marítimo Circular Quay. Um prato de conchas de ostras vazias demonstrava que o seu apetite não diminuíra e esperava que isso fosse um bom sinal.
— Ah, aí está você! — exclamou ele com um sorriso complacente, puxando uma cadeira para Katie se sentar.
— O que disse a Carver? — perguntou ela, com aspereza.
— Calma, calma. Cada coisa a seu tempo — respondeu, sinalizando para o garçom. — Uma dúzia de ostras para minha filha e outra para mim. Uma porção de torradas e dois cappuccinos. Minha filha está com um pouco de pressa.
Katie procurou conter sua impaciência. O garçom afastou-se, deixando-os sozinhos.
— Como pôde, papai?
— Como pude o quê? — retrucou, fitando-a com ar inocente.
— Interferir de novo em minha vida — disparou Katie.
O pai franziu a testa.
— Você preferia que eu recusasse o convite de Carver para almoçar?
— Carver?
— Sim, ele me convidou, Katie. Acho que não gostaria que eu o esnobasse.
— Não, claro que não — vacilou ela. — O que ele queria com você?
— Oh, imagino que poderíamos chamar isso de uma base de contato. — Veio a resposta um pouco irônica. — Um modo diplomático de aplacar o que aconteceu no passado. O meu pedido de desculpas, igualmente diplomático, foi aceito.
— Não houve nenhuma briga?
— Katie! — repreendeu ele. — Eu prometi que não seria injusto desta vez.
Ela suspirou fundo para aliviar a tensão.
— Carver estava claramente preparado para lutar com palavras. — O pai prosseguiu: — Porém, não fez oposição alguma a mim. Entendemo-nos e tivemos um almoço muito agradável juntos.
— Nenhuma discussão?
— Apenas um pequeno estratagema até que as posições ficassem claras. — Os olhos dele brilharam divertidos. — Pare de se preocupar. Nós nos tratamos com respeito mútuo.
— Respeito mútuo — repetiu ela, desejando saber por que Carver tomara aquela iniciativa. Ele poderia ter esperado até que ela organizasse um encontro. Por outro lado, talvez uma conversa de homem para homem fosse mais facilmente conduzida sem ela estar presente.
— Ele se transformou em um jovem muito brilhante — o pai comentou.
— Carver sempre foi brilhante.
— Bem, não vou discutir isso com você. Apenas queria que soubesse que seu bom e velho pai só quer vê-la feliz, Katie. Se Carver Dane for a sua escolha, também será a minha.
Katie fitou-o com uma expressão de dúvida.
— Realmente o aceita dessa vez, papai?
Ele meneou a cabeça em afirmativa.
— Se tivesse que escolher para você, Carver definitivamente seria o pretendente número um.
Katie relaxou com um sorriso.
— Agora, fale-me sobre esse tal baile.
— Carver convidou-me para acompanhá-lo. Todas as pessoas da área financeira estarão lá. Será uma noite de contatos para ele.
— E quando será?
— Amanhã à noite no Sheraton.
Naquele instante o garçom retornou com o pedido. Katie, que agora estava mais relaxada, saboreou as ostras com um apetite voraz.
— Isso está muito bom! — declarou satisfeita. — Obrigada, papai.
— É um prazer. E me daria mais prazer ainda se me permitisse comprar-lhe um vestido de baile.
Ela o fitou de soslaio.
— Por favor não comece a querer manipular minha vida novamente. Só porque...
— Katie, há muito tempo que não me deixa comprar-lhe nem sequer um alfinete — disparou ele, com uma carranca — Um pai tem direito de dar à filha umas bugigangas de vez em quando.
— Um vestido de baile não é uma bugiganga.
Ele fez um gesto de repúdio com a mão, e Katie percebeu que o custo era irrelevante para o pai. Não hesitaria em jogar uns mil dólares fora em um vestido que provavelmente só seria usado uma vez. Estaria sendo muito radical no que se referia à sua independência? Seu pai estava se esforçando para derrubar a barreira criada entre eles. Talvez estivesse na hora de fazer-lhe a vontade.
— Não pode acompanhar Carver a um baile com um vestido alugado — insistiu ele. — Ele estará lá para impressionar possíveis clientes e... Droga, Katie! Você é minha filha! Carver a apresentará a todas aquelas pessoas do topo do mundo das finanças, e eu não quero que vá com uma roupa usada.
Orgulho!
Não havia como escapar. Bem, tratava-se apenas de um vestido, e ela o aceitaria se aquilo o fizesse feliz.
— Admito que deveria ter patrocinado seu negócio quando me pediu — continuou ele. — Admito também que cometi muitos erros. Mas, Katie...
— Certo, papai.
As palavras o pegaram de surpresa.
— Certo o quê?
Katie tornou-lhe um sorriso.
— Pode me comprar um vestido de baile. Contanto que façamos isso bem depressa porque tenho que voltar ao trabalho.
A face do pai iluminou-se com um prazer triunfante.
— Garçom, a conta! Beba o resto do café agora mesmo, Katie. Vamos às compras, minha menina. Carver Dane ficará orgulhoso de você amanhã à noite!
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Baile De Máscaras
Storie d'amoreParecia ser só uma aventura... Quando Craver Dane, sócio de uma das maiores instituições financeiras de Sidnei, foi a um baile de máscaras, esperava se divertir com uma mulher que lhe despertasse as mais loucas fantasias e aplacasse seu desejo arden...