Capítulo XVI
Mirando-se no espelho, Katie sentiu-se como se estivesse usando um modelo de um milhão de dólares. Em shantung de seda pura vermelha, bordado com dourado, o deslumbrante Versace, deixava os ombros à mostra e realçava os contornos bem-feitos do seu corpo, como se houvesse sido confeccionado sob medida para ela.
Uma linda pulseira de ouro e um par de longos brincos eram os complementos perfeitos. Katie prendeu uma presilha de strass nos cabelos, puxando-os para trás e deixando o restante solto, como uma cascata de cachos escuros que lhe emolduravam o rosto de traços suaves.
Quando a campainha tocou, anunciando a chegada de Carver, seus olhos brilharam com o prazer de concluir que nunca parecera mais bela. Seu pai tinha razão a respeito de certas coisas. Gostaria que Carver sentisse orgulho por tê-la em sua companhia naquela noite. Afinal, apresentá-la em público significava outro passo positivo na relação deles, e aquele vestido certamente a fazia sentir-se mais segura.
Sorrindo ao se lembrar das palavras que o pai usara no dia anterior, Katie abriu a porta. Porém, ao ver Carver, incrivelmente bonito, usando um elegante terno preto, esqueceu-se por completo da própria aparência.
Ela o amava. A simples visão daquele homem era suficiente para que seu coração pulsasse acelerado.
Os dois fitaram-se intensamente por vários segundos. Carver deu um longo suspiro. Os olhos escuros como a noite fitavam-na com tamanha intensidade que penetravam na alma de Katie. Ela desfrutou aquele instante de pura magia, que trouxe à vida uma certeza de que nada mais poderia dar errado. Nunca mais!
— Sinto-me muito honrado por me acompanhar esta noite — murmurou Carver.
Katie suspirou fundo, e seus lábios curvaram-se em um sorriso radiante de alegria.
— Você é a única companhia que eu sempre quis, Carver.
Aquela resposta impulsiva evocou uma sombra de dor nos olhos dele.
— Podemos ir? — perguntou ele, esboçando um meio sorriso.
— Sim — respondeu Katie avidamente, recriminando-se por não ter imaginado que aquelas palavras o feriam.
Porém, quando Carver a tomou pelo braço, conduzindo-a em direção ao carro, tudo parecia perfeito novamente. Ele abriu a porta para que ela se acomodasse no interior do veículo. A capota do Audi estava fechada, e Katie ficou satisfeita. Isso evitaria que seus cabelos esvoaçassem ao sabor do vento.
Katie recostou-se no assento e observou Carver sentar-se ao volante e fechar a porta do motorista, deixando-os prisioneiros em um pequeno mundo íntimo, só deles. "Apenas nós dois", pensou ela, enquanto ele colocava a chave na ignição. "Do nosso modo, juntos, realmente juntos".
Carver segurou a chave, dizendo a si mesmo para acionar o motor e dar partida no carro. Katie desejava esquecer as lembranças do passado, deixar tudo para trás. Sem dúvida, o que ela dissera à sua mãe era sincero, queria que aquela história triste ficasse esquecida e enterrada. E, afinal de contas, ela estava ali ao seu lado e todo seu capricho e esmero demonstrava isso.
O que tornava mais difícil apagar de sua mente a injustiça que cometera com ela, e que influenciara na sua mudança de atitude. Pensando nisso, Carver não conseguiu girar a chave de ignição. Não iria a lugar algum enquanto não esclarecesse tudo.
Inclinando a cabeça para trás, tomou gentilmente as mãos de Katie entre as dele, precisava daquele contato físico para diminuir o peso no coração.
Ela o fitou confusa. Sua expressão indicava que não entendia por que Carver não dera partida no carro.
— Sempre achei que nunca me amou tanto quanto eu a amei, Katie. A julgar pelo modo como agiu, fugindo.
Ela respirou fundo, sentindo-se claramente atacada.
— Porém, estava errado — afirmou Carver, depressa. — Agora sei que me deixou por causa de tudo que minha mãe lhe disse no hospital, quando os médicos estavam tratando da minha mandíbula quebrada. O rancor dela aliado à violência do seu pai... Bem, você imaginou que seria melhor para mim se saísse da minha vida.
— Sim — sussurrou Katie. — Não queria que sofresse por minha causa, Carver. E sua mãe...
— Ela me contou, Katie.
— Quando? — perguntou, visivelmente surpresa e desconcertada.
— Alguns dias atrás.
— Depois de domingo?
— Sim. Nunca soube de nada durante todos esses anos. Desde que partiu, imaginei que tivesse conhecido outra pessoa mais interessante e...
— Não — interrompeu ela, com os olhos rasos de água, apertando a mão dele com força.
Carver, percebendo que usara um tom amargo, tentou corrigir.
— Não poderia condená-la por isso, depois de ter sido tratada daquele modo por minha mãe. O que estou tentando explicar é que, naquela ocasião, deixei de acreditar nos seus sentimentos em relação a mim, por isso quando nos encontramos meses atrás, não permiti uma aproximação maior entre nós.
Katie deu um longo suspiro, mas permaneceu em silêncio.
— Por que não me contou nada, Katie? Fui injusto com você.
— Ela é sua mãe, Carver. Você não acreditaria em mim.
Aquilo era uma verdade que ele não podia contestar. Até mesmo a confissão da mãe, admitindo seu próprio veneno, deixara-o assustado. Ela aproveitara a oportunidade para fazer Katie sentir-se a mais baixa das criaturas, ofendendo-a com termos grosseiros, acusando-a de ser egoísta e de arruinar a vida do filho.
— Foram mentiras, Katie, mentiras sobre o efeito que a nossa relação causava em mim e em meus estudos. Mentiras sobre eu querer abandonar tudo por sua causa. Ela a odiava porque você pertencia a uma classe privilegiada, comia com talheres de prata, enquanto ela trabalhara duro durante toda a vida, para me dar as chances que nunca teve. Para minha mãe, ser médico representava sucesso em todos os níveis, e ela imaginou que você colocaria tudo a perder.
— Talvez fosse verdade... — Veio o comentário sóbrio.
— Não. Eu teria me direcionado para qualquer outro ramo, desde que nos garantisse um bom futuro. Minha mãe simplesmente não podia agüentar que Katie Beaumont fosse o foco principal da minha vida em vez dela.
— Imagino que meu pai pensasse do mesmo modo.
— Pais possessivos — ele concordou severamente. — Porém, minha mãe foi mais destrutiva. O modo como ela a tratou...
— Não quero recordar isso agora. Vamos deixar o passado para trás.
— Sinto muito. Eu apenas...
Aquilo tudo era novo para ele, mas Katie convivera com isso durante todos aqueles anos e superara.
— Foi muito generoso da sua parte perdoar-lhe — disse ele com profunda sinceridade. — Na realidade, foi o modo como tratou minha mãe, domingo passado, que a deixou envergonhada e a fez confessar o que fizera.
— Boa parte disso deve-se ao meu pai, também, Carver. Para mim, foi um choque atrás do outro.
— Eu compreendo. Agora tudo faz sentido. Sinto muito por tê-la julgado tão severamente pela decisão que tomou.
— Sua mãe me pediu que não lhe contasse nada.
— Acho que essa promessa finalmente a forçou a ser justa com você, Katie. — Ele roçou o dedo polegar sobre a pele macia em uma carícia. — Pode me perdoar por duvidar dos seus sentimentos?
— Você tinha motivos para isso, Carver — disse suavemente. — Eu deveria ter lhe contado. — Os olhos dela brilhavam cheios de emoção. — Mas prometi... Quero que saiba que é, e sempre foi, o único homem que amei.
— E você a única mulher que amei em toda minha vida — retrucou Carver. — Eu disse isso ao seu pai na quarta-feira.
Katie parecia confusa.
— Ele não me contou nada.
— Eu queria que ele soubesse que pretendia me casar, se você me quiser.
— Casar? — sussurrou ela, como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo. Seus olhos brilharam com a visão de um sonho que se tornara realidade.
Carver retirou do bolso uma caixinha de veludo, que planejara entregar durante aquela noite. Porém, não pôde esperar nem mais um segundo sequer. Chegara o momento certo. Abriu a caixa e ofereceu-a a Katie.
— Dizem que os diamantes são eternos. Quer se casar comigo, Katie?
Ela contemplou o anel de ouro com um diamante solitário por alguns segundos e, em seguida, voltou a fitar Carver. Não havia nenhuma sombra de dúvida em seus olhos, que transbordavam de emoção.
— Claro que sim! Quero me casar com você e construir uma vida ao seu lado para sempre.
Ele a tomou nos braços e cobriu-lhe os lábios em um beijo apaixonado. Ansiava por fazer amor com ela ali mesmo, mas isso teria que esperar.— Minha noiva, Katie Beaumont.
Toda vez que Carver proferia aquelas palavras, apresentando-a aos representantes mais ilustres do mundo empresarial, Katie se sentia irradiante. Era difícil deixar de contemplar o magnífico diamante em seu dedo anular. O anel que evidenciava que estavam noivos e que iam se casar, símbolo de um amor que resistira ao tempo e que prometia ser eterno, a despeito de todos os contratempos que o futuro pudesse lhes reservar.
Katie imaginou que seu pai adivinhara o que Carver pretendia fazer naquela noite. Por isso insistira tanto em comprar um vestido especial. Um presente de amor, pensou ela.
A confissão de Lillian Dane ao filho também fora um presente de amor.
O pai dela e a mãe dele, ambos haviam se redimido do passado da melhor forma possível.
— Katie?
Era a voz de Amanda?
Katie voltou-se e fitou a velha amiga de escola que estava de braço dado com o marido. Ambos expressando incerteza quanto à identidade dela.
— É você! Por que não me disse que estaria aqui? — exclamou Amanda de queixo caído. — Puxa, está deslumbrante!
— Ela está realmente maravilhosa, não é mesmo? — Carver concordou, aproximando-se para uma saudação mais formal.
— Boa noite, Amanda... Max.
— Carver! — Os olhos de Amanda quase pularam das órbitas.
— Que bom vê-los juntos — disse Max.
— Que bom vê-los, também — Katie respondeu, exultante. — Olhe, Amanda! — exclamou ela, exibindo o anel de diamantes.
— Não acredito! Um diamante! — gritou a amiga, olhando para Carver boquiaberta.
Ele tornou-lhe um sorriso, e Katie fez um gesto de assentimento.
— Um pedido de casamento em menos de duas semanas? — perguntou Amanda incrédula.
— Oh, eu diria que levaram aproximadamente dez anos — Carver retrucou bem-humorado.
Amanda deu um suspiro de satisfação.
— Eu sabia que era só uma questão de pô-los frente a frente — concluiu, segurando o braço do marido. — Nós conseguimos, Max.
No fundo do salão, a orquestra começou a tocar uma valsa. Carver fitou Katie com um olhar insinuante.
— Dança comigo, Carmen?
— Segui-lo-ei até onde quiser — ela respondeu divertida.
— Por que você a chamou de Carmen? — indagou Amanda, em um misto de curiosidade e desconfiança.
Carver deslizou o braço ao redor da cintura de Katie e, com um sorriso cínico nos lábios, elevou a outra mão para Amanda em um gesto de saudação.
— O pirata mascarado agradece por ter nos aproximado.
— O pirata mascarado? — Amanda ficou perplexa ante a constatação. — O rei dos piratas?
Sim, Carver seria o seu rei para sempre, Katie pensava, enquanto rodopiavam pela pista de dança, afinados com a música que soava no ar e maravilhosamente sintonizados entre si. O desejo arrebatador, que se acendera naquele baile de máscaras, voltava com uma intensidade ainda maior. Seus corpos ansiavam pelo contato sensual e exultavam com a certeza da felicidade que o futuro lhes reservava.
— Esta dança jamais terá fim, Katie — Carver sussurrou-lhe ao ouvido.
— Nunca mais vamos nos separar — ela murmurou, com a voz trêmula de emoção.
Carver puxou-a mais para si, movendo-se como se fossem um só.
Nem muito cedo, nem muito tarde. Tudo acontece no momento certo.
***FIM***
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Baile De Máscaras
RomanceParecia ser só uma aventura... Quando Craver Dane, sócio de uma das maiores instituições financeiras de Sidnei, foi a um baile de máscaras, esperava se divertir com uma mulher que lhe despertasse as mais loucas fantasias e aplacasse seu desejo arden...