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- ANOS DEPOIS DO PRESSÁGIO –


- Mamãaaaaae!

- Oi, meu amor! Que foi?
- Tô com fome.
Sorri pra não falar outra coisa.
- A quem você puxou tão esfomeada?
- O que é osfomidada?
Cai na gargalhada.

- É esfomeada. Pessoa que só vive com fome.
- Ah! Sou eu não. Eu binco também.
- E dorme, sua dorminhoca.
Nick franze a testa.
- O que foi?
- Eu sou minhoca?
- Ai meu deus, Nick. Hoje você tá criativa demais. Vem que a sua comida vai esfriar.
- Eca, mamãe, que isso, naum.
- Quer o quê?
- Leitinho na minha nanadeira.
- Mas a Nick está uma mocinha, já conversamos, tem que comer que nem a mamãe.
- Sô bebê. Quelo minha nana.
- Não regride, Nick.
Às vezes eu perdia a paciência com Nick, eu não pensava em ser mãe, ela chegou tão ... tão... ah, deixa pra lá.
- Vai dá leitinho? - começando a chorar
- Tá bom. Mamãe faz uma vitamina e coloca no copo da princesa. Que tal?
Ela ama esse copo da princesa.
- Tá bom.
Eu olho pra ela, aquele ser tão pequeno e indefeso, mas que fazia meu mundo completo, ela virou minha vida de pernas pro ar, me tirou o foco, mexeu com meus sonhos, meus planos, no entanto, não me arrependo de nada, de nenhum momento. Sabia que não seria fácil criar ela sozinha, mas tinha certeza que era o certo a fazer, pelo menos até me estruturar novamente.
- Que foi, mamãe?

- Te amo, minha princesa.
Ela veio com aquele sorrisinho fofo e jeitinho meigo e me abraçou, aquilo pagava tudo.
- Te amo, mamãe. ( melhor frase do mundo)
Agora eu tinha um plano que não era 100% certo, mas o que é 100% de certeza? Nunca temos porque as coisas não depende só da gente. Não posso mais adiar, muita coisa está em jogo. Me aperta o coração só em pensar no que vai acontecer, mas hoje sei que pode ser uma boa saída.
- Mamãe vamos bincar.
Ela sempre quebrava meu silêncio interior e confundia meus pensamentos.

- Ãh?
- Bincaaar.

- Primeiro um banho bem gostoso. A senhorita acordou com tanta fome que nem fez suas higienes, né?
Ela deu aquela risadinha que amo e escondeu o rostinho atrás das mãos como se tivesse envergonhada.
- Mas depois a gente vai binca?
- A gente vai viajar.
- Viajar? A Luka vai?
Luka é uma boneca dela.
- Vai sim.
- E a Lana? E a Bela? E o Dudu?
- Tooooodo mundo vai.
- Ebaaaaa!
Hoje mesmo começaria a colocar o plano em prática e pelo visto o carro ia cheio de bonecas e pelúcias.
- Vamos, Nic!
- Cadê minha mala?
- Ô espertinha, é uma viagem, mas a gente volta hoje e tudo que a gente precisa tem na bolsa da mamãe.
- Queo uma bolsa também.
- Vamos ver qual combina com sua roupa.
- Essa aqui.
- Boa escolha, mor. Agora vamos.
- E o lanchinho?
- A gente compra no caminho.
- Mas tem que ser futinha puque é saudável.
- Isso mesmo amor, mamãe pegou umas frutinhas, agora vamos senão a gente se atrasa e não vê ele.
- Ele quem?
- Um amigo.
- A gente vai ver um amigo? Como é o nome dele?
- É uma surpresa.
- Ele é legal?
- Eu espero que sim.
- Ele tem namoada?
- O quê? Ah, namorada. Que eu saiba não. Por quê?
- Hummmm!
- Você anda assistindo muito filme de amor – às vezes me pergunto quantos anos ela tem, deve ser a convivência restrita a mim que faz ela ser assim. Acabo conversando com ela como se fosse adulta.
- Ele é...
- Ele é um anjo, um guardião.
- Um anjo de vedade? – ela pergunta espantada porque até hoje sô tinha visto anjos nos livros e nos filminhos.
- É, Nick. Você vai gostar dele.
Eu estava um pouco tensa, mas ela estava tão ansiosa e curiosa, me enchendo de perguntas que até me fez relaxar ao lembrar das possíveis qualidades dele, qualidades essas que me fez tomar essa escolha.
Enfim chegamos! Chegar até meu alvo foi mais fácil do que pensei, mas pra quem tem informantes tudo é mais fácil.

- Nick, olha ali.
- O quê?
- O anjo que te falei.
Ela abriu bem os olhos e procurou curiosa.
- Onde?
- Aquele homem de bege.
Esqueci que ela ainda não conhecia bem as cores.
- Aquele moço ali que tá tirando a foto com a menina.
- Cadê as asas dele?
- Asas?
- Você disse que é um anjo.
- Ah! As asas dele estão guardadas.
- Em baixo da blusa?

- Não sei.
- Vamos.
Ela esperneou para eu colocar ela no chão. Ela me puxou forte.
- Vamos logo, mamãe.
- Pra onde?

- Falar com o anjo.
- Ah não, amor. A gente não podeir lá.
- Puquê?
- Você não está lembrando dele?
Ela franze a testa e põe o dedinho na cabeça como tivessepensando.
- Não conheço.
- É aquele cantor.
- Qual?
- Que voa.
Eu me referi ao dvd do rio em que Luan voa durante a música"vou voar".
- Ah!
Ela não estava confiante, não lembrava. Ela era muito pequena prafazer parte de um plano assim, talvez não desse certo. Mas tenho que ter calma,era só o começo, acho que eu não fiz um bom trabalho com relação a isso, quandochegar em casa vou fazer ela gostar mais dele.
- Mamãe! Mamãe! Ele tá indoembora.
- Deixa ele ir, meu bem, depois a gente vê ele de novo.
Quer conhecer ele?
- Quelo ver as asas.
Sorri.
- Da próxima vez você fala comele. Vamos pro parque?
Ela me olhou feliz.
Passamos o resto do dia no parque, foi inesquecível, minha pequenaestá muito esperta, se divertiu demais.
- Hora de ir.
- "Pa" casa?
- Ainda não.
Eu precisava falar com umas pessoas, saber como foi o dia de umcerto rapaz. Eu precisava de provas que ele era mesmo amoroso e responsável.
Voltamos para o hotel e num segundo que fico falando com umconhecido, num piscar de olhos, Nick desaparece.

O GUARDIÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora