6° Capítulo

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Parei na casa grande, fina e cheia de luxo. Eu havia dado esse endereço para o Desconhecido, pois não queria que ele soubesse onde realmente moro. Dei o endereço de uma casa nem tão próxima da minha, mas nem tão longe pra que a carona não fosse em vão.
Andei mais ou menos duas ruas e cheguei na minha casinha. Ela é pequena, primeiro andar porém minúscula. Todas as janelas são quebradas, a porta é de madeira e toda vez que é aberto, parecendo que está em um filme de terror.
As paredes são pintadas de verde e laranja, a anos não são pintadas. Pretendo quando tiver dinheiro reformar tudo, mas isso vai demorar muito.
A varanda está quase caindo aos pedaços, o piso de madeira é um perigo eminente, temos que tomar cuidado em qual madeira pisar ou o chão afunda. Tentei concertar diversas vezes, mas não nasci pra ser carpinteira.

Meu marido estava no sofá verde, sentado com os pés encima da mesa de madeira de centro que ganhei da minha mãe. Encima do sofá vejo dois sacos de salgadinho e duas Coca-Cola. Passava um filme de terror e um cheiro de queimado tomava todo lugar.

- Boa tarde!

Ele se virou, desligou a TV com raiva e ficou me encarando.

- Onde esteve?

Fiquei calada, não queria acabar com o meu dia, não queria destruir tudo que vivi hoje por culpa dele.

- Fala! Estava bebendo é óbvio! Quantas vezes eu já...

- Eu não sou ELE!!!

Gritei entrando na cozinha e vendo a sopa que ele estava tentando fazer queimando no forno.

Ótimo! Agora vou ficar sem jantar.

- Você deveria me ouvir quando falo que mulher minha não deve beber.

- Mas eu...

Fiquei calada, não queria descutir e já não tinha mais o que dizer. Eu não podia ficar apenas na defesa ou confirmando que bebi, tinha que dizer onde passei a noite, com quem e como cheguei ali... E o mais grave, porque cheguei quase três horas da tarde.

- Olha... Eu já expliquei diversas vezes esse assunto.

Ele falava se aproximando de mim e segurou meus braços me prendendo na pia e me olhando nos olhos.

Eu sou firme, eu sou briguenta, tenho todas as respostas na ponta da língua e consigo fazer quem eu quero ser intimidado... Menos com ele... Menos ele... Ele era o meu maior medo.

- Não vai voltar a beber ou não sairá de novo, nem mesmo pra estudar.

Ele saiu e voltou a assistir.
Olhei para a sopa queimada, eu não estava com fome mesmo... Subi os degraus que pareciam querer desabar a cada passo forte que eu dava.

Me joguei no colchão e segurei as lágrimas. Logo ele iria subir para dormir, eu tinha que parecer forte, principalmente pra ele ou vou ser ainda mais intimidada.

No andar de baixo temos uma sala pequena que sempre tem pacotes de pizza espalhados, garrafas de refrigerante, bolas de futebol e até cuecas. Também tem a cozinha, onde o fogão está sempre sujo e a geladeira vazia. No andar de cima temos um quarto e um banheiro. No quarto temos dois colchões de solteiros unidos para fingir ser uma cama de casal no chão. Várias caixas com nossas roupas e um baú onde guardamos roupas íntimas como calcinha, sutiã e cuecas. Mas quase nunca Kairo coloca suas cuecas ali.

Kairo tem problema com pessoas que bebem, odeia todos os que consomem álcool e isso me inclue. Odeio quando ele fica tão furioso assim, é age pior do que a indiferença que ele me trata todos os dias. Sempre consigo fugir para beber e na maioria ele não descobre.

Hoje eu tinha vivido algo único, tinha feito o que eu queria e não o que outro me impôs a fazer.

Minha mãe sempre quis impor coisas a mim, como ser enfermeira, me casar com Jered, um fazendeiro rico da região que era apaixonado por mim e seguir feliz como em um conto de fadas.
Já o Kairo... Sua mãe trabalhada de diarista, fazia faxina em todo canto e quase sempre passavam fome pelo salário ser muito pouco para ela e seus três filhos, cujo os pais eram desconhecidos. Ela então começou a se prostituir pensando em dar uma vida melhor aos seus filhos, não precisava ser tão boa, mas pelo menos ter o que comer. No início ela achou maravilhoso, estava na flor da idade e tinha energia de sobra, ganhava dinheiro e podia dar aos filhos o que queriam. Quando Kairo fez 14 anos notou que aquilo que a mãe fazia era errado, mas não foi a tempo de ajudá-la.
Em uma noite a mãe dele foi para a rua, pro seu ponto mais especificamente, lá ela encontrou um homem, milionário, com um carro preto e muito lindo. Ele a levou dizendo que iria apenas tranzar em um motel que sempre quis entrar e nunca mais a vimos... Tudo isso foi confirmado pelos investigadores, por ter testemunhas no lugar, mas ninguém sabe o que ouve após isso.

Só sabemos que o homem estava bêbado... E está aí o trauma do pobre Kairo.

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