Capítulo 15

2.8K 390 34
                                    


SEM REVISÃO

Lentamente consigo abrir meus olhos. Uma dor chata no ombro me irrita. Observo ao redor, percebendo que estou em um quarto de hospital.

Os fatos anteriores invadem minha mente, relembrando o tiro que ganhei. Vadia de merda, se não tivesse morrido eu mesma a teria matado, e seria lento.

Jogo as pernas para fora da maca, e levanto. Minhas pernas estão moles, consequentemente vou ao chão. Minha cabeça gira e ofego pela dor repentina no meu ombro.

— Droga!

A porta abre bruscamente. Collin que até então segurava um copo vem até mim, deixando o mesmo cair no chão. Ele me segura pelas axilas, me deitando de volta.

— Que merda você está fazendo?

O latejar insistente no ombro me faz ofegar.

— Não vou ficar aqui. — digo. Vejo ele pegar um aparelho e apertar duas vezes.

Não demora muito e um homem entra no quarto. Esta vestido de branco da cabeça aos pés, cabelos grisalhos e barriga saliente.

— Vejo que já acordou. — ele diz. — Com se sente?

Ele se aproxima e tenta me tocar. Seguro o pulso dele, apertando para trás. Ele grita de surpresa e dor.

— SOLTA ELE HASINA!

Collin puxa minha mão e solto o pulso do homem. Ele cambaleia para trás, segurando o pulso contra o peito.

— Sinto muito, Dr. Hunter. — Collin diz. — Pode nos dar licença por um instante?

— Claro.

Ele olha para mim e rapidamente sai do quarto, fechando a porta.

— Ele está tentando te ajudar!

— Ele não vai me tocar! Eu vou embora daqui.

Outra vez tento levantar, mas Collin me empurra para trás.

— MERDA!

Fuzilo ele com os olhos, sentindo meu ombro doer mais ainda. Respiro fundo, tentando aplacar a raiva e dor.

— Diz para ele não me tocar. Ou irei quebrar pescoço em vez do pulso. — aviso.

Collin suspira exasperado. Titubeia por alguns segundos e depois sai do quarto. Faço outra revista pelo quarto e encontro uma bolsa. Devagar levanto e vou até ela. Puxo o zíper, mostrando algumas peças de roupas feminina. Tiro tudo para fora, observando que são do meu tamanho.

Sem delongas retiro a camisola do hospital. Com certa dificuldade eu visto a blusa, o tecido raspa na gaze do curativo fazendo minha respiração aumentar.

Assim que termino de colocar a calça, a porta abre. Collin e o Dr. Hunter olham para mim em surpresa.

— Você não pode...

— Estou indo embora agora mesmo. — interrompo o médico.

Não há sapatos, então saio do quarto descalça. Escuto Collin me chamar e o médico dizer que não posso sair assim.

Ando pelos corredores até que encontro a saída.

— Hasina!

Viro e paro. Espero Collin chegar até onde estou. Meus pés ardem contra o chão quente.

— Vamos voltar. Você ainda não está bem o suficiente.

— Não me importo. Me leve para o meu apartamento, por favor.

— Não! — grita.

— Então chamarei um táxi.

Volto a andar, indo para a esquina onde milagrosamente um táxi parou.

— Para!

Sinto o braço dele envolver minha cintura.

— Eu te levo.

Fazemos o caminho para o estacionamento do hospital. Pelo modo que Collin me segura até parece que vou quebrar.

Quinze minutos depois paramos em frente ao prédio que vivo. Tiro o cinto e abro a porta. Pelo canto do olho noto ele fazendo o mesmo.

— O que está fazendo? — pergunto.

— Vou com você. Não vai ficar sozinha.

— Eu vou sozinha! Amanhã nós nos vemos, Collin.

Saio do carro e fecho a porta. Ele também sai e fico irritada.

— Você querendo ou não, eu estou subindo com você. — diz firme.

Ponho a mão  no peito dele, impedindo que chegue mais perto. Olho para ele e cada parte de mim morre quando falo.

— Eu não preciso de você. Realmente espero que tenha entendido. Não. Preciso. De. Você. Agora vá embora e esqueça qualquer coisa que tenhamos passado.

Puxo minha mão e faço meu caminho para dentro do edifício.

Já dentro do apartamento eu tiro as roupas e vou para o banheiro. Olho-me no espelho e suspiro cansada. Ele não pode entrar na minha vida. Ele não pode entrar no meu coração. Ele não pode descobrir quem é a verdadeira Hasina. Ele não pode...

A primeira lágrima cai.

Há quinze anos atrás deixei de chorar. Todo o horror que vivi foi o suficiente para acabar com qualquer emoção.

Há quinze anos atrás prometi que não choraria mais.

E hoje estou quebrando essa promessa.

Dou um soco no espelho, partindo-o em vários pedaços. Destruído como minha alma. Quebrado como minhas emoções.

Entro no boxe e ligo o chuveiro. Tiro o curativo e o sangue desliza pelo meu corpo. Minha mão sangra. Meu peito dói.

Abraço minhas pernas, e deito a cabeça nos joelhos. Deixo a água se misturar com minhas lágrimas e meu sangue.

"— Pessoas quebradas temem o futuro. E você garotinha, vou quebrá-la até quando for necessário. — ele diz. — Para que no futuro você tema tudo e todas as coisas.

Mais uma vez ele bate no meu rosto. Me joga no chão e fica de pé. Meu olho arde, mas a dor que sinto no meio das coxas é pior. Porque ele é tão mal? Porque me machuca?

— Sua mãe gritou igual você. As duas tem bocetinhas perfeitas.

Ele Fechou o zíper da calça e pegou a camisa. Saiu sem dizer nada. Chorei o outra vez. Eu chorei e chamei por mamãe, papai e até mesmo o pandinha. Ninguém veio."

Sinto braços me envolverem e sinto o  perfume de Collin. Eu me agarro a ele. Desespero. Medo. Angústia.

— Estou aqui. — me abraça, acariciando meus cabelos. — Estou aqui.

— Ele destruiu minha vida.

— Quem?

— Ele destruiu minha vida. — sussurro essas palavras várias e várias vezes.

Collin desliga a água. Me pega nos braços, indo para o quarto.

— Ele destruiu minha vida.

Sinto a maciez do colchão. Sinto as roupas deslizando pelo meu corpo. Sinto o beijo casto no meu rosto e os braços de Collin ao meu redor.

— Vou cuidar de você.

E foi o que ele fez pelo resto do dia.

Perigo Inevitável - Duologia Assassinos (Im) Perfeitos #2Onde histórias criam vida. Descubra agora