Capitulo 13

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Quando o beijo acabou, eu estava de cabeça baixa, nossas festas estavam coladas uma na outra e eu sentia seu coração batendo forte e tenho certeza que ele sente o meu.

- Henrique- eu disse- não posso te magoar de novo. Desculpa.- eu me afastei e virei o rosto para a janela olhando o céu estrelado. Eu não posso magoar ele de novo, por mais que eu queira muito continuar com isso. Por que eu sinto falta dele nos meus dias, sinto falta do seu cheiro, do seu abraço, de como ele me olha com carinho, do jeito que tá me olhando agora, e eu sei que está mesmo não olhando de volta por que sinto seus olhos em mim. Eu sinto falta do beijo dele, do toque, de como me sinto perto dele. Eu não sei o que eu sinto por Henrique, mas sei que não quero ele distante, quero ele perto, para sempre.

- Desculpa, eu que te beijei- ele diz chamando minha atenção

- Nós nos beijamos- eu digo olhando para ele- não é que eu não quero ficar com você ou que não goste de você, é confuso, e eu não posso continuar contigo sem saber direito o que eu sinto, o que eu quero.- ele me olha com atenção, suas piscadas são lentas, diferente do seu coração- a única certeza que eu tenho, é que eu não quero te magoar, não de novo.- ele fica em silêncio me olhando, eu abaixo a cabeça, sem graça

- Raquel- ele levanta minha cabeça com o dedo em meu queixo me fazendo olhar para seu rosto perfeito- a gente não precisa se casar amanhã- ele disse me tirando um riso frouxo- a gente pode ir com calma, sem pressa, sem pressão, sem compromisso.- ele segura minha mão e começa acariciar com seu dedão o dorso dela.- eu gosto de você e eu não quero ficar longe, me distanciar e tentar fingir que você não existe.- eu estou olhando nos seus olhos cor de café, a cor mais bonita que eu já vi, não é por que é castanho, mas por que é dele. Eu sei que meus olhos estão marejados nesse momento por que minha visão está embaçada, não demorou muito para eu piscar e a lágrima cair. Ele passa o dedão na minha bochecha com delicadeza para limpar a lágrima que escorreu. Eu não sei direito por que eu estou chorando, talvez meus hormônios estejam doidos, talvez seja estresse por que a carta dizendo se fui aprovada para fazer ou não a prova da Sapienza pode chegar a qualquer momento, minha mãe estar doente, por não saber o que eu sinto em relação ao Henrique ou por ele ser tão sendo tão fofo comigo.

- Vamos com calma então?- eu perguntei olhando para ele e vendo um sorriso abrir em seu rosto.

- Com calma, gata- eu sorri para ele de volta- vem cá- ele me puxa para perto em um abraço e eu me aninho nele soltando o ar.- você acabou com toda a imagem durona que tinha sua- ele riu e eu ri junto- mas eu gostei de conhecer mais um pouco de você, espero ter muito tempo do seu lado para te conhecer você inteira- ele beija o topo da minha cabeça.

                                            ...

Eu estava sentada na arquibancada com o Henrique, Elo e JC estavam se pegando no armário do zelador e Barbie tá de vigia para eles, ela disse que não ficaria, mas eles deram 20 conto para ela e agora ela tá lá encostada na porta do armário mexendo no celular como se nada tivesse acontecendo.

Não sentamos no banco hoje por que a Mariana fez questão de pegar o banco para ela e suas amigas, eu poderia brigar com ela e tudo mais, mas não vale a pena. Ela tá super brava comigo, me olha com ódio, se tivesse uma arma ela com certeza daria um tiro em mim, tudo isso por que Henrique voltou a falar comigo e ela não aceita isso. Mas eu não posso fazer nada se ele gosta de mim e não quer fingir que eu não existo.

- Você já sabe qual faculdade você quer fazer?- Henrique me pergunta

- Sapienza na Itália, arquitetura- eu respondo.

- Para que fuvest, ENEM, Unicamp?- ele ri e eu do risada junto- e você faz vestibular no final do ano igual todas?

- Faço, mas antes eu tenho que mandar meu histórico escolar e responder umas perguntas, tipo uma entrevista. Se eu for aprovada eu faço a prova, se eu passar é só eu me matricular, mas os 5 primeiros colocados na prova ganham bolsa, então eu quero muito passar entre eles, a chance de eu ir sem ganhar bolsa, é praticamente inexistente.- eu digo.

- Você vai conseguir passar entre os 5, quando você descobre que foi aprovada para fazer a prova?- ele me pergunta

- Tá para chegar a carta dizendo se eu vou ou não fazer a prova.

- Tenho certeza que você vai conseguir ir para a Sapienza- ele diz a última palavra com sotaque Itália, um péssimo sotaque, me fazendo rir.

- Com certeza.

                                          ...

Eu estava chegando da escola a pé com o Henrique, e vi um carro parado em frente à minha casa, se não me falha a memória esse carro é do Alberto, por que será que ele veio até aqui? Me despedi do Henrique e entrei em casa, e como se esperava Alberto estava de frente para tia Débora.

- Oi tia- eu disse dando um beijo em seu rosto e colocando a mochila no sofá- Alberto.

- Olha se não é a menina mais incrível que eu conheço, senti saudade- ele diz e vem me abraçar, mas não abraço de volta

- Pena que não posso dizer o mesmo- digo baixo porém ele escuta e olha para tia Débora

- Então sua tia já fez sua cabeça?- ele pergunta de forma irônica

- Na verdade minha cabeça foi feita junto com o resto do corpo, na barriga da minha mãe. Que você era idiota eu sabia, mas burro é novidade- digo e ele arregala os olhos surpreso com a minha atitude e eu cruzo os braços. - já está de saída Alberto?- pergunto

- Ele já está, não é?- tia Débora responde olhando para ele

- Não, eu não terminei, eu não dirigi 3 horas para não falar tudo o que eu tenho para falar.

- Eu não ligo para o que você tem para falar, não me importa se dirigiu 3 horas até aqui, ninguém mandou você vir, eu troquei de número para não falar com você, por que achou que seria diferente vindo até aqui?- tia Débora perguntou.

- Fiquei sabendo que está abrindo um ateliê e vai largar tudo em BH- ele diz. Eu to parada no mesmo lugar olhando os dois discutir.

- Eu fiquei sabendo que sua amante te trocou- ela diz e a expressão no rosto de Alberto muda rápido e vai para raiva.

- Eu vou processar você Débora, eu vou tirar tudo o que você tem!- ele diz bravo com ela e minha vontade é socar seu rosto, mas sei que minha tia não vai descer do salto e nem abaixar a cabeça para ele.

- Tenta a sorte.- ele ri quando ela debocha dele- você tá duvidando Alberto? Então vai, me processa. Você pode ser poderoso, ter dinheiro, mas não duvida do que eu sou capaz, você vai perder a causa e vai perder tudo o que você tem e vai implorar para voltar a trás e ter perdido só sua TV e roupas.- ela diz perto dele e baixo, mas consigo ouvir.

- Você não sabe o que está dizendo, você vai cair do cavalo Débora- ele debocha

- Eu posso até cair. Você pode acabar comigo, me destruir, quebrar todos os meus pedaços, mas você nunca vai tirar de mim quem eu sou e minha força.- ele está sério olhando para ela- eu vou levantar mais forte de quando eu cair, você não me conhece, então vai lá Alberto, tenta a sorte, mas não volta aqui nunca mais, eu tenho nojo de olhar para sua cara.

- Tá cuspindo no prato que comeu?- ele pergunta

- Se eu pudesse eu vomitava. Eu nunca me apaixonei
por você, eu demorei para perceber isso, mas agora eu sei que o Alberto por quem eu me apaixonei nunca existiu. Eu me apaixonei pelo que eu inventei.- Alberto tá parado olhando fixamente para ela e agora não é com raiva, e sim, com tristeza.

- Tchau Débora, sinto muito.- Alberto diz indo em direção à porta e ela o segue para abrir.

- Eu também sinto.- ele saiu e ela fechou a porta. Ela encosta na porta, fecha os olhos e solta o ar. Tenho certeza que tudo que ela disse agora foi bem pior do que uma TV quebrada e umas roupas rasgadas. Ela abre os olhos e vem até mim.

- Raquel, vou te falar uma coisa importante, acho que a mais importante que já disse na vida- ela me olha seria e coloca minha mecha de cabelo atrás da minha orelha- o amor é lindo, é importante, todo tipo de amor é bom, mas o amor próprio é o mais importante de todos, você só vai saber amar alguém quando se amar, só vai ter um amor bonito quando se amar. O amor próprio não deixa que a gente aceite migalhas, eu demorei a vida toda para entender isso, mas agora eu sei, que o amor próprio é o que nos trás felicidade.

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