- oii gab- digo entrando no quarto do hospital, ele se senta na cama e sorri para mim- eu disse que ia trazer o melhor advogado e eu trouxe- me viro de costas para ele e de frente para porta e meu pai entra no quarto- meu pai.
- Doutor Alex- ele diz animado
- Por favor, me chame só de Alex- meu pai disse sorrindo e esticando a mão para cumprimentá-lo
- Tudo bem, só Alex- ele ri e cumprimenta o meu pai
- Eu vou pegar seu caso Gabriel, primeiro eu quero que você me diga tudo o que aconteceu, desde a sua saída de casa.
- Tudo bem.- ele diz e eu me sento no sofá junto com meu pai.- eu estava em casa com a minha mãe e a Elo chegou da escola no final da tarde, depois da natação, muito feliz porque tirou 10 em química, ela nunca foi de exatas e estudava muito para ir bem, ela estava muito feliz com o 10 dela e eu e minha mãe também ficamos felizes e orgulhosos dela. Então eu disse que a gente precisava comemorar e ela sempre amou sonho de padaria, mas era uma comemoração e ela merecia o melhor sonho e eu conhecia um sonho muito bom que o meu chefe levou um dia na empresa, era de uma padaria mais longe de casa e um pouco mais cara, mas ela merecia- ele fez uma pausa- ela merecia todos os sonhos do mundo- seus olhos enchem de lágrimas
- Quer dar uma pausa?- meu pai pergunta
- Não- ele enxuga as lágrimas e continua a falar- então eu disse que ia buscar e ela quis ir comigo e eu deixei, quando estávamos chegando na padaria o carro da polícia começou a seguir a gente e quando chegamos em uma rua que não tinha muito movimento, mandou a gente parar, eu parei na hora, o policial veio até mim e pediu meus documentos e o documento do carro, eu fui pegar na minha carteira, mas não achei o documento do carro, só os meus, meu coração gelou na hora. O policial começou a ficar irritado e falar alto comigo, eu disse que esqueci em casa e ele não acreditava em mim, só me chamava de marginal e mandou eu sair do carro eu saí e mandei a Elo ficar dentro do carro com as mãos no porta luva. Quando eu saí ele me mandou ir para calçada e virar de costas levantar as mãos e abrir as pernas, mas ele não só disse, ele estava gritando comigo e me agredindo o tempo todo, eu disse baixo que o carro era meu e ele me deu um tapa na cara foi quando a Elo saiu do carro brava com o policial, ela começou a dizer que ele não podia fazer aquilo que era abuso de autoridade e racismo, ele gritou com ela e mandou ela encostar na parede e ela obedeceu dizendo que ia denunciar ele, ele mandou ela calar a boca e eu disse para ele parar de falar assim com a minha irmã, eu avisei que iria pegar o celular para ligar para minha mãe, que o celular estava no meu bolso, mas foi em vão ele apontou a arma e nessa hora a Elo entrou na minha frente e levou o tiro por mim- ele estava chorando e eu também- desculpa- ele fungou com o nariz e continuo- eu não tive tempo nem de pedir ajuda quando ele deu outro disparo e acertou minha costela, eu só vi ele saindo com o carro e deixando a gente, depois disso eu lembro de uma mulher falando comigo e ligando para a emergência, e aí eu acordei aqui no hospital, sem a minha irmã. Você vai me ajudar a mandar esse filha da puta para cadeia?- ele pergunta para o meu pai
- Eu vou fazer de tudo para isso, mas eu vou ser sincero com você, esse caso é quase perdido, as chances de nós ganharmos é muito pouca, mas se você quiser, nós vamos lutar até o fim- meu pai responde
- Vamos lutar até o fim- ele diz- pela Elo.
- Pela Elo- eu digo também enxugando minhas lágrimas.
- Eu vou começar o processo já- meu pai diz e se levanta
- Eu vou pagar o senhor, eu só peço que você me dê um prazo mais longo- o Gabriel pediu para o meu pai
- A Elo era como uma filha para mim, eu jamais cobraria para botar o assassino da minha filha na cadeia- meu pai responde
- Obrigado Alex, obrigado de verdade
- Não me agradece agora, me agradece quando ganharmos o caso- ele sorri para o Gabriel e Gabriel sorri para ele.
Meu pai sai do quarto e eu me despeço do meu pai dizendo que vou depois que a dona Maria chegar para não deixar Gabriel sozinho. Eu digo para o Gabriel que vou ao banheiro e já volto.
Eu me olho no espelho do banheiro e vejo meus olhos inchados e vermelhos porque acabei de chorar, mas também estou com olheiras enormes por não conseguir dormir direito. Sempre que fecho meus olhos eu só consigo pensar na Elo e na injustiça que aconteceu com ela.
Ela não era só minha melhor amiga, ela era minha irmã, era parte de mim, era ela que me socorria quando algo dava errado, era ela que me fazia rir quando eu não conseguia parar de chorar, era quem eu queria no dia do meu casamento sendo a minha madrinha, quem seria a madrinha do meu filho. Eu perdi meu chão, perdi meu rumo.
A raiva me consumia a cada dia, eu desejava a morte do filha da puta que matou minha metade. E as vezes queria ele vivo na cadeia para sofrer o resto da vida, para ter que conviver para sempre na consciência que tirou a vida de uma inocente.
Eu saio do banheiro e sento no sofá ao lado da cama do Gabriel. Ele está olhando para o teto sem dizer nada.
- tá pensando em que?- pergunto atraindo sua atenção
- Sabia que eu queria fazer direito, quando estava no ensino médio?- ele confessa e me olha esperando a minha reação
- É mesmo?- pergunto surpresa
- Sim- E por que você não fez?
- Por que eu achava inútil lutar, sendo que eu sabia que meu lugar era sendo um operário a Elo que sempre sonhou alto, eu era realista, eu dizia para ela parar de se iludir que não adiantava lutar que era uma luta perdida, nos sempre seríamos apenas os empregados.
- É, ela dizia que faria a diferença no mundo
- Ela ia, tenho certeza
- Ela fez diferença no nosso mundo
- Fez, com certeza fez.
- Por que vc aceitou entrar nessa briga se meu pai disse que a chance de nós ganharmos é muito pouca?
- Porque ela dizia que nenhuma luta era uma luta perdida desde que fizéssemos que nos escutassem, e eu vou fazer ela ser escutada, essa luta não tá perdida.
- Não, essa luta não tá perdida
...
Eu estava deitada na cama do meu quarto olhando para o teto e pensando na vida. Como a vida é injusta, como a vida é insignificante, como a vida é tudo. É tudo o que temos. A vida é conturbada demais, a vida é um labirinto e ela não vai ficando mais fácil com o tempo, nem de entender, nem de se viver.
Sempre achei que eu vivia a vida como se fosse o último dia da minha vida, sempre achei que estava aproveitando bem as pessoas eu que amo, criando memórias, deixando claro para elas que eu as amo. Sempre achei que se eu perdesse alguém eu iria ter a paz de que aproveitei o máximo com ela, por que era isso que eu fazia. Ou achava que fazia.
Por que eu acho que aproveitei tão pouco com a Eloiza, acho que ela não sabia o quanto ela era importante para mim, acho que podia ter feito mais por ela, feito mais pela nossa amizade, podia ter ido mais a trás, podia ter chamado ela pra sair mais vezes, podia ter ido visitar ela mais vezes, podia tantas coisas que agora é tarde demais para fazer.
Eu não to satisfeita e nao to com a paz de quem aproveitou tudo com ela, mas acho que vai ser sempre assim. Quando minha mãe se for eu vou sentir a mesma coisa, e quando meu pai se for vai ser o mesmo sentimento e vai ser sempre assim. E acho que é por que a vida passa tão rápida que parece que foi ontem que brincávamos no jardim de infância com nossas bonecas e joelhos ralados. Se tem uma coisa que eu aprendi com tudo isso, é que a vida é um sopro e não estamos preparados para o que ela trás para gente.

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(Des)encontros
RomantikaRaquel está com seus 28 anos e prestes a realizar um grande avanço em seu relacionamento com Eduardo. Luzes, flores, amigos e um buffet incrível os aguardam depois da cerimônia, mas será que ele é a escolha certa? Quando Raquel encontra uma antiga p...