Incomparable | Arthur Melo

09

— Sinto muito, Arthur, mas a sua esposa ainda permanece em coma. Não há como prever em quanto tempo ela acordará, mas a boa notícia é que o quadro continua estável.

Doutor Hernandez, médico que estava cuidando de Sara, se pronunciou dirigindo a palavra a Arthur.

— Eu não consigo mais, Paulo! Eu não posso seguir sem ela. Preciso dela, Helena precisa dela.

Arthur se lamentou, falando para o irmão mais velho.

— Você tem que conseguir, mano. Tem que fazer isso por ela, pela Helena e por você. —

Paulo tentou amenizar a situação, ainda que momentaneamente.

— Você pode entrar para vê-la.

Dr. Hernandez orientou Arthur, interrompendo o diálogo.

Ao entrar, o jogador ouvia as batidas do coração de Sara com atenção. Observava a esposa, a tocava, sorria, chorava e a acariciava, segurando sua mão. Não pôde conter uma lágrima que insistia em escorrer dos seus olhos ao ver a situação grave da espanhola.

— Eu sinto a sua falta, amor. Eu sinto tanto a sua falta. Nossa filha reflete você. Ela é tão parecida contigo... — Um sorriso ladino surgiu no rosto do jogador, que deixou mais uma lágrima escapar.  — Sabe, amor, não tem sido fácil sem você. Às vezes eu quero desistir de tudo, largar tudo. Não faço, porque a nossa princesa precisa e merece que eu continue firme e tentando por ela, por você. Mas  sabe qual é a verdade? É que fácil não está. Por que você não acorda logo, amor? Uma vida sem você, não é uma vida, eu sou uma bagunça sem você. Uma completa bagunça! — O jogador beijou com ternura a testa de Sara, tentando controlar todo o sentimento de angústia que carregava. — Eu amo você, cariño.

              _________________________

— Arthur, pegue a bola e faça o gol! — Ernesto Valverde gritou, pela quarta vez, buscando a atenção do jogador em campo, durante uma partida contra o Real Bétis pela Liga Espanhola.

— ¡Vamos Arthur, ànimo!

A torcida do Barcelona queria a todo custo trazer o jogador de volta e, por mais que as palavras daquela torcida e de todos os seus companheiros soassem incentivadoras, Arthur não conseguia se concentrar naquele momento, naquela hora, naquele jogo.
A vida o havia pego de surpresa. Foi cruel, tirou Sara dele no momento mais lindo de suas vidas: a gestação e nascimento de Helena.

Era completamente compreensível que o jogador estivesse frustrado com a vida, questionando tudo em volta.

No meio de seus pensamentos, Arthur foi derrubado no chão por um jogador do Real Betis e valorizou um pouco mais a queda, porque não sentia nenhuma vontade mesmo de continuar em campo.

— Troca! Troca!

Coutinho e Suárez se pronunciaram diante da situação, sinalizando para o técnico do time.

— Vai, cara. Tenta se reconectar! Nós estamos aqui contigo.

Sergi Roberto tentou animá-lo mais uma vez. O jogador havia se tornado um dos melhores amigos do casal e, desde então, sempre se prontificou a ajudá-los quando necessário. 

— Isso, irmão. Se recupere logo. Nós te amamos!

Coutinho falou com carinho ao amigo enquanto Arthur era substituído.

A torcida gritava freneticamente o nome do jogador, cantando a todo o momento tentando incentivá-lo.

— Tudo bem, cara. Só faltam 3 minutos para esse jogo acabar, ok? Eu vou entrar com você naquele vestiário e nós vamos conversar. Está tudo bem.