21h, domingo, Brasil.
O dia da viagem."Podemos parar na loja de fini?" Luna pergunta pela quinta vez desde que entramos no carro.
"Pela última vez, amiga." Alana suspira. "Não-temos-tempo. Culpa de vocês que ficaram enrolando por conta de 'o que tem mais doce, açúcar ou frutose'. O vôo é a meia noite, você por acaso sabe que horas são?" Alana diz, nos fuzilando com um olhar acusatório.
Nós entreolharmos, todas as meninas. Com a voz debochada, Luna pergunta: "nove horas?"
"SÃO NOVE HORAS! Até chegarmos no aeroporto, a Lia fazer o check in, despachar as malas! Meu Deus! Não podíamos estar MAIS atrasadas!" Exclama.
Todo mundo bufa, revirando os olhos e eu dou risada. Sei que o esquema de organização e controle da Alana é exagerado, mas também sei que vou sentir falta demais de cada uma delas, com todas as suas qualidades e defeitos.
Vou sentir falta dos meus amigos, do jeito de cada um. Sei que não vai ser fácil ficar por lá sem elas, mas também sei que não vai demorar tanto para que me visitem.Deu tudo certo no final. Fiz o check in no caminho, despachei as malas que faltavam e chegou a hora da despedida.
Minha mãe chorava, meus amigos choravam e eu chorava. Mas todos estavam felizes por mim e sabiam que eu precisava ir."Amiga?" Amanda me chama, puxando-me de leve para nos afastarmos das outras pessoas.
Amanda é uma amiga que fiz na faculdade, que virou minha irmã de alma. É impressionante a conexão que tivemos logo de cara. Ela pediu transferência para a minha faculdade e, num belo dia, chegou atrasada na sua primeira aula e ainda pediu pro professor repetir tudo o que ele já tinha dito, porque ela perdeu. Eu ri muito, mesmo o professor tendo ficado irritado. Acabei chamando ela para fazer parte do grupo que eu estava e sinceramente, depois disso, nem lembro como nossa amizade começou de fato. Sei que dois anos depois cá estamos nós, inseparáveis. Quando não estamos juntas, estamos nos falando por mensagem.
"Sim?" Digo a ela, quando sentamos em dois banquinhos.
Está com lágrimas nos olhos. De todas as meninas, Amanda é a única que não sabe quando vai conseguir me visitar. Ela tem projetos no Brasil e não imagina como poderia estar em outro lugar que não aqui no momento. Meu coração dói por isso, mas morro de orgulho da profissional que ela se tornou.
Ela pega na minha mão. "Vou sentir saudades", me diz.
"Eu também vou. Mas você vai achar uma brecha no meio da sua agenda lotada e me visitar, não vai?"
Ela beija o dedinho. "Juro juradinho", diz.
Sorrio. O "juro, juradinho" é uma coisa nossa. Quando prometemos algo uma para a outra, não costumamos quebrar a promessa; mas quando juramos algo juradinho, não existe a possibilidade de não levarmos estritamente a sério.
"O que foi?" Pergunto quando vejo seu olhar confuso.
Ela morde o canto do dedo. Dou um tapa em sua mão. "Para com isso", digo. "Por que está nervosa?"
"Leonardo me procurou", ela diz.
Gelo.
"Por que?"
"Quer saber de você. As outras meninas", vira-se para olhar para minhas amigas "não querem ver ele nem pintado de ouro."
Leonardo é amigo de um primo da Amanda
As coincidências da vida, né?
O que significa que Amanda e Leonardo, também são amigos.
A amizade deles ficou abalada depois do que ele fez comigo. Sei que ela brigou com ele, expressou bem claramente o quanto se sente extremamente desconfortável com todas as atitudes que ele teve. Tomou meu lado. Ficou ao meu lado. Mas não cortou relações com ele.
"E o que você disse?" Pergunto a ela.
"Disse que você estava se mudando", ela diz. "Mas agora, não sei se fiz o certo, porque ele insiste em saber para onde e quando."
"Por que interessa a ele para onde vou e quando vou? Ele quem quis terminar comigo!" Falo mais alto que o normal e ela diz um "shii", pedindo para que eu fale mais baixo.
"Não quero que as meninas saibam, elas vão me crucificar se souberem que eu contei para ele sobre sua mudança.", diz. "Não se preocupa. Eu não dei essas informações a ele."
Pego em sua mão. "Amiga," começo. "Entendo a relação de vocês e respeito, mas realmente não quero que o Leonardo saiba de mais nada meu. Você me entende?"
Seus ombros caem e sua feição fica triste. "Desculpa", solta.
"Não tem o que se desculpar. Tudo bem ter dito que eu estava me mudando. Ele precisa saber que a minha vida continua sem ele, que estou indo criar uma vida nova em que ele não faz parte de nada."
Seus olhos se enchem de lágrima novamente.
"Como eu vou ficar aqui sem minha duplinha?", pergunta e outra lágrima escorre.
Meu coração dói. Por Amanda, por todos os meus amigos, pela minha família, por tudo que vou deixar aqui no Brasil.
Sou péssima com despedidas e sei que não vai ser fácil essa mudança brusca, mas eu preciso ir. Eu quero ir.
Abraço-a, afago suas costas e digo novamente o quanto não vamos nos desgrudar, mesmo que eu esteja há horas de distância. Logo todas elas vão me ver, algumas para morar, outras de férias, mas nada vai mudar em nossa relação. Com nenhuma delas.
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Todas as estações depois.
Romance"'O amor é vendaval, Lia.' Essa frase não saia da minha cabeça. Só não contava que esse vendaval acabasse comigo." Quando sua vida desmorona da noite para o dia, Lia precisa lutar com todas as forças para se manter de pé. Uma perda irreparável faz...