Capítulo 15.

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Sarah.
2 semanas depois.

O frio oficialmente chegou. Deve estar fazendo 0 graus hoje. Está frio pra caramba.
Meu aquecedor está no máximo e mesmo assim, estou com três pijamas, duas meias, uma pantufa e um sobretudo de lã. Em cima de mim, na cama, tem quatro cobertas. Definitivamente, não sei lidar com o frio europeu.
Olhando para o relógio, vejo que são 5:45. Preciso me encontrar com Allison as 7:15 porque hoje é um dia importante. Hoje vamos até o Palácio de Buckingham. Nem acredito. É errado estar tão animada e ansiosa com um caso de separação? Se for, sinto muito.

Levanto-me da cama e depois do meu ritual matinal de sempre – lavar o rosto, fazer xixi, escovar os dentes – vou até a cozinha para preparar o meu café. Não funciono sem ele. Pego uma fruta e mando bom dia para todas as minhas amigas no WhatsApp, inclusive a minha mãe. Estou devendo uma ligação para ela, faz tempo que não conversamos com calma, mas em breve vamos poder matar a saudade. Ela me avisou semana passada que viria a Inglaterra passar uns dias. Mal posso esperar.

Me aproximo da janela e observo os londrinos como faço todos os dias. Amo ver as pessoas andando na rua. Os carros que fazem uma fila atrás do sinal vermelho, as arvores balançando com o vento do inverno... por aqui, sempre parece que vamos sair numa revista. Sério. Qualquer jornalista da Vogue poderia vir aqui e tirar fotos da cidade e das pessoas a hora que quisesse; todas estariam arrumadas, prontas para sair numa revista. O que me faz pensar: o que vou usar hoje?
Vou até o meu armário e escolho algumas peças que acredito serem boas o bastante para pisar na casa da rainha. Vou na casa da rainha. Dou uma risada de nervoso... isso está realmente acontecendo?
Como não estou autorizada a contar sobre o caso para ninguém – sob risco de perder um bilhão para a empresa – me limito a dizer as minhas amigas que é um caso muito importante e chique; então mando fotos das peças que selecionei e peço para me ajudarem a decidir qual é a melhor. A única pessoa que revelo realmente o que estou indo fazer, é minha mãe. Aquela, que está gritando há dez minutos no facetime.

"Mãe, fala baixo" peço enquanto coloco o celular na estante para trocar de roupa.
"Eu não acredito, a minha criança na casa da rainha! Eu já estava emocionada porque você mora na terra da rainha, respira o mesmo ar que ela... mas agora você vai diretamente onde ela dorme! Come! Vive!" ela continua dizendo.
Solto uma risada baixa. Sinto falta da animação constante da dona Estela Martins. Minha mãe é ligada no 220, não sei como ela consegue ser assim todos os dias, o dia todo.
"Essa está boa?" digo enquanto aponto para um sobretudo cinza na frente do corpo.
Ela franze o rosto. "Você está indo para um velório?"
"De certa forma, sim. O velório do casamento deles", dou risada.
Minha mãe fica em silêncio. "Isso não é engraçado", diz séria.
Rio baixo. Eu sei que não é engraçado, mas vou fazer o que? Chorar?
"Você devia estar chorando por essa família. E as crianças, pobrezinhas?" minha mãe lamenta, fazendo beicinho.
"Elas vão receber apoio psicológico. E o apoio financeiro já tem, como podemos ver".
"Um bilhão de libras esterlinas", minha mãe se espanta. "Isso é grana pra caramba. Você vai ficar rica?"
Rio alto. "Quem me dera, né?" coloco o sobretudo na cama em cima de uma calça, para ver se combina. Ótimo, para mim está lindo. "Muitas pessoas estão trabalhando nesse caso, fora que a maior parte do lucro vai para a empresa... vou ganhar bem, claro, mas não vou ficar rica. Ainda." Concluo.
"Por que você só usa preto?" minha mãe pergunta.
Lembro das minhas amigas. May, Carol e eu temos a mania de usar preto quase todos os dias. Pelo menos uma peça do nosso vestuário diário é preto. Sorrio. Sinto muita falta das minhas amigas.
"Existe outra cor?" respondo.
Ela revira os olhos.
"Certo", digo. Termino de me vestir e dou uma volta para que minha mãe possa me avaliar completamente. Me agacho e pego um par de botas de couro pretas e estendo para a câmera, para que ela possa ver que é isso que vou usar no pé. "Aprovado? Digna de conhecer a rainha?"
Minha mãe abre um largo sorriso para mim. "Morro de orgulho de você, minha filha." Diz com lágrimas nos olhos.
Sinto os meus próprios olhos arderem e sei que se não encerrar essa conversa nesse momento, vou chorar. Não gosto de chorar na frente dos outros, mesmo que seja por um bom motivo. Eu sei, estou trabalhando nisso de lidar com os meus sentimentos.
"Obrigada", digo enquanto pego o celular. "Preciso ir. Amo você".
"Também amo você, minha filha."

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