Capítulo 11.

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Sarah.

2018.

"Camisa bonita", Léo diz quando saio do banheiro.
"Eu sei, tenho bom gosto".
Ele ri.
"A camisa é minha, otária", e me puxa para um abraço, me derrubando no sofá.
Uma guerra de cócegas começa. Eu perco, como sempre.
"Para com isso!" grito.
Ele ri. Alto. E continua.
Quando dou um chute de leve em sua barriga, ele prende minha perna com a sua e estende meus braços até que fiquem atrás da minha cabeça; com uma mão, segura meus dois punhos.
Nossos rostos estão perto. Perto demais. Seu olhar vai dos meus olhos, a minha boca e depois ao meu corpo, observando atentamente a camisa G que visto de sua banda favorita: Three Days Greace.
"Ela fica boa mesmo em você", ele comenta. Sorrio. "Você devia usar pra dormir", acrescenta.
"Sério? Usar sua camisa favorita para dormir?"
Ele da de ombros.
"Pode usar para dormir quando a gente for dormir junto". Ergo as sobrancelhas. "Quando a gente eventualmente tiver que dormir separado também."
"O que você quer dizer com isso, Leonardo?"
Ele chega mais perto. Com um joelho, abre minhas pernas e coloca a sua perna no meio, de forma que fica entre mim. Deita seu corpo até que não tenha nenhum centímetro de nós separados. Engulo em seco. Ele sabe como mexer com os meus hormônios. Ele sorri. Se aproxima da minha boca e instantaneamente, eu a abro. Seu sorriso aumenta. Ele assopra de leve e sinto todo o meu corpo ligar. Estremecer. Ao invés de me beijar, desce o rosto até minha orelha. Sussurrando, ele diz: "já passou da hora da gente oficializar isso aqui, né? Já moramos juntos, a gente fica há muito tempo... não acha que já passou da hora da gente assumir que está namorando?"


Minha cabeça está rodando. Tudo ao meu redor gira, a sensação é de que nada está fixo no chão. Enquanto eu tomava banho, chorei. Foi a única hora que me permiti chorar. Eu estava bem, porra. Tinha mudado de país, comecei um emprego novo, até conheci um cara legal... Cara esse que não me deixou na mão, cuidou de mim enquanto estava numa crise de ansiedade, preparou um banho, me emprestou uma roupa e teve a sensibilidade de ligar para duas de minhas melhores amigas. Ele até saiu do apartamento para nos dar privacidade. Homem assim não se encontra na esquina.

Quando penso em John, meu coração aperta. Eu já estava confusa com tudo o que tinha acontecido, sobre ele ter dito que o coração dele não pertencia mais a ex e com a nossa aproximação. Mas o calor que ele emana é quase necessário para a minha sobrevivência. Descobri isso no momento em que ele estalou os dedos para chamar minha atenção e pontoou que desceria para falar com Seu Joshua. Ele deve ter ficado cerca de cinquenta minutos fora, mas foi o suficiente para que eu sentisse sua falta.

Então você deve estar se perguntando: se eu sinto a falta dele em míseros cinquenta minutos longe, por que acabei de dizer "nós não podemos mais nos ver, John"?

Por causa do meu fantasma do passado. E da forma como eu me senti quando o vi. Da forma como pensei nele há dois dias, quando John me contava sobre a sua ex. Pela forma como ainda me sinto sobre ele.

É um saco, sinceramente. Eu não consigo entender como alguém que fez tão mal para gente ainda permaneça na nossa mente, mas infelizmente, a vida não é um botão de liga e desliga. Não dá pra apertar aqui e começar a sentir; apertar de novo e desligar os sentimentos. Uma série de que eu gosto muito diz que 'a vida é uma montanha russa. E não da pra descer ou parar ela'. É verdade.

Ainda não acredito que ele está aqui, na Inglaterra. Em outro continente. Engraçado porque, no Brasil, ele não ia nem a padaria por mim. Eu tinha que implorar. Mas foi só a gente terminar que ele cruzou o oceano. Não consigo entender os homens e o joguinho de quem-tá-ganhando-mais.

Eu gritei. Que merda, eu g-r-i-t-e-i. Não tinha percebido até ver que John tampou as orelhas; então deduzi que ele tentava se esquivar de um som. O meu som. Eu devia estar gritando alto. O que aconteceu depois é um borrão. Lembro vagamente de correr para dentro do prédio, de não conseguir atravessar o Hall e de me esconder. Eu só queria me esconder, dele, de John, de Seu Joshua, de mim, do meu passado. Mas John me achou. Não consigo descrever o alívio que senti quando o vi. Quase que um alívio físico. Lembro de poucas palavras dele, mas lembro das minhas. Dele, só gravei que me chamou de 'linda'. É besteira que uma palavra até então tão sem significado e comum fique tão absolutamente perfeita na boca de alguém?

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