Capítulo 6.

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Lia.

Comecei oficialmente no trabalho novo hoje.
Acordei mais cedo do que devia, me arrumei rapidamente e fui tomar café da manhã no Starbucks próximo a minha casa. Já mencionei o quanto eu amo o quão bem esse prédio é localizado? Eu estou simplesmente realizada de pensar que existe um Starbucks há poucos metros de onde moro. 
Quando finalizo o meu café, olho para o relógio que está marcando 9h30 a.m. Considerando que meu turno só começa as 10h30 a.m e o escritório é há dez minutos da onde estou, eu estava adiantada. Resolvi mandar mais uma mensagem para o grupo das meninas que, a essa altura, chovia com perguntas sobre John. 
'Por favor, você precisa nos contar tudo!' Alana disse.
'Gente da sua idade! Yeah!' Amanda mandou.
'Como assim na sua casa as 6 da manhã? Tipo, dormiu aí?' Pedro, meu amigo mais ciumento disse. 
Mesmo com a quantidade de perguntas sufocantes, sorrio ao ler o grupo. Sinto falta dos meus amigos, apesar de estar sendo extremamente necessário esse tempo quase completamente sozinha aqui. 

Quando o relógio marca 10 a.m, eu decido levantar e começar a caminhar para o trabalho. Tudo aqui tem um ar bom, diferente e aconchegante. Não é tão calmo quanto minha cidade natal e também não é tão agitado como minha antiga cidade, São Paulo. Aquele lugar - literalmente - não dormia. Eu não entendo até hoje como que os alunos universitários conseguiam trabalhar, estudar e ainda separar um tempo considerável para gastar em bares - em dia de semana. A maior parte dos meus amigos ia assistir aula virado. Tipo, virado mesmo. De só ter tomado um banho e ido pra faculdade. As vezes nem isso.

Nunca fui festeira. Até um certo tempo atrás, nem beber eu bebia. Depois do término com o Leonardo, comecei a tomar vinho e Gin Tônica, apesar dos esforços de Alana para me convencer a tomar cerveja. Ela até empurrou algumas cervejas importadas pra mim, mas eu dava um gole e sentia vontade de vomitar. Cerveja no geral tem gosto de xixi e aquelas importadas tinham gosto de xixi com conservante. Não que eu já tenha bebido xixi pra saber qual é o gosto.

Chegando ao número 1470, reparo no prédio alto, com vidraças em azul. O prédio facilmente tem mais de vinte andares e, quando confirmo que é aqui mesmo, fico impressionada. "Será que o prédio todo é do escritório?" me questionando. Sabia que era um bom escritório de advocacia, mas não fazia ideia do quão bom ele era, uma vez que minha entrevista de emprego não foi aqui. Ao lado do número 1470 está as letras, em maiúsculo: "ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA RISK", ambos em dourados. "Será que é ouro?", questiono. 
As portas automáticas se abrem enquanto eu ainda observo as letras em maiúscula e por conta disso, eu quase caio em cima de um segurança. 
"Senhora?" ele me diz, colocando ambas as mãos em meus ombros para me firmar no lugar.
Engulo em seco e olho para ele constrangida. "Desculpe", digo, arrumando minha saia. "Eu sou nova aqui. Sou a recém advogada. Não recém advogada, já faz um tempo que me formei. Só sou recém advogada aqui", digo entre uma risada nervosa. Ele me encara com uma sobrancelha levantada. "Sou Lia", estendo a mão para ele. 
Ele observa minha mão estendida e a aperta. "Davies", diz simplesmente. 
Um silêncio desconfortável recaí sobre nós. Balanço meu pé para frente e para trás, querendo disfarçar o nervosismo.
"É... Muito prazer, Davies. Eu vou procurar a recepção agora", digo por fim.
Davies vira o corpo meio para o lado, mas ainda de frente para mim, apontando para um balcão aos fundos. "Ali é a recepção", ele diz. "A nova funcionária chegou", ele fala para um aparelho que me lembra muito um pequeno rádio de policial. 
 
Depois de me apresentar novamente para a recepcionista, ela me encaminha até o setor de RH onde peguei minha carteirinha e entreguei alguns papéis que faltavam pra minha carteira ser assinada. Alguns minutos depois e um crachá escrito "Lia Miller - Advogada" é posto em minhas mãos e eu mal posso acreditar. Estou sorrindo tanto enquanto converso com o responsável de RH que ele me olha assustado, como se não entendesse de forma alguma nenhuma reação minha. 
Nota mental: os europeus são frios. Eles realmente não entendem nenhuma reação minha. 

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