Capítulo 7.

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John.
4 Dias atrás.

Não entendi por que Flea me chamou para sair hoje, no meio da semana. Ele sabe como minha vida é corrida e como tenho uma política rigorosa sobre "nada de festas durante a semana". Mesmo assim, ele me ligou ontem à noite dizendo que era urgente e precisávamos conversar. Quando adentro pela porta, percebo que Flea escolheu um dos badalados. Estamos com certeza num dos bares mais movimentados perto de nossas casas.  Flea é baladeiro, parece quase como se dependesse de festas, mulheres e bebida diariamente para sobreviver. A escolha de lugar não me impressiona.

Mas o nervosismo que ele emana sim. 
Avisto-o de longe, sentado no banco de frente para o bar, com três copos de whisky vazios a sua frente. Ele estende o dedo, pedindo mais um para o barman. 
Enquanto espera, ele batuca os dedos na mesa. Passa a mão pela sua coxa. Fica balançando os pés freneticamente, um sintoma clássico da ansiedade que ele luta contra há muitos anos. Olha ao redor do bar algumas vezes, provavelmente me procurando e quando nossos olhos finalmente se encontram, ele congela. Por poucos segundos, observo-o silenciar, encarando-me realmente nos olhos. Depois ele vira a cara, virando o whisky em um gole só e estendendo a mão para pedir outro. 
Começo a caminhar até ele, uma sobrancelha levantada perguntando qual o motivo de tanta ansiedade. 

"E aí", eu digo, dando dois tapinhas em suas costas. Ele quase cai com a pressão apesar de eu ter certeza que não impus pressão alguma sobre ele.
"O que está acontecendo, cara?" Pergunto ao meu melhor amigo de infância, sentando-me ao seu lado e pedindo um copo de água para o garçom.
Flea observa meu pedido em silêncio, olhando mais para o garçom do que para mim. "Você provavelmente deveria pedir algo mais forte", ele diz em um sussurro. 
Sua expressão nervosa o leva a ficar atônito e, como eu o conheço bem, sei que está cogitando as possibilidades de sair correndo. "Nem pense em fugir. Você me chamou aqui falando que precisávamos conversar. Você está agindo como se alguma das suas cinco namoradas da semana estivesse grávida. Qual o problema?" Pouso minha mão em seu ombro e ele deixa o copo cair.
Me afasto, confuso pela reação. Pouso minha mão sobre a mesa e dou um minuto para ele organizar seus pensamentos. 
"Alguma das suas cinco namoradas está grávida?" Pergunto preocupado.
Ele cospe o whisky. "Não", sua voz sai mais firme, mas não firme o bastante. "Eu preferia isso", ele resmunga, levando o copo a boca novamente.

Flea e eu somos amigos desde... sempre.
Nossas mães eram amigas, então crescemos juntos. Estudamos nos mesmos colégios, até fomos para a mesma faculdade. Passei cada momento de meus 27 anos com esse cara, nossa amizade é inabalável. Poucas vezes durante esse tempo o vi tão nervoso assim. Aliás, só vi uma vez. Quando sua ex namorada de colégio mandou uma mensagem falando que sua menstruação estava atrasada e logo em seguida uma foto de um teste de farmácia que deu positivo.
Mas, para sua sorte, foi um falso positivo e Flea não se tornou pai aos 16 anos. Não teria dado certo, mas sei que ele teria feito seu papel e assumido a criança. Acontece que Flea não tem cabeça pra esse tipo de responsabilidade. Não tinha aos 16, agora aos 27 continua não tendo. Ele é ótimo nos negócios: é advogado como eu, comanda a empresa do pai. Mas em sua vida pessoal não tinha como o cara ser mais desastroso. Não se envolve emocionalmente com ninguém, com ele o relacionamento dura o período da transa de uma noite. Duas, se a mulher mexer com a sua cabeça. Depois do susto que teve com a ex que pensou estar grávida, o término não foi muito bom, envolveu seu pai - que não sabia nem que ela não era virgem -, o pai de Flea - que queria processar a menina -, as duas mães chorando e terminou com ele pegando a melhor amiga dela.
É. Ele não tem muita classe quando o assunto é seu pau.


"... eu sinto muito", sua voz me trás de volta das lembranças do passado.
Olho para seu rosto, examinando-o e percebo que tem lágrimas ao redor deles.
Meu instinto de amigo me faz abraçar seus ombros e dessa vez ele não recua.
"Sente muito pelo que?" Digo calmamente, tentando passar apoio para ele.
"Brianna. Sinto muito por Brianna."

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