John.
Sarah está gritando tão alto e tão agudo que preciso colocar as mãos nas orelhas pra aguentar o barulho. Não é um grito de alguém que está brincando. É um grito desesperado, assustado, quase como se cada onda sonora que sai da sua boca dissesse "pelo amor de Deus, alguém me salva". E eu acho que era exatamente isso que ela queria. Que alguém a salvasse.
Ela está branca igual papel. Parece que vai desmaiar se alguém não a segurar. E é isso que eu faço, passando um braço por sua cintura.
O homem a nossa frente me olha feio. Da um passo em nossa direção e depois para. Olho pra ele, com o meu olhar que diz "se manda, cara". Mas ele não parece ligar."Não, isso não está acontecendo", escuto ela dizer.
Olho pra ela. Está tremendo, continua dando passos para trás. Balança a cabeça negando, repetindo de novo e de novo "isso não está acontecendo".
"Lia", digo. Torço pra que minha voz tenha saído calma e firme como o planejado, mas não sei se ela está me escutando. Parece atônita, nervosa, quase em pânico. Uma de suas mãos está na sua cabeça, a outra, tenta empurrar meu braço.
"Lia", repito, dessa vez virando meu corpo para ficar na sua frente.
"Não, não, aqui não. Por que aqui?" ela continua dizendo mas nada do que fala parece ter coerência.
"Olha pra mim. Respira." Pego em seu rosto, tentando forçar o contato visual mas ela me empurra e sai correndo para dentro do prédio.
"Lia!" grito, dando dois passos a frente.De repente, paro na porta.
"O cara não quis mais", a voz de Lia surge na minha mente.
"Sei lá, acho que cansou de mim", foram suas frases exatas. Lembranças do dia em que viramos amigos aparecem uma por uma. Eu sei quem esse cara é.Cerro os punhos. Esse idiota.
Fechando a porta do prédio, caminho até ele, que agora está de braços cruzados encostado no portão.
"Você é o ex", digo.
"Em carne e osso", responde.
"O que está fazendo aqui?" pergunto.
E por aqui, eu quero dizer na Inglaterra. Lia tinha me dito que o cara morava no Brasil.
Ele da de ombros.
"Vim falar com ela", gesticula com a cabeça para o prédio, como se não fosse nada demais ele ter cruzado o oceano para ir atrás da ex.Travo o maxilar.
Mas não vai mesmo."Você cruzou o oceano pra falar com ela?"
"Isso mesmo", e sorri.
Quero arrancar esse sorriso do rosto dele no soco. Estou me controlando demais para não começar uma briga, contando todo o estresse que eu tenho passado nos últimos dias.
"Não era mais fácil simplesmente não ter terminado com ela, pra inicio de conversa? Te pouparia uma grana", imito sua posição e cruzando os braços, encosto no portão também.
Seu sorriso some.
Isso mesmo, babaca. Tira esse sorrisinho imbecil da cara.
"E isso é da sua conta por que...?" ele pergunta.Tento achar um motivo para justificar o por que disso ser da minha conta, mas não encontro nenhum. A verdade é que não é mesmo da minha conta, eu só sinto um senso de proteção muito grande por essa garota.
É o que eu quero dizer, mas não digo.
"E quem é você, afinal de contas?" Ele diz.
Sério, o que ela viu nesse cara?
Não que ele seja feio, ele é até ok. Mediano. Cabelo? Mediano. Traços faciais? Mediano pra menos. Corpo? Pancinha de cerveja. E o estilo? Ele está de calça verde musgo e blusa xadrez. Pelo amor de Deus. Ele é nada a ver com nada.
Fora que, ele partiu o coração dela no meio. Um sentimento estranho toma conta de mim quando penso nisso. Acho que chamam de ódio.Encosto na porta e ela se destranca, então corro meu dedo pelo botão de identificação. Assim que reconhece minha digital, a segunda porta abre e entro no prédio.
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Todas as estações depois.
Romance"'O amor é vendaval, Lia.' Essa frase não saia da minha cabeça. Só não contava que esse vendaval acabasse comigo." Quando sua vida desmorona da noite para o dia, Lia precisa lutar com todas as forças para se manter de pé. Uma perda irreparável faz...