Capítulo 16

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Oi queridxs!!

Desculpem a demora, mas como todos sabem eu ando tendo dificuldades para escrever. Meus bloqueios andam bem bravos e eu não queria postar qualquer coisa para vocês. Vocês sabem que eu não desisti da historia, então quando eu demoro é porque não consegui escrever ainda.

Espero que vocês gostem do capitulo, não sei se ficou bom pq eu não tinha muita ideia de como colocar no papel o que estava na minha cabeça.

Vou tentar de coração escrever o proximo o mais rapido possivel, mas peço que vocês tenham paciencia. Não atraso por gosto, é horrivel saber que não estou conseguindo cumprir minhas postagens com a mesma frequencia de antes.

Obs: uma leitora perguntou qual o nome da música e do cantor que eu postei no último capítulo. O nome da música é João de Barro e o nome do cantor é Leandro Léo.  Desculpa a demora para responder 😘😘😘😘

Beijinhos, muitos beijos de luz e que Deus ilume a semana de vocês.

Até breve. <33333

SEM REVISÃO

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Sarah

A festa estava linda, a decoração impecavel e o buffet maravilhoso. Meus familiares e amigos dos meus pais estavam alí, até mesmo a Mariah, que havia dito que não consegueria ir, estava na minha casa com os pais dela. Os meninos também haviam aparecido.

A minha avó Victoria, mãe do meu pai, não havia ido, mas tinha me mandado uma pulseira de ouro de presente. Para ser sincera eu tinha ganhado um monte de presente de todo mundo, meu pai então foi o que mais saiu da linha. Deve ter me dado uns cinco presentes durante a semana e naquele dia me entregou mais dois. A maioria era livro, porque ele sabia que eu gostava, mas ele também me deu um colar de ouro com uma pedra de esmeralda tão lindo que eu tinha colocado no pescoço assim que desembrulhei.

No fim da noite eu estava parada atrás da mesa com um sorriso no rosto enquanto todos cantavam parabens, mas foi nessa hora que me bateu uma tristeza. Porque eu podia ver o rosto de muitas pessoas que eu amava, mas faltava uma. O Rixon não estava ali no meio, olhando para mim com um sorriso aberto de felicidade enquanto cantava os parabens para mim. Eu gostava de como ele me olhava quando cantava os parabens todos os anos, e não ver ele ali me fez sentir uma tristeza no fundo daquela alegria.


Quando os parabens foram cantados, o pessoal ficou mais um tempo e depois disso foram indo embora aos poucos. Depois das 23h00 a maioria já havia ido para casa. Restaram apenas meus avós e minhas tias e primos que passariam a noite na mansão. Naquele ponto da noite eu já estava cansada e desanimada. Tinha gasto todo o meu estoque de estado de espirito na festa.

Meus irmãos já tinham capotado, meus pais subiram para coloca-los na cama e eu aproveitei a deixa para sair de cena. Me despedi das pessoas que ainda estavam em casa e subi junto com os dois.

Meus pais ainda me deram mais um beijo e desejos de felicades quando chegamos no corredor e depois disso foram em direção ao quarto dos meninos. Eu fui no sentido contrario e quando entrei pela porta do quarto, desmanchei meu sorriso e respirei fundo.

Eu tinha gostado da festa, dos presentes e tudo mais, mas tinha algo que eu queria que ninguém mais poderia me dar. Eu queria um abraço apertado do Rick. Queria ter ele ali comemorando aquela data comigo.

Era engraçado como a dor da nossa briga estava passando, mas a saudade aumentava no lugar,e, para mim, a dor da saudade, era pior que a dor da briga. Quantas vezes eu e o Rixon não brigamos naqueles anos? A gente divergia e discutia em muita coisa, mas nossa amizade nunca ficou abalada por conta daquilo. Agora nós dois pareciamos dois estranhos e aquilo era tão doloroso para mim.

Eu senti um no na garganta quando minha mente trouxe a tona aquela historia e respirei fundo para me conter. Será que aquela nossa briga seria para sempre? Será que eu e o Rixon nunca mais seriamos amigos como antes? Pensar naquilo me deixava sufocada.

Fui até a minha penteadeira e me sentei na cadeira de frente para o espelho. Meu espelho ainda estava lotado de fotos pregadas. Havia fotos minha com meus pais, com meus irmãos, com a Mariah e muitas do Rixon. Fitei a minha preferida. Foi uma foto que eu havia tirado dele enquanto estava tocando violão na pista de skate velha.

Eu me lembrava daquele dia. Nós dois tinhamos ido escondidos sozinhos para lá, porque ele queria me mostrar uma musica que ele estava compondo. O Rixon nunca gostava de tocar as musicas dele para os outros, sempre tinha vergonha, mas para mim ele sempre mostrava. Até pouco tempo atrás ele sempre fazia isso. Nesse dia ele tocou tão bonito, a letra da musica era linda e a melodia mais bonita ainda e ele cantou com um sorriso tão bonito no rosto. Eu achei que o Rixon estava parecendo tão solto enquanto cantava que não resisti, acabei tirando a foto e bem na hora ele percebeu e tentou tampar a camera, mas não deu tempo. A foto saiu com ele rindo com o violão na mão, e a outra estendendo para camera.

Era minha foto preferida, porque ele tinha um sorriso que poucas vezes eu via ele dando. O Rixon não era uma pessoa que ria muito, sempre foi sério e mais fechado, mas era lindo. Não era só beleza fisica, ele tinha um jeito de olhar que era só dele. Seus olhos tinham a cor do outono, tinham um tom de avelã que combinava com seu jeito intenso de olhar.

Eu ainda olhava para foto, até que notei o reflexo de uma coisa branca em cima da minha cama arrumada. Eu franzi o cenho com estranhamento e me levantei da cadeira, fui até a cama devagar e desconfiada, porque eu tinha certeza de que não tinha deixado aquele papel ali e mais ninguém tinha entrado no meu quarto desde o começo da festa.

Quando cheguei mais perto e vi o meu rosto desenhado no pedaço de papel, senti meu coração disparar. “Não é possivel”  eu pensei incredula. Minha mão estava tremendo quando eu estendi para pegar o desenho.

Quando eu vi o que era de perto, tive uma surpresa grande.  Era a coisa mais linda que eu já tinha visto, parecia um retrato de tão real que estavam os traços. Eu tinha uma cara de sono e um sorriso pequeno no rosto, meus olhos estavam até  inchados. Parecia que eu tinha acabado de acordar e na medida que eu olhava o desenho senti meu coração destrabelhar a bater. Aqueles traços eram do Rixon. Eu conhecia os desenhos dele. O Rixon tinha estado no meu quarto.

Naquele momento eu abri um sorriso ao mesmo tempo que tive vontade de chorar e quando virei o papel para ver se tinha mais alguma coisa e vi aquela mensagem dele, eu não pensei mais. A sua letra estava torta, parecia que ele tinha escrito às pressas, mas eu consegui ler perfeitamente o pedido para que eu me encontra-se com ele na casa da arvore.

Eu não pensei mais, só coloquei o desenho na minha gaveta e sai do quarto as pressas. Desci as escadas de casa pulando os degraus e quando cheguei no primeiro andar, fiz o maximo para passar despercebida, mas não foi dificil. Meus pais ainda não tinham descido e os unicos convidados que tinham, que eram meus tios e primos, estavam distraidos enquanto coversavam e bebiam na sala de estar.

Eu ainda ouvia as risadas do meu tio Felipe, quando sai pela porta da cozinha. Literalmente corri até a casa da arvore e subi as escadas, mas quando cheguei no patamar de madeira e vi o Rixon, eu paralisei.

O Rixon estava de pé, vestido com aquela jaqueta velha que ele sempre costumava usar e segurava o seu violão na mão. Eu não tive muito tempo para pensar ou agir, porque assim que seus olhos se encontraram com os meus, ele começou a tocar o violão. Daquele momento em diante eu paralisei, a musica tomou conta de tudo  e quando a voz do Rixon soou clara, alta e vibrante, eu senti meus olhos se encherem de água.

“ O meu desafio é andar sozinho
Esperar no tempo os nossos destinos
Não olhar para trás, esperar na paz
O que me traz
A ausencia do teu olhar

Traz nas asas um novo dia
Me ensina a caminhar
Mesmo eu sendo menino aprendi

Oh, meu Deus, me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de barro, eu te entendo agora
Por favor, me ensine como guardar meu amor...”

Ele cantou para mim em um português quase sem sotaque e sua voz daquela vez parecia ainda mais rouca e bonita.  O Rixon cantava para mim, só para mim e daquela vez foi tão diferente das tantas outras em que ele tocava para que eu ouvisse. Seus olhos não se desviavam dos meus e mesmo estando escuro, a luz da lua que passava pelas frestas da janela e da madeira das paredes, iluminavam seu rosto o suficiente para que eu visse seu olhar fixo no meu.

Quando ele terminou eu estava tremendo, arrepiada e sentia meus olhos cheios de água. Meu coração batia tão forte que eu conseguia sentir meu corpo todo pulsar junto. Eu amava aquela musica, mas ouvir o Rixon cantando a melodia para mim na minha lingua natal  me fez sentir uma coisa que nunca tinha sentido na vida.

Eu não conseguia falar nem me mexer. Fiquei olhando para ele sem reação. Minha vontade mesmo era de abraçar ele forte, mas meu corpo parecia chumbo e o medo de que ele rejeitasse me fez permanecer no lugar.

Eu não sabia como agir e quando o Rixon tirou o violão e deixou no canto, e veio na minha direção eu senti minhas mãos suarem de antecipação. O jeito do Rixon estava tão diferente, ele estava me olhando diferente, por um momento eu cheguei a pensar que ele me beijaria, mas quando ele chegou na minha frente, se abaixou o suficiente para passar os braços pela minha  cintura e me tirou do chão.

O Rixon nunca tinha me pegado daquele jeito e a forma como ele me levantou me fez sentir uma boneca nos braços dele. Quando ele me apertou nos braços eu senti minhas pernas adormecerem e não resisti, passei meus braços pelo seu pescoço e o abracei forte. Não aguentei mais segurar e chorei quando senti seu cheiro familiar.

-Eu sinto tanto a sua falta Sarah. Me perdoa.- ele pediu com a voz engasgada.

Quando ele me disse aquilo eu senti como se ele tivesse acabado de tirar uma pedra de uma tonelada de cima do meu peito. Não conseguia acreditar que fosse real. Eu sentia tanta falta dele que meu coração doia.

-Ah Rixon...Eu também senti...- eu admiti, mas não consegui terminar de falar.

O que eu estava sentindo era tão grande que não conseguia falar, eu só queria ficar abraçada com o Rixon e quando senti ele beijando meu pescoço eu senti um arrepio gostoso pelo corpo. Eu só queria que ele nunca mais me largasse, e eu sentia meu corpo tão mole que se ele me colocasse no chão era capaz de eu não conseguir ficar de pé.

Quando o Rixon se encostou contra a parede, se sentou no chão e me colocou sentada no seu colo, eu olhei para ele, mas não conseguia falar. Ainda não conseguia acreditar que era ele que estava ali me abraçando daquele jeito. Por um momento pensei que ele pudesse ter bebido ou usado alguma coisa para me colocar sentada no seu colo daquele jeito, mas seus olhos eram firmes e o avermelhado parecia ser de choro mesmo.

O Rixon levou a mão no meu rosto para enxuga-lo, beijou minha testa e me levou de encontro ao seu peito e nesse momento  eu tive tanta vontade de que ele me beijasse. Eu quase levantei meu rosto e o beijei, mas eu queria um beijo diferente. Não queria beijar para provar que eu não era criança, eu queria que ele me beijasse. Queria que ele fizesse comigo como fazia com a Ana. Queria que ele tomasse a iniciativa, eu queria que ele me desejasse. Eu queria mais do Rixon.

Eu quase tomei a iniciativa de novo, mas me segurei. Não queria estragar o momento sendo precipitada e metendo os pés pelas mãos. Eu amava o Rixon, mas mais do que um beijo, eu queria ele do meu lado e se fosse o nosso destino ser apenas amigos, eu aprenderia a a me contentar e ficar feliz com o que poderia ter dele.

Para não ceder a minha vontade, eu passei meus braços em volta do Rixon com força e enfiei meu rosto no seu peito para poder me conter. Quando senti ele retribuindo o abraço com força, eu senti o calor do meu corpo aumentar.

Era a primeira vez que o Rixon me abraçava daquele jeito e eu sentia seu corpo contra o meu com tanta itensidade. Conseguia sentir até o contorno dos musculos dos seus braços em volta da minha cintura e o calor do seu colo fez eu sentir uma coisa tão estranha, mas foi um estranho bom.  Era a primeira vez que um garoto me abraçava daquele jeito e eu não sei dizer se era porque era o Rixon, mas eu senti minhas pernas amolecerem mais ainda e minha cabeça pareceu parar de raciocinar. 

-Eu nunca mais quero ficar longe de você Sarah.- ele sussurrou no meu ouvido enquanto mexia no meu cabelo.

Sua voz rouca fez minha pele se arrepiar na hora. Eu amava a voz do Rixon. Ele tinha um timbre grave e rouco, mas tão suave. Não conhecia nenhum garoto com uma voz tão linda quanto a dele.

-Eu também não quero Rick. Nunca mais.- eu confessei com a voz abafada contra ele.

Depois disso nós ficamos em silencio, mas não nos soltamos. Eu não queria largar o Rixon e ele também não parecia ter essa pretenção, porque me segurava apertado contra ele. Eu encostei a cabeça no seu peito e suspirei satisfeita quando senti seu cheiro de madeira e menta. Ele acariciava meu cabelo com tanto carinho que estava fazendo eu sentir o mesmo efeito de quando ele me beijou naquela unica vez. Acho que ter o Rixon daquele jeito chegava a ser tão bom quanto beijar, porque eu conseguia ouvir até o seu coração batendo.

Não sei dizer ao certo quanto tempo nós dois ficamos daquele jeito, encolhidos e abraçados no canto da parede, mas eu não queria ir embora dali e quando o Rixon se mexeu em baixo de mim, eu tive vontade de segura-lo no lugar.

-Onde você vai?- eu perguntei.

-Está tarde Sarah. Acho melhor você entrar.- ele falou com a voz mais rouca que o costume.

Era um voz de choro e eu franzi o cenho em estranhamento. Tirei meu rosto do seu peito e olhei para seu rosto, me surpreendi quando notei os olhos vermelhos do Rixon. Ele estava chorando e não parecia ser pelo mesmo motivo que eu chorei quando ele me pegou nos braços. Ele tinha uma expressão de tristeza e não de felicidade ou alivio e eu senti meu coração se apertar no peito.

-O que aconteceu?- eu perguntei.

O Rixon virou o rosto, enxugou a face rapidamente e me tirou do seu colo abruptamente. Foi como se ele não conseguisse mais tocar em mim.

-Não aconteceu nada. Só está tarde, não acho bom nós dois ficarmos aqui. - ele respondeu e se levantou sem olhar para mim.

Eu fiquei sentada no chão sem entender a atitude dele. Alguns segundos antes o Rixon estava me abraçando com tanto carinho e do nada me afastava como se eu tivesse uma doença contagiosa, ele não conseguia nem olhar para mim.

Ele foi para o canto da parede onde estava o violão e ficou de costas, mas mesmo ele estando com a jaqueta de couro eu notei suas costas subindo e descendo com sua repiração forte.

-Rixon...- eu comecei a falar, mas ele me cortou.

-É melhor você ir embora Sarah. Por favor.- ele pediu tentando disfarçar a voz de choro, mas não conseguiu me enganar.

O Rixon estava estranho, eu não conseguia entender aquela atitude dele, mas também não fiz o que ele pediu. Eu conhecia o Rixon desde que nós eramos crianças, conhecia seu jeito. Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa com ele e eu não iria embora dali sem saber o que era.

Eu me levantei do chão e fui até ele devagar. Não queria agir precipitadamente, mas também não queria não fazer nada, então me limitei a parar atras dele.

-Me conta o que foi que aconteceu Rixon.- eu pedi.

Ele respirou fundo, passou a mão pelo rosto, mas não se virou para me olhar.

-Não aconteceu nada Sarah. Eu só vim aqui te dar parabens. Já vou embora.- ele respondeu evasivamente e começou a pegar suas coisas que estavam no chão.

O Rixon estava tremendo, eu conseguia ver sua mão oscilar enquanto ele pegava suas coisas e foi ali que eu tive certeza de que ele não estava bem. Naquele momento eu só pensei que não poderia deixar ele sair dali e o abracei por trás. Não pensei muito na minha atitude, só não queria que ele fosse embora e pareceu funcionar, porque o Rixon parou onde estava e ergueu o corpo na hora.

Ele estava duro feito um pedaço de pau, eu sentia seu corpo tenso enquanto eu passava os braços pela sua cintura, mas não o soltei.

-Eu não quero que você vá embora Rick. Fica aqui.- eu pedi em voz baixa enquanto o segurava.

-Eu não posso...você não entende Sarah...eu...eu tenho que ir.- ele respondeu gaguejando.

-Você pode sim Rixon. Você dormiu aqui aquele dia. Você pode dormir de novo. Está tarde para você voltar para casa.- eu argumentei e o apertei mais.

-Ai...- o Rixon gemeu baixo nessa hora e tirou os meus braços da sua volta.

Eu franzi o cenho em estranhamento, porque eu tinha o abraçado forte, mas eu não tinha força para machucar a ponto de fazer o Rixon gemer daquele jeito.

Ele só poderia estar machucado para sentir dor com um abraço e aquela constatação fez meu coração se contorcer.

-Você está machucado Rixon?- eu perguntei.

- Que ideia Sarah.- ele respondeu com um riso forçado e foi na direção do seu violão que estava no canto.- Eu vou embora agora. É melhor assim. Se seu pai descobre que eu fiquei aqui, pode dar problema para você.- ele desandou a falar enquanto colocava o violão na capa.

O Rixon estava me evitando, mas eu não me intimidei com aquilo. Muito pelo contrario, fui até ele decidida e passei os braços em volta do seu tronco outra vez. O abracei e daquela vez coloquei o maximo de força que consegui, queria tirar a prova da minha duvida e me arrependi do que fiz na mesma hora, porque senti que tinha machucado ele.

-Argh...- ele gemeu alto daquela vez e fez uma careta de dor.

Eu senti meus olhos se encherem de água e afrouxei o aperto. O Rixon se soltou de mim na mesma hora e me olhou com o rosto ainda vermelho de dor, mas mesmo assim tentou se fazer de durão.

-Quem fez isso com você?- eu perguntei com a voz engasgada.

-Eu cai de skate.- ele respondeu com voz firme, mas seu olhar vacilou.

Eu soube que ele estava mentido, porque assim que ele falou, abaixou o rosto para não me encarar. Eu fui até ele devagar e coloquei a mão no seu rosto fazendo com que ele olhasse para mim. Só então eu notei o roxo que ele tinha embaixo do queixo do lado esquerdo. Estava tão evidente o hematoma que eu me senti culpada por não ter notado antes.

O hematoma era grande, mas estava escondido logo abaixo da sua barba rala e ele tinha umas marcas arroxeadas em volta do pescoço também. Aquilo fez eu me sentir tão mal, que nem parecia que eu havia acabado de ter uma festa linda de aniversario e passado tanto tempo abraçada com o Rixon.

Eu sabia que aquele machucado não era por causa de briga de rua. O Rixon nunca tinha sido o tipo de cara que me metia em briga. Aquilo era coisa de gente da casa dele e pelo jeito como ele parecia machucado só podia ser o seu irmão mais velho. Só mesmo um homem teria força para machucar o Rixon para deixar ele roxo.

-Foi seu irmão?- eu perguntei.

O Rixon não respondeu, apenas fechou os olhos para não me encarar e aquela foi a minha resposta. Ele tinha apanhado em casa de novo, e daquela vez, pelo jeito, tinha sido pior.

Eu não sabia o que fazer, não sabia como consolar o Rixon, porque eu sabia do que ele passava na sua casa, mas não conseguia mensurar como era passar por aquilo, porque eu mesmo nunca tinha recebido nem mesmo um tapa dos meus pais e meus irmãos eram a alegria da minha casa. Eu não sabia como agir ou como ajudar o Rixon e aquilo era tão frustrante.

Eu só sabia que naquela noite eu queria que ele ficasse ali comigo, onde eu sabia que não teria ninguém o atormentando, e lancei de uma jogada que poderia até ser considerada baixa, mas foi o unico modo que eu vi ser possivel convencer o Rixon a ficar.

-Você não me trouxe nada de presente, nem participou da festa, então vai ter que ficar aqui comigo hoje. Esse vai ser seu presente de aniversario para mim.- eu mais ordenei do que pedi.

-Sarah...- ele começou a falar, mas eu cortei.

-Não Rixon. Você não vai embora. Eu quero que você passe a noite aqui. Depois de tudo que você fez nesses ultiimos meses, isso é o minimo que você pode fazer para se redimir.- eu fui firme.

Estava usando da culpa dele, porque sabia que aquilo faria ele ficar. Eu sabia que não era um atitude bonita, mas nas circunstancias foi a unica ideia que me veio na cabeça. Eu conhecia o Rixon, sabia como ele era teimoso e orgulhoso, ele não ficaria ali, mesmo que quisesse, só por não se passar por fraco. Não sei porque, mas depois que ele tinha crescido tinha ficado com vergonha de chorar na minha frente e sempre que tinha o risco daquilo acontecer ele fugia de mim.

Eu não dei brecha para ele fugir daquela vez. Assim que terminei de falar, fui na direção do armario que ficava no fundo da casa da arvore, tirei os colchoes e coloquei no chão. Eram até bem confortaveis, meu pai fazia questão de trocar a cada seis meses porque meus irmãos amavam passar os dias brincando na casa da arvore.

Ajeitei tudo bem em baixo da janela e daquela vez coloquei um por cima do outro para ficar ainda mais macio e parecido com uma cama normal. Enquanto eu arrumava as coisas, o Rixon permaneceu parado me observando e segurando suas coisas na mão.

Quando eu terminei de colocar tudo no lugar, eu me levantei e fui até ele. Não falei nada com o Rixon, apenas o peguei pela mão e o levei até a cama que eu havia improvisado. Me sentei primeiro e o puxei junto fazendo com que ele se sentasse comigo.

Sentamos os dois juntos, um do lado do outro e no primeiro momento ele apenas me olhou. Seus olhos, que já estavam avermelhados, começaram a lacrimejar e quando eu menos esperava, o Rixon soltou a mochila que carregava na mão, me envolveu em um abraço e começou a chorar.

Daquela vez ele não tentou disfarçar .O Rixon chorava baixo, mas compulsivamente e seu corpo se sacudia junto com os gemidos que ele deixava escapar. Eu nunca tinha visto ele chorar daquele jeito, nem mesmo quando nós eramos crianças e aquilo fez meu coração se encher de angustia.

Eu não sabia exatamente como agir e a dor de ver o Rixon naquele estado era tão grande que eu chorei junto com ele. Não sabia o que andava acontecendo com o Rixon, mas ele não estava bem. Ele não parecia ser ele mesmo, eu tinha notado, e não era de pouco tempo, que ele estava mudando e não era para melhor.

Eu queria fazer alguma coisa para que ele se sentisse melhor, qualquer coisa então eu o abracei de volta e forcei meu corpo para fazer ele se deitar junto comigo. Ele não ofereceu resistencia, muito pelo contrario, ele se deitou comigo sem nenhum pudor enquanto me abraçava e se ajeitou do meu lado como se fosse um gato querendo carinho. Eu não disse nada, apenas fiquei ali, abraçada com ele e esperei. Era a unica coisa que eu podia fazer, porque eu sabia que nada do que eu dissesse naquele momento seria de ajuda. Eu nem mesmo sabia o que tinha acontecido, a unica coisa que eu podia fazer era fazer ele sentir que eu estava ali.

Não sei exatamente quanto tempo ele ficou chorando daquele jeito, mas com o passar dos minutos a intensidade do seu choro foi diminuindo, até que ficou silencioso e pouco. Eu senti que seu corpo tinha parado de sacudir e sua respiração também parecia normal, mas ele permanecia mudo.

Eu só queria que ele me dissesse o que tinha acontecido, mas tinha medo dele ficar pior ou ficar com vergonha de me dizer se eu perguntasse.

-Vai ficar tudo bem Rick.- eu afirmei enquanto ainda o abraçava.

Ele não respondeu, mas também não me soltou. Eu olhei para seu rosto e ele me encarava serio e com o rosto vermelho de choro. O Rixon ainda usava aquela touca e eu estranhava tanto aquele adereço. Aquela touca me dava uma agonia tão grande, foi depois que o Rixon tinha colocado aquela coisa na cabeça que ele tinha ficado estranho e eu não pensei antes de levar minha mão até ela.

Não perguntei se podia, apenas arranquei a touca da cabeça dele. Eu queria ver seu cabelo castanho, liso e grosso, mas quando tirei a touca dele, tive uma surpresa desagradavel. O cabelo dele estava todo mal cortado, algumas partes batiam abaixo da orelha, outras um pouco mais acima, era como se alguém tivesse tosado as presas e de qualquer jeito suas madeixas. Ele não estava comprido como de costume.

No primeiro momento, quando eu tirei a touca do Rixon, ele fechou os olhos e respirou fundo. Sua expressão foi como se eu tivesse  acabado de arrancar a pele de um machucado que ainda não estava cicatrizado.

Alguém tinha cortado o cabelo dele a força, só podia ser aquilo. O Rixon gostava tanto do cabelo dele, era tão lindo, e ele até tinha a mania de passar a mão por eles quando estava conversando. Quem tinha feito aquela maldade de cortar o cabelo dele?

-Quem fez isso com você Rick?- eu perguntei assustada.

-Ninguém fez...eu...eu...quis mudar.- ele falou gaguejando.

-Foi você que cortou?- eu perguntei abismada.

Ele apenas assentiu e tentou sorrir, mas pareceu uma careta.

-Ficou feio não ficou?- ele perguntou.

Eu tentei sorri e passei a mão pela cabeça dele. Me deu uma dor tão grande quando senti seus fios cortados, porque aquilo ali não era normal. Não que tivesse ficado feio, ele ainda continuava com os mesmos olhos, então para mim não tinha mudado nada, eu continuava achando o Rixon lindo de qualquer jeito, mas o que me doia era ver que aquilo não era ele. Aquele cabelo tosado não era coisa do Rixon.

Eu não entendia o que ele poderia ter na cabeça na hora que fez aquilo? Porque ele cortaria o cabelo daquele jeito se gostava tanto dele comprido? Dava para ver que ele não tinha ido no salão, muito menos que estava querendo mudar para ficar melhor, porque o cabelo estava todo torto, e ele tinha uma expressão de dor escondida por trás do sorriso forçado enquanto falava do cabelo. Tinha alguma coisa muito grave acontecendo com ele, e não era só dentro de casa, era dentro dele.
 
-Você fica lindo de qualquer jeito Rick, só está meio torto. Que tal se eu cortasse as pontas que ficaram?- eu respondi.

O Rixon passou a mão pelo cabelo e fez uma expressão de pesar.

-Eu pensei que ficaria melhor curto, como o do Franklin. Arrependi de ter cortado.- ele falou pensativo.

- Eu te acho bonito independente do cabelo, mas também gosto mais dele comprido. Combina mais com você e eu gosto de passar a mão neles. Se você arrependeu, corta as partes que ficaram e deixa crescer de novo.- eu dei a ideia.

O Rixon me olhou e deu um meio sorriso.

-Você acha mesmo que eu sou bonito?- ele perguntou.

-Não só bonito, mas inteligente e artista. Não conheço alguém com a voz tão bonita quanto a sua e seus desenhos parecem tão reais que dariam um quadro. Aquele desenho que você deixou na minha cama é lindo.- eu respondi com sinceridade.

O Rixon sorriu fracamente, passou a mão no meu rosto e levou a mão até a pedra do colar de esmeraldas que eu havia ganhado do meu pai.

-Eu queria ter trago um presente melhor para você, mas só tinha aquele desenho. Eu fiz no dia que dormir aqui com você. Foi dificil desenhar seus olhos. Demorei mais de uma semana para acabar. Eu nunca consigo te desenhar direito, nunca fica igual.- ele falou pensativo enquanto analisava a pedra.

Eu passei a mão no seu rosto em um gesto de carinho e fiz ele olhar para mim.

-Eu nunca ganhei um presente tão lindo nem ouvi coisa tão bonita quanto você cantando para mim.- eu respondi com sinceridade e o Rixon esboçou um sorriso.

No momento seguinte ele beijou minha testa e me apertou nos braços.

- A gente é tão diferente. Você só traz alegria para todo mundo. Se não fosse você eu acho que já teria morrido. Você faz aniversario hoje, mas quem ganhou um presente no dia que você nasceu, foi eu. - ele falou enquanto me apertava.

Eu o apertei de volta e senti tanta vontade de chorar. O Rixon falava com um tom de voz embargado, dava para sentir em cada palavra que ele dizia que ele segurava o choro na garganta.

-Você também traz alegria para todo mundo que te conhece Rick.- eu respondi.

-Minha familia pensa diferente, mas eu não me importo mais com eles. Eu vou embora. Nunca mais quero ver minha mãe nem meu irmão.- o Rixon me respondeu com voz de choro.

Nesse momento eu franzi o cenho e me afastei do seu abraço o suficiente para olhar seu rosto.

-Como assim você vai embora ?

O Rixon me olhou serio e com semblante grave.

-Eu fugi de casa.- ele confessou.

-Fugiu? Mas para onde você vai Rick?!- eu perguntei em uma exclamação.

-Não sei. Só não quero mais voltar para aquela casa. Já trouxe comigo tudo que eu preciso.

-E como você vai fazer para se manter, para estudar? Como você vai fazer para ir para faculdade se fugir de casa Rixon?- eu perguntei aflita.

Aquela era a ideia mais maluca que eu já tinha ouvido sair da boca do Rixon. Será que ele pensava mesmo que conseguiria se manter sozinho tendo apenas uma mochila, um skate velho e um violão? Ele estava no ultimo ano do colegial, como ele continuaria estudando, onde ele dormiria ou tomaria banho se não tinha um trabalho para conseguir pagar nem que fosse um quarto de pensão?

-Você não entende Sarah! Não tem como você entender o que é ser esculachado a vida toda por quem deveria cuidar de você! Eu não suporto mais viver debaixo do mesmo teto que eles. Não estou preocupado com faculdade ou o que quer que seja. Eu só não quero mais viver desse jeito! Eu nunca vou ser o suficiente para eles gostarem de mim! Eu nunca vou ser como o Franklin ou como o James. - ele exclamou e seus olhos voltaram a avermelhar.

Ele falava de uma forma tão sentida que eu me calei. Eu já havia visto o Rixon mal por causa da familia dele, mas daquela vez tinha algo diferente. Ele parecia pior do que todas as outras vezes e eu notei que nada do que eu dissesse faria ele melhorar. O Rixon tinha uma ferida que aparecia no seu olhar e tudo que eu queria era fazer aquilo passar.

Eu passei a mão pela sua face novamente e beijei seu rosto. Olhei seus olhos cor de avelã e abri meu coração para ele sem abrir a boca. Eu o olhei com todo aquele amor que eu tinha guardado no peito. Eu sabia que palavras não fariam efeito, mas talvez se ele visse o quanto era importante para mim aquela dor que transparecia no seu rosto diminuisse. O encarei por um bom tempo e ele não desviou os olhos dos meus. Se ele pudesse ver o que eu via nos seus olhos talvez não se sentisse tão menosprezado, porque mesmo ele estando magoado e triste, seus olhos eram fortes e não vacilavam enquanto olhava para mim.

O Rixon poderia ter dezoito anos, mas dos meninos da idade dele, eu não conhecia nenhum que conseguisse hipnotizar alguém só pelo olhar. Ele sempre dizia tanta coisa que sua boca não falava. Era como quando ele cantava e me fazia sentir de chorar. Ele conseguia passar tudo que sentia quando cantava, em cada nota que saia da sua boca, e tinha o mesmo dom de fazer isso com os olhos. Será que ele não conseguia ver o quanto era diferente de todos os garotos? O quanto ele era especial e conseguia tocar no intimo de quem o conhecia de verdade? O Rixon transbordava sentimento, talvez por isso não conseguia se encaixar na maioria dos grupos. Pessoas como o James, Franklin ou Ana eram tão superficiais que não entendiam pessoas como o Rixon, mas era justamente sua sinceridade e profundidade que me fascinavam.

-Você não precisa ser como eles Rick. Nunca precisou. Você é unico, é especial, por isso eles querem te mudar. Porque se você se tornar um deles, vai ser comum, mas quem disse que ser comum é bom? Bom é a gente ser quem a gente é. Eu gosto do Rixon de verdade, amo seu cabelo comprido, suas camisas de banda, jaqueta de couro e allstar. Gosto de como você olha, do seu jeito timido, de como você fala e de como você se solta quando está cantando. O que é um cabelo engomado e sorriso falso perto disso? Se eles pudessem e conseguissem eles seriam como você, porque você é de verdade e não existe coisa mais bonita que isso.- eu falei com toda sinceridade enquanto olhava para ele.

O Rixon não disse nada, apenas ficou me olhando por um tempo até que por fim beijou minha testa outra vez e me abraçou novamente.

-Sua mãe está certa quando te chama de solzinho Sarah. Eu sou parecido com a lua, se não tiver você comigo parece que eu nem existo. Quando você está longe só existe escuridão para mim.- ele falou com a voz embargada.

-Então não vai embora Rixon. Fica aqui onde eu posso fazer alguma coisa. Eu vou arrumar uma forma de te ajudar. Deve ter uma solução melhor do que você fugir de casa e deixar tudo para trás.- eu falei em resposta.

Em resposta o Rixon respirou fundo e me apertou forte. Ficamos em silencio por um bom tempo, até que ele afrouxou o aperto e eu notei que ele havia adormecido. Eu olhei para o rosto do Rixon e não consegui evitar as lagrimas que se formaram, porque ele estava com o semblante tão pesado no rosto que eu quase não o reconhecia.

Aquela era a terceira vez que ele dormia abraçado comigo. Da primeira eu me senti radiante, da segunda eu me senti triste e daquela vez eu me sentia angustiada, porque eu sentia que o Rixon estava pedindo socorro. Ele precisava de ajuda e foi ali que eu tomei uma decisão: eu conversaria com meus pais, pediria a ajuda deles, eu não conseguiria fazer aquilo sozinha. Eu não sabia mais o que fazer para ajudar o Rixon. Não queria envolver ninguém naquela historia, porque sabia que o Rixon tinha vergonha, mas eu daria um jeito de fazer meus pais me ajudarem sem precisar expor tudo. Eu daria um jeito de tirar o Rixon daquela situação.

Sarah #Wattys2019Onde histórias criam vida. Descubra agora