-Tanner-
"Mãe? Estás em casa?" Grito assim que chego ao apartamento depois da escola. Não há resposta portanto percorro o apartamento à procura dela. Mas não está em nenhum sítio em que possa ser encontrada. Caminho até à cozinha para ver se deixou alguma nota para mim como costuma deixar, mas não há nenhuma.
Talvez não tenha estado em casa a noite passada também? Pergunto-me onde ela esteve. Quer dizer, ela mentiu-me sobre onde trabalha, por isso nunca se sabe.
Suspiro e vou até ao quarto para pegar num totó do armário. Ponho o meu cabelo eriçado num coque desleixado e olho para o meu reflexo no espelho.
O meu cabelo parece decente num coque, alguns caracóis emolduram a minha face. Os meus habituais, aborrecidos, olhos cinzentos parecem um pouco mais vivos, talvez porque consegui dormir alguma coisa a noite passada.
Estou a usar uma sweatshirt do Shawn e um par das suas calças de fato de treino. Ele insistiu que eu usasse as suas roupas quando eu quis vir até casa para me mudar.
Adormeci na sua casa a noite passada, depois de lhe pedir para me abraçar. Para ser honesta, ele fez com que eu me sentisse desejada. Por uma vez.. Alguém gosta de mim.
Hoje ainda não tinha estado lá em baixo na velha entrada para falar com a velha mulher que trabalha na secretária da frente. O nome dela é Anna e é muito querida.
Calcei as minhas velhas converse, como o habitual, e caminhei para o vagamente iluminado corredor. Abri a porta enferrujada para as escadas e fiz o meu caminho para baixo. Assim que escuto o familiar estalar das dobradiças, ouço algumas vozes.
Parece a minha mãe. Olho um pouco para lá das grades e vejo que é ela, com um homem.
"Oh por favor, ela nunca saberá." Ela diz, rindo um pouco. "Eu sei que mentir-lhe sobre o pai está errado, mas que poderia fazer mais? Ele foi."
O homem acena compreensivamente e depois inclina-se para um beijo.
Uau.
Quem é esta pessoa e porque é que está a sugar a cara da minha mãe? E o meu pai? Ele está morto, pelo que percebi.
Sacudo a minha cabeça suavemente e deslizo pela porta até à entrada. Vejo Anna sentada na secretária, a ler um livro. Ela olha para cima. "Boa tarde Tanner. Não te vi a noite passada. Onde estiveste?" Ela pergunta, fechando o livro e eu dirijo-me à caixa de correio.
"Fiquei na casa de um amigo.." Respondo abrindo o pequeno cadeado. Só há dez caixas de correio porque, bem.. ninguém vive aqui exceto a Anna, a minha mãe e eu, e uma mulher que se mudou recentemente. Anna disse-me que ela e o marido tiveram uma grande discussão e este foi o único sítio que ela arranjou.
"Um amigo? Hum, qual é o nome desse amigo?" Anna pergunta erguendo uma sobrancelha.
Tiro o correio e começo a vê-lo. "O nome dele é Shawn" Eu digo.
Espera, eu e o Shawn somos amigos? Sim.. tenho a certeza que somos.
"Um rapaz, estou a ver" Anna diz a sorrir.
Aceno, sorrindo suavemente, até que um envelope me chama a atenção.
É branco e muito grosso. Tem o meu nome na frente.
"Abre-o querida." É tudo o que Anna me diz.
Aceno, mais uma vez, sento-me no pequeno sofá na sala e abro o envelope.
E isso muda tudo.
****
"Tanner, querida, estou em casa." A minha mãe chama da porta da frente.
A minha mente está acelarada, o meu coração a bater, a minha pele está a ferver com raiva. "Tens estado a mentir-me." Digo com os dentes cerrados.
"O que estás a dizer, pequenina?"
A minha cabeça gira para ver a minha mãe à minha frente, com um falso sorriso embriagado na sua cara.
"Tu. Mentiste. Me." Digo.
"Menti sobre quê?"
Levantei-me. "Porque é que não me disseste que o meu pai continua vivo?"
"E-Eu" Começa, mas eu páro-a.
"Porque é que não me disseste que ele me tem mandado MILHARES DE DÓLARES POR MÊS?" eu grito.
A minha mãe olha para mim chocada, mas sabe que foi capturada. "Tanner, querida, onde viste isso?" Pergunta.
"Fui ver o correio e tinha uma carta para mim, por isso abri-a. Era uma carta do meu pai a perguntar se eu tinha recebido o dinheiro que ele me tem mandado, e porque é que não lhe tenho respondido." Respiro fundo.
"Tan-"
"Onde está o dinheiro que ele me tem mandado?" Pergunto com os dentes cerrados.
Estou para além de zangada. Tenho vivido num buraco de merda, com apenas alguma roupa, sem medicina, com apenas alguma comida, quando o meu pai que eu pensava que estava MORTO, ME tem mandado toneladas de dinheiro por mês.
"Eu não sei Tanner. Não fiques tão zangada."
"EU FIco ZANGADA SE EU QUISER. ONDE DIABOS ESTÁ O MEU DINHEIRO?" Grito. "DESTE-O AO HOMEM QUE ESTAVA A SUGAR A TUA CARA NO CORREDOR?"
"NÃO FALES DELE ASSIM SE NEM O CONHECES." A minha mãe grita de volta.
"E sobre o teu trabalho? Ahn?"
"Sobre quê?"
"Tu não trabalhas no Hampton Hotel. Como vês, fiquei na casa de um amigo a noite passada e ele gentilmente deixou-me usar o telemóvel para te ligar. Mas, quando eu liguei, eles disseram que nunca tinham ouvido falar de ti e que não contrataram ninguém!"
A minha mãe olha à volta da sala evitando os meus olhos. "Aquele dinheiro era meu." Ela diz.
"Não, era meu! Era para MIM. Que diabos, sabes que eu o usaria para nós as duas porque nós estávamos a viver em péssimas condições!" Várias lágrimas começam a correr livremente pelas minhas bochechas. "Mas para ti não! Enquanto eu estava neste buraco de merda, tu estavas fora, a gastar o meu dinheiro em deus sabe o quê e a andar por aí com esse homem!"
Ela não diz nada. Apenas olha na direção da porta.
"Eu vou-me embora." Digo, por entre as lágrimas.
Caminho até ao meu quarto e agarro em todo o dinheiro que tinha poupado que estava escondido no armário, e no dinheiro que o meu pai me mandou na última carta. Pego numa velha mochila e meto as minhas roupas lá dentro. Agarro na minha mochila da escola e suspiro antes de sair pela porta.
Sem olhar para trás, para a minha mãe. Se é isso que lhe devo chamar.
****
Acabo por dar comigo em frente à porta do Shawn. Tenho chorado todo o caminho até aqui, pensando que tenho culpado o meu pai pelas condições em que tenho vivido, quando a culpa é toda da minha mãe.
Nunca foi culpa dele.
Bato à porta e espero um momento que a porta se abra. A mãe do Shawn está lá com um sorriso no rosto, até ver que estou a chorar. "Oh, entra querida." Ajuda-me a entrar e fecha a porta. "Shawn!" Grita.
Cubro a minha cara com as mãos e continuo a chorar.
Detesto-me por vir aqui, mas não tenho outro sítio para ir. Vou encontrar um lugar para onde ir, amanhã, mas neste momento não consigo pensar.
"Tanner?" Ouço Shawn perguntar. "Oh deus, hey, hey, está tudo bem." Shawn envolve-me num abraço e começo a chorar ainda mais. "Está tudo bem, o que quer que seja que se passa vai ficar bem. Eu prometo.." Murmura.
Tudo o que consigo responder é: "Espero que sim.."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Alone. Shawn Mendes. Tradução PT-PT
Fiksi Penggemar"Como é?" "Como é o quê?" "Estar sozinha." Queria desde já esclarecer que não fui eu que escrevi a fic, estou apenas a traduzi-la porque gostei muito de a ler! Todos os créditos vão para @LittleFlowerGirl. Obrigada (: