Prólogo

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Kim S/N

EUA, Washington,
21h:30m AM

Se eu pudesse escolher um super poder, com certeza escolheria a invisibilidade. Não tem vergonha maior do que fazer tudo errado no seu primeiro dia de trabalho. Não sei nem como eles cogitaram a hipótese de contratar uma garota tão desastrada assim. Cheguei com vinte minutos de antecedência, cumprimentei a todos, sorri como uma boba alegre e ainda ajudei uma senhora com as suas sacolas. Mas mesmo assim, eu estraguei tudo. Pensei que fosse bastante fácil trabalhar em um Restaurante.

Qual é, como haveria dificuldade em atender clientes?

O segredo era a simpatia.

O primeiro foi fácil, o segundo era um pouco indeciso, o terceiro cheirava mal e o quarto cliente, bem, como eu poderia descrevê-lo?

Acho que ele era estúpido demais!

Sei que os garçons estão aqui apenas com a função de servir, mas nem por isso eu teria que ter a obrigação de levar desaforos pra casa. O abusado começou a criticar minha aparência e ao meu modo de andar.

Me poupe!

Tem jeito certo até pra andar agora? Se eu quisesse sairia rastejando pelo o chão que nem uma cobra. Quem me dera ser uma cobra naquele momento. Eu teria feito questão de picar o que ele tem entre as pernas, pra que nunca mais o usasse. De início, eu o ignorei. Mas se tornou algo impossível de aguentar quando ele apertou minha bunda, tipo, assim, na cara dura mesmo! Ele deve ter se arrependido do que fez, já que pediu inúmeras desculpas depois que eu derrubei tudo o que tinha naquela mesa encima dele.

Nós tínhamos virado o centro de atenções daquele estabelecimento, nada muito surpreendente.

Quem não gosta de um barraco, né?

Depois da confusão uma demissão era tudo o que eu aguardava, mas o gerente foi legal comigo e acabou me deixando ficar. Isso era o certo a se fazer, já que eu não tinha culpa.

Eu quem fora assediada ali!

Prossegui com meu trabalho normalmente, ouvindo cochichos sobre mim, o que me deixou bem desanimada. Eu acabaria sendo demitida mais cedo ou mais tarde, afinal, era o que eu fazia de melhor. Nunca consigo ficar mais de duas semanas trabalhando em algum lugar. Sou tão distraída mas tão distraída, que posso estar conversando com você agora e no instante seguinte, estar pensando em pássaros.

São bonitos, não?

- S/N. - O Gerente me chamou até ele. - O movimento está muito ruim hoje, então nós iremos fechar mais cedo.

- Tabom.

- Vai querer uma carona para casa?

- Não, não precisa, obrigada.

- Tem certeza? - Olhou pela a janela. - O tempo está fechado. Acho que deve chover mais tarde.

Até parece que eu iria aceitar carona de um estranho.

E se eu for sequestrada?

- Ah, não precisa mesmo. - Retirei o avental. - Não me importo em me molhar.

- Mas ai você ficará resfriada. Como virá trabalhar?

- Não se preocupe, eu nem fico doente fácil.

- Se você diz. - O observei abrir o caixa e pegar duas notas de cem. - Iremos te pagar por dia, até que seja contrada.

Era mais do que eu imaginei.

- Muito obrigada.

- Pode se trocar lá dentro, os novatos sempre vão embora na frente.

Assenti e fui para os fundos até um pequeno cômodo, a onde ficava uns armários. Me certifiquei de que não havia ninguém ali e troquei de roupa. Guardei o dinheiro na bolsa e verifiquei as horas do celular. Quase oito da noite, ainda está cedo. Vou aproveitar para colocar minhas séries, animes e doramas em dia.

A lista é infinita!

- Cuidado com a chuva. - Ouvi o Gerente dizer, antes que eu passasse pela a porta. - Até amanhã, S/N.

- Até amanhã.

Pensei em dizer seu nome também, mas eu esqueci.

Sou péssima nisso.

Coloquei meu capuz e andei pela a calçada. Estava frio. Tive que andar alguns minutos para chegar ao ponto. Agradeci por não ter ninguém lá. Prefiro ficar sozinha. Já me acostumei com a minha própria companhia e acho estranho quando estou fora dela. Sentei-me ao banco e juntei as mãos, tremendo. Decidi não mexer no celular, ou acabaria sendo assaltada aqui, como já fui algumas outras vezes.

O ônibus não demorou muito para passar. Fiquei sentada no assento mais alto, torcendo pra que ninguém escolhesse se sentar ao meu lado. Eu realmente me tornei uma pessoa muito anti-social. Coloquei meus inseparáveis fones de ouvido, me deixando levar pela a música e me imaginando em clipe musical. Fechei os olhos e encostei a cabeça no vidro. Tentei dormir, mas o ônibus balançava muito. Desisti e voltei a me concentrar na música. Calculei o tempo com ela. Demorou exatamente seis músicas, para que finalmente eu descesse no ponto e ir para casa. Enfiei as mãos no bolso do moletom e andei no canto da calçada. A chuva já havia começado, mas não dei muita importância. Me senti a protagonista de um vídeo clipe depressivo. Mesmo ainda estando cedo, não há muitas pessoas na rua. A minha casa ficava bem lá na frente e era uma das últimas do bairro. Mais um motivo pra tirar carteira de motorista. Andar cansa demais, ainda mais se tratando de uma sedentária como eu.

Apressei meus passos, mas parei na mesma hora. Retirei um dos fones e olhei para trás. Tive a impressão de ouvir um grito. Voltei a andar e o barulho se repetiu. Me assustei. A tranquilidade só veio quando fui descobri do que se tratava. Eu acho que eu vi um Gatinho. Confesso que a imagem me assustou. Os miados ficaram mais altos quando descobri aquela coisa. Suas orelhas balançavam freneticamente, de um lado para o outro. A calda estava machucada e ele estava todo molhado, por conta da chuva.

De início, eu estava com medo de me aproximar. Eu não sabia muito sobre os Híbridos, mas sabia que eram extremamente selvagens, ainda mais quando vivem nas ruas. Não entendo como eles conseguem viver abandonados assim. Eles também são criaturas muito carentes e precisam de amor, assim como qualquer um animal ou pessoa.

Reparei bem em suas orelhas antes de me aproximar. Ele era um garoto loiro, estava usando uma blusa de coraçõezinhos, que por sinal estava bem rasgada e toda suja. Há pequenos hematomas em seu pescoço. Ele era fofo. Dei dois passos para trás quando ele se moveu e tentou se levantar.

Engoli em seco.

Droga.

Eu não deveria ter me aproximado.

- Oi...

Ele não me respondeu.

- Oi. - Tentei mais uma vez. - Você está bem?

Um Gato em minha vida | Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora