Epílogo

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2032 - 15 anos depois

Pov Cait


Olhando para aquela cena tão familiar, eu comecei a imaginar o que seria da minha vida sem aquilo tudo, como eu estaria caso eu não tivesse esbarrado com Sam em Londres naquela noite agradável da primavera de 2013. Não que aquela interação fervorosa fosse algo muito confortável de se ver, pelo contrário, mas, mesmo assim, ela era a cara da nossa família! Sophie estava discutindo novamente com Sam sobre suas saídas nos finais de semana e ele, sendo o ciumento incorrigível de sempre, não admitia a ideia dela ir dirigindo sozinha à noite para qualquer evento, e muito menos de ir na carona de algum colega da escola. "Eu estou aqui de férias e vou ser seu motorista. Não me importo. Não quero você solta, vão achar que você não tem família, Sophie!", ele disse aos berros, caminhando a passos largos pela casa atrás dela antes que ela batesse com a porta de seu quarto na cara dele.

Sophie tinha se transformado em uma linda mulher e aquilo era ainda um pouco assustador para mim, e muito mais difícil para Sam. Ela estava no último ano do High School e já tinha sido admitida para uma das melhores escolas de artes cênicas dos Estados Unidos, a Duke. Sim, ela tinha herdado o dom de atuar de nós dois, ou quem sabe ela tinha se apaixonado pela atuação enquanto corria pelos sets de filmagens e coxias de teatro durante aqueles 18 anos em que ela tinha participado desse mundo tão cheio de diferentes cores e sentimentos. Seu talento era visível a cada peça de teatro da escola, a cada vídeo gravado com as amigas, então não nos impressionamos quando ela nos disse o que pensava em seguir na sua vida profissional. Sam e eu ficamos muito felizes e orgulhosos por nossa primogênita, por ela ter escolhido uma profissão tão bonita e por ter sido aceita em uma escola tão disputada. Porém, o único problema dessa equação era que essa faculdade ficava exatamente do outro lado do país, no estado de Washington. 41 horas de carro. 6 horas de voo. Seria a primeira vez que Sophie realmente ficaria longe da gente por mais de um mês e o meu coração já estava apertado, mesmo faltando menos de dois meses para que aquilo realmente acontecesse. Mas para Sam estava sendo mais dilacerante ainda, por mais que ele não me falasse nada abertamente... Estávamos juntos há quase duas décadas e até o seu suspiro era inconscientemente diagnosticado por mim, já era algo automático e intuitivo. A relação que ele construiu com nossos filhos foi tão ou mais especial do que a nossa, ele tinha realmente nascido para criar uma família, e estava sofrendo silenciosamente por ter que finalmente ajudá-los a voar por conta própria.

Noah, diferentemente de Sophie, sempre foi mais introspectivo, mas não menos amoroso, pelo contrário! Ele era um adolescente típico de 13 anos, alto, magro e moreno como eu. Pelo menos ele tinha puxado a mim, porque Sophie era a cara de Sam, mesmo tendo o meu temperamento. E, para o nosso alívio, Noah sempre foi mais ligado às ciências exatas e certamente não seguiria os mesmos passos que os nossos, profissionalmente falando. Ser ator não é fácil e não basta ter somente o dom para atuação; e estar na hora certa e no lugar certo também não é tão simples assim, eu e Sam tivemos que lutar muito até conseguirmos nosso lugar ao sol. Desde pequeno, Noah adorava fazer experimentos e seguidamente apresentava seus diferentes "números" de física, fazendo explodir melecas coloridas por toda a cozinha ou mostrando como fazer duas batatas gerarem eletricidade para acender uma lâmpada. Ele fora um menino extremamente inteligente desde muito pequeno, começando a ler e escrever antes dos 5 anos de idade e demonstrando uma sede incontrolável por novos livros, assim como o resto da família.

- Caitriona, eu não sei mais o que fazer com essa menina. - Sam chegou perto de mim bufando, sentando pesadamente no sofá e me tirando bruscamente do meu devaneio. - Ela quer sair sozinha DE NOVO e não quer que eu a leve. Disse que é "mico". - ele fez uma careta e, por um segundo, eu consegui imaginar Sam com 10 anos de idade, mesmo que ele já tivesse algumas rugas discretamente espalhadas pelo seu rosto. - Eu não sei mais o que faço com ela...

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