Capítulo 40.

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— E... Morreu. — Alexandre lamentou, ao meu lado.

— Merda! — Por impulso, descontei o nervosismo na primeira coisa ao meu alcance. Meu punho foi de encontro ao volante e uma dor subiu pelo meu braço. — Ai!

Alex não conteve a risada.

— Ah, para! Você foi bem! — Ele insistiu, batendo amigavelmente no meu ombro. Diferente dos outros dois, aquele carro onde estávamos era muito mais apertado e Alex espremia os seus quase dois metros no banco de carona. — Da minha primeira vez eu não consegui fazer o carro andar meio metro sem ele morrer. Você está indo muito bem.

Girei a chave na ignição e sorri para ele, agradecida pelo incentivo.

Já fazia três dias desde que começamos a abrir caminho até o hipermercado. Na primeira tarde, apenas exploramos a parte que Faber e Alex já haviam limpado e isolado, pensando na nossa estratégia. A cerca de arame farpado era um complemento interessante para a barreira de carros, mas a usavam apenas em ruas mais estreitas, porque era muito material gasto e sempre precisavam procurar mais para repor. Interditar ruas com veículos, por outro lado, era mais simples e também resistente a zumbis.

Fora o fato de que nenhum dos meus colegas realmente sabia dirigir, havia outro problema com os carros e era o motivo de nunca termos sequer pensado em usá-los para locomoção: faziam muito barulho e nem sempre era fácil transitar pelas ruas repletas de corpos no chão, acidentes e outros veículos largados. Ainda assim, o caos dos primeiros dias resultou em muitos carros abandonados prontos para uso (embora mais do que a maioria estivesse com corpos pútridos dentro).

Depois de mapear as ruas, reconhecer onde havia foco de zumbis e veículos disponíveis, começamos a dividir as tarefas. Nos dois primeiros dias, nos concentramos em afastar grupos maiores de zumbi (com a estratégia de Hector de atrair e fugir) e limpar os errantes em menor número.

O que só era simples na teoria. Mais de uma vez nos encontramos em situações mais perigosas do que prevíamos, contra números inesperadamente grandes de zumbis. Se já não tivéssemos algum preparo e conhecimento prévios, provavelmente tudo teria terminado em tragédia. Graças a isso, o clima não era dos melhores.

Ainda assim, permanecemos fiéis ao nosso acordo. Melissa e Hector faziam ronda em ruas paralelas, lidando com os mortos atraídos pelo som do motor do carro, enquanto Faber ia sozinho reunir mais arame farpado.

Para a nossa surpresa, apesar de inconscientemente considerá-los como uma dupla, Faber e Alex raramente trabalhavam lado a lado. O intercambista era ágil, rápido e, quando o mundo ainda não estava dominado por estas bestas, treinava parkour — aquilo explicava sua facilidade em cruzar as ruas no primeiro dia que o encontramos. Preferia fazer sozinho a maior parte das tarefas de reunir mantimentos.

"Eu sei que é mais perigoso. Sem alguém pra te cobrir, você tem que manter a atenção redobrada, mas ao mesmo tempo é mais rápido se mover sozinho. Eu observo bem para onde quero ir e depois faço tudo o mais rápido possível para chamar menos atenção. Às vezes os zumbis nem tem tempo de reparar em mim. O segredo é ser breve, não dá pra ficar reunindo muita coisa." ele explicou, um dia, numa mistura característica de português com castelhano.

Hector já falara aquilo uma vez, quando deixou a casa em que se esconderam depois do ferimento de Carlos para afastar os zumbis. Apesar de entender a lógica, nunca me sentiria segura enfrentando aquele mundo completamente sozinha outra vez, por isso preferia qualquer tarefa que me permitisse ficar com o resto do grupo. Alex concordava comigo.

Ele ficou surpreso em saber que nenhum de nós, mesmo com 18 anos, tivesse muita noção de direção. "Olha, eu sei que vocês ainda têm 17 anos e tal, mas o mundo agora é outro. Se precisarem se locomover por grandes distâncias, não tem forma melhor do que ir de carro." E ele estava certo. Além do que, oportunidades como aquela não apareciam sempre.

Em DecomposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora