Capítulo XI

4.6K 540 20
                                    

— E depois? O que aconteceu? — Anthony questionou compenetrado.

— Após muito custo consegui acalmar o Harley. Nos certificamos que não estávamos​mais sendo seguidos pela polícia e fomos para um bar.  Estávamos famintos com toda essa adrenalina de fuga. 

— Então você acreditou na história de que ele não tinha culpa? — Anthony questionou e eu assenti.

— Eu tive certeza que ele não teve.

— Mas teve certeza como? — Anthony insistiu. 

— Certeza no meu coração. A forma como ele contou tudo, como chorou na minha frente, ele não precisava mentir para mim, não ganharia nada com isso. Tenho plena certeza que foi sincero. — Respondi bebendo mais da água. — Continuando, no bar pedimos sanduíches gordurosos, eu peguei um refrigerante e ele uma cerveja. E óbvio, muita batata frita que havia se tornado meu novo vício mundano.

— Satisfeita? — Harley perguntou quando terminei de comer e eu o olhei me sentindo culpada.

— Que Deus possa me perdoar por ter acabado de cometer o pecado da gula, amém! — Respondi e ele riu balançando a cabeça.

— Vem, vamos jogar!

— Eu não sei jogar pôquer. — Falei e ele me puxou pela mão.

— Não é para jogar pôquer que estou te convidando. É para dardo. 

— Também não sei jogar isso.

— Relaxa! Eu te ensino. — Rebateu e eu fui com ele até um local onde havia um alvo na parede. Harley me apresentou as pequenas peças pontiagudas que deveriam ser lançadas no alvo e acertar o centro. Na teoria era fácil, na prática nem tanto. — Você precisa se concentrar. Joga firme tentando acertar o lugar que está olhando. — Aconselhou demonstrando como fazer. Continuei tentando e errando até que na décima vez o resultado foi diferente.

— Eu consegui! — Gritei animada ao acertar não o centro, mas próximo dele.

— Muito bem! Vencedores merecem um brinde! — Falou erguendo o copo de cerveja. Depois bebeu um pouco e me ofereceu o copo. Olhei enojada para o líquido amarelado e ele insistiu encostando o copo nos meus lábios. — Apenas experimente! — Pediu e eu abri a boca e ele virou um pouco o copo. Recebi um sabor terrível. Senti meu corpo arrepiar por inteiro e foi inevitável não fazer uma careta que Harley riu ao notar. Ele secou meus lábios com um guardanapo e me estendeu a minha lata de refrigerante.

— Cerveja é horrível. — Decretei tomando do refrigerante.

— Você só não se acostumou. — Explicou bebendo e me olhando com atenção.

— Jamais vou me acostumar. — Rebati tirando o copo da mão dele e pondo sobre uma mesa. — Beba isso! — Pedi oferecendo meu refrigerante e ele bebeu. — Vai dizer que não é muito melhor?

— Melhor não, mas é bom assim mesmo. Está cansada? — Perguntou me devolvendo a lata e eu dei um grande gole. Assenti para sua pergunta. — Vamos procurar um lugar para passar a noite então! — Propôs e seguimos para a mesa novamente onde ele pagou a conta. Saímos olhando em volta e quando tivemos certeza que a polícia não estava à nossa volta, montamos na moto e seguimos à procura de algum lugar seguro. Pouco depois achamos, passamos primeiro pela recepção, em seguida entramos no quarto.

— Hoje você dorme na cama e eu no sofá. — Avisei já me jogando no pequeno móvel.

— Não precisa disso. Eu me viro aí, vai para a cama, anda!

— Não, você precisa descansar. —Sugeri e ele me olhou contrariado. — Senta lá! — Mandei e ele sorriu fraco sentando na beirada da cama. Me olhou com humor e depois deitou nela, as molas estranhas movimentaram o corpo dele. Tirei minhas sandálias e me encolhi para caber no sofá, pisquei sonolenta orando em pensamento. De repente ouvi um som diferente. Um som de choro. Ergui a cabeça e notei que Harley chorava com as duas mãos no rosto. Levantei e sentei ao seu lado movimentando a cama novamente. Ele descobriu o rosto e me encarou. —  Por que está chorando?

— Estou perdido em um labirinto. — Murmurou com a voz vacilante. — Não pude enterrar o corpo da minha mãe porque estou fugindo da polícia. Se me pegarem, ficarei muitos anos na prisão. Não sei mais o que fazer.

— Continua fugindo.

— Não dá para fugir a vida toda.

— Podemos tentar. — Propus tocando suavemente na mão cicatrizada dele. Peguei ela beijando a cicatriz. Ele me olhou confuso e eu beijei o punho dele onde havia uma cicatriz maior. — Você vai ficar bem. 

— Você é tão linda! — Ele disse sentando na cama e passando a mão pelo meu rosto. Seu toque era leve, cuidadoso, mas mesmo tão suavemente fazia uma perturbação crescer no meu peito. Me afastei rapidamente e ele me observou se aproximando novamente. Sua mão segurou a minha entrelaçando nossos dedos. — Você é linda! — Ele repetiu e eu o olhei desconcertada.

— Você também é lindo! — Murmurei nervosa com sua proximidade. Seus olhos estavam fixos​ nos meus. Suas lágrimas ainda presentes. Ele começou a se aproximar devagar, eu não sabia o porquê, mas meu coração acelerou tanto que pensei que fosse morrer. A outra mão dele seguiu para o meu rosto, segurando meu queixo. Inspirei o ar com dificuldade, ele estava tão próximo que eu podia sentir o calor do seu corpo no meu. Então ele parou me olhando. — O que está fazendo?

— Lutando comigo mesmo para não te beijar. — Respondeu me deixando intrigada.

— Da forma como beijei suas cicatrizes?

— Não, Angeline, existe um outro tipo de beijo. Um beijo que damos na pessoa que faz nosso coração bater mais forte toda vez que ela se aproxima de nós.

— Que beijo é esse? — Questionei confusa e ele subiu a mão pelo meu pescoço, me fazendo arrepiar.

— É um beijo na boca.

— Na boca? — Arregalei os olhos espantada. Eu nunca tinha escutado falar sobre esse beijo.

— Sim. — Ele respondeu passando as pontas dos dedos suavemente pelo meus lábios. Senti uma sensação diferente que me fez sorrir. Ele ficou olhando fixamente para minha boca e então me olhou novamente nos olhos. E depois subitamente se afastou. Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa ouvi o som de uma sirene insistente e luzes vermelhas colorir o quarto. — A polícia está aqui! — Afirmou nervoso pegando as nossas coisas. — Vamos! — Chamou e eu peguei minhas sandálias. Nós pulamos a janela dos fundos e corremos para pegar a moto e fugir.

O Caso HarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora