Capítulo X

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— O que foi que você disse? — Questionei descendo da moto no mesmo instante, o olhando incrédula.

— Eu... Matei um homem. — Confessou e eu recordei das inúmeras vezes que Marry Ann me avisara para não confiar demais nas pessoas. Eu não escutei nenhuma dessas vezes, graças a isso estava fugindo com um assassino. Recuei alguns passos e ele largou a moto seguindo na minha direção. — Não precisa ter medo de mim, Angeline! Eu jamais te faria mal. — Avisou e eu parei batendo as costas em um muro.

— O que foi que aconteceu?

— É melhor você não saber. — Respondeu evasivo. — Eu tive minhas razões para fazer o que fiz.

— Quais razões?

— Não posso falar, você não entenderia.

— Então não posso continuar aqui. — Rebati tentando me afastar dele.

— Espera! Angeline! — Ele segurou o meu braço e eu tentei me esquivar do seu toque.

— Me solta agora senão eu vou começar a gritar! — Ameacei e ele me soltou.

— Calma! Por favor, me escuta! É melhor você não saber... — Recomeçou com seu discurso e eu comecei a correr! — Angeline! Angeline! — Gritou e eu ouvi o barulho da moto ligando. Meu coração foi parar na boca, eu jamais seria mais rápida que uma máquina. A madre superior tinha razão, eu era uma grande tola por confiar nele.

— Me deixa em paz! — Pedi tropeçando nas pedras e caindo de joelhos no chão. Ele pulou da moto e me puxou para levantar.

— Você se machucou?

— Me solta, eu vou embora.

— Para onde? Você não tem para onde ir. 

— Qualquer lugar é melhor do que ficar acompanhada de alguém que não conheço. — Respondi e ele respirou fundo.

— Calma...

— Como você quer que eu fique calma? Eu estou sozinha aqui fora ao lado de um fugitivo da polícia. Eu... Nem sei se a madre me aceitará de volta no convento. Se ela não aceitar eu realmente não terei para onde ir mais. — Arregalei os olhos ao constatar a grande besteira que havia feito da minha vida e então Harley me olhou sério.

— Você não pode voltar para o convento. Você mesma disse que queria conhecer o mundo.

— Pelo o pouco que já conheci percebi que não estou pronta para ele.

— Por favor! Não faz isso! Vamos procurar um lugar...

— Eu não vou seguir com você. Pode me matar, mas daqui não saio. — Solucei e ele franziu a testa, visivelmente irritado.

— Escuta aqui! — Gritou segurando meu rosto com as duas mãos. — Eu tive que matar aquele homem. Não é como se eu fosse sair matando as outras pessoas por aí. Muito menos você.

— Que homem foi esse? Por que teve que matá-lo?

— Angeline, vamos embora daqui, depois conversamos melhor.

— Eu não saio daqui sem você me dizer...

— Eu matei o meu pai. — Ele me interrompeu bruscamente e eu senti uma vertigem atordoar os meus sentidos. Harley me amparou antes que eu caísse no chão após ouvir tal confissão. Ele me levou até a moto onde me apoiou. — Você está bem?

— Meu Deus! Que coisa horrível! — Comentei apertando meu crucifixo entre os dedos. Meu coração estava aos pulos com sua tenebrosa revelação.

— Não fiquei assim! Acontece que eu... Eu precisei matá-lo.

— Por quê? Como pôde precisar matar alguém? Principalmente seu pai?

— Klaus... Ele me criou desde que eu tinha dois anos de idade. Meu pai biológico me abandonou e pouco depois minha mãe conheceu o meu padrasto. No início tivemos uma boa relação, mas depois tudo se transformou. Ele batia em mim e na minha mãe por motivos triviais. Por bater mesmo. Pelo prazer de nos humilhar. Por muitos anos eu me calei, eu me sentia acuado. Eu aceitei apanhar porque não sabia que era algo errado. Certa vez uma professora pediu para eu fazer uma visita à psicóloga do colégio, foi quando eu descobri que tudo estava errado na minha vida. Desde então eu revidava todos os golpes. Vivíamos um verdadeiro inferno em casa até o último dia quinze.

— O que houve nesse dia?

— Eu encontrei ele batendo na minha mãe, mas não como antes. Ele estava batendo muito. Ela estava extremamente pálida. Mesmo já sem vida ele continuou a espancando. Aquele crápula matou a minha mãe, a única família que eu tinha no mundo. Eu me senti destruído, me senti culpado por não ter conseguido expulsar ele das nossas vidas há tempo de evitar tal tragédia. Vi tudo vermelho e aproveitei a distração dele e bati na cabeça por trás. Ele revidou e começamos a trocar socos. Eu xinguei ele, amaldiçoei, e bati muito, porém não tive coragem o suficiente para matá-lo.

— E então o que fez?

— Chorando muito eu dei um último soco nele. Me afastei para chamar a polícia e ele me agarrou. Foi quando envolvido pela fúria eu o empurrei com força contra a parede para que ele me soltasse. Ele então bateu a cabeça na quina e caiu morto com os olhos abertos.

— Então você não matou de propósito?

— Não, eu juro que não, mas ao mesmo tempo sinto minha alma lavada por ele ter morrido. O pior é que eu já havia ameaçado ele de morte dias antes na frente de toda vizinhança, por isso ninguém acredita em mim... Em pensar que aquele psicopata matou a minha mãe, a mulher mais incrível desse mundo. Ele acabou com ela como se não fosse nada. — Contou transtornado com os olhos derramando muitas lágrimas. — Ele destruiu a minha vida.

— Calma, sua vida não está totalmente destruída! — Tentei consolar e ele negou com a cabeça.

— Para todo lado que eu olho só vejo destruição. — Murmurou secando o rosto. — Eu estou sozinho no mundo e completamente ferrado.

— Não está sozinho. — Respondi tocando suavemente na mão dele e ele me olhou nos olhos. — Pois eu estou com você. E vou te ajudar.

O Caso HarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora