Capítulo VI

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— Estamos quase lá. — Ele avisou ofegante seguindo na frente. Eu tentava andar o mais rápido que podia, entretanto meus pulmões reclamavam pedindo ar. Minhas pernas ardiam raladas e meu vestido branco estava cheio de pétalas perfumadas de lírios. Comecei a pensar no que havia feito, talvez fugir com um completo desconhecido não tivesse sido a decisão mais inteligente da minha parte. Parei me abaixando um pouco para descansar.

— Não pare, vamos!

— Estou com muita sede. — Reclamei e ele voltou para trás, me puxando pelo braço e me fazendo levantar.

— Vamos procurar um lugar. Também estou com sede. — Comentou me convencendo à segui-lo. Andamos por mais um longo e árduo trajeto de descida íngreme. As flores começaram a ficar para trás dando lugar a muitas árvores secas e altas. Caminhamos numa floresta bem longe da estrada de terra que ligava a cidade ao convento e eu estranhei.

— Pelo outro lado saímos em Cosmopolita mais rápido. — Avisei e ele prosseguiu andando, quebrando os galhos com suas botas escuras.

— Vamos evitar a estrada. Elas podem estar sendo vigiadas.

— Vigiadas por quem? — Perguntei e ele me olhou estranho. 

— Vamos por esse caminho mesmo, Angeline! — Insistiu ignorando a minha pergunta. Sem muita opção eu o segui. Após uma exaustante caminhada finalmente alcançamos a margem de uma rodovia que eu desconhecia totalmente. Minha garganta estava seca e minha língua parecia mais áspera que o comum. O suor na minha testa estava frio e eu precisava urgentemente descansar.  — Um bar! — O forasteiro apontou já seguindo em direção à ele. Mesmo que eu nunca tenha entrado em bares eu sabia que não era um bom lugar para se estar. Havia muitas motos paradas do lado de fora, no chão de cascalho que circundava o local escuro e estranho. Entrei no encalço do forasteiro e ele apontou uma porta escrito banheiro logo na entrada. Seguimos cada um para o banheiro do nosso gênero. O lugar era muito sujo e fedia esgoto. Lavei as mãos na pequena pia e lavei o rosto. Me olhei no espelho quebrado e ajeitei meu véu na cabeça. Saí e me deparei com um ambiente pesado. Havia mais homens que mulheres e todos tinham o semblante enraivecido. Notei o forasteiro sentado perto do balcão e me assustei quando o vi fumar.

— Isso é errado. — Adverti e ele sorriu soprando a fumaça. — Faz mal para os pulmões. Apaga, por favor! — Pedi e ele revirou os olhos, apagando o cigarro no cinzeiro sobre o balcão. — Obrigada! —Sentei ao lado dele e olhei a pequena TV grudada na parede. Me surpreendi ao notar que estava mostrando policiais no convento. Será que as freiras tinham chamado por conta da minha fuga? 

— Tome a sua água! — O forasteiro ordenou e só então eu notei uma garrafa de água na minha frente. Abri apressada e tomei quase a metade em um só gole. — Calma, vai engasgar assim! Guarde um pouco para mais tarde.

— Trouxe a irmã para purificar o ambiente? — Uma voz grossa falou atrás de mim e eu o olhei assustada. Era um homem alto e musculoso. — Será que a água que toca esses lindos lábios se torna benta? — Perguntou passando a mão áspera pelo meu rosto e eu tentei me afastar.

— Tira a mão dela! — O forasteiro gritou empurrando o homem para longe de mim. Porém o homem não gostou nada e o encarou furioso. Tudo foi muito rápido. Quando dei por mim começaram a trocar socos e eu levantei do banco alarmada, enquanto outros homens ainda mais estranhos tentavam​ separar a briga.

— Vem, irmã, vou te levar para longe da confusão! — Um rapaz estendeu a mão para mim e quando fui aceitar a ajuda ele inesperadamente agarrou minha cintura.

— Socorro! Me solta! — Bati no peito dele tantando afastá-lo de mim. O forasteiro notou a situação é veio na nossa direção. Puxou o homem pelo colarinho e o derrubou no chão. Então começou a bater nele, mas quanto mais ele batia, mais seus olhos ficavam assustadores.

— Chega! — Gritei quando o forasteiro quebrou uma garrafa no balcão e ameaçou ferir gravemente o homem. Seu olhar amedrontador confrontou o meu e ele hesitante largou a garrafa.

— Vamos sair daqui! — Chamou me puxando enquanto muitas vozes discutiam dentro do ambiente. Ele ergueu uma chave e apontou para uma moto. Estranhei ele não ter dito que havia uma moto dele ali. Subiu na mesma e me olhou interrogativo. — O que está esperando? Sobe logo, Angeline! — Exigiu impaciente e eu fiz o nome do pai, afinal eu nunca havia andado de moto. Montei atrás dele.

— Assim que tivermos oportunidade você vai se livrar dessas suas roupas. Aqui fora você não é mais uma noviça. — Falou me olhando pelo pequeno retrovisor. — Segura em mim senão vai acabar caindo! — Mandou e eu abracei ele sem jeito. O forasteiro acelerou e eu senti o vento acariciar meu rosto e balançar meu véu. Me senti livre como nunca antes.

O Caso HarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora