Capítulo XII

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— Conseguimos fugir para um parque próximo da cidade. À noite ainda estava cheio de pessoas, a polícia jamais iria nos encontrar em meio à tanto movimento. — Contei e Anthony assentiu. 

— Vamos para a roda gigante! Lá no topo podemos ver se a polícia está aqui por perto! — Harley falou baixo no meu ouvido. Depois com uma mão me conduziu para um brinquedo gigante com pequenas cabines. Comprou um tíquete e entregou para um homem que me apontou em qual cabine eu deveria entrar. Sentei e Harley sentou ao meu lado. O banco era pequeno e ficamos muito próximos. Meu coração voltou a ficar inquieto no peito. Subimos devagar e quando chegamos no topo olhamos para baixo, não havia sinal de luzes vermelhas piscando. A polícia não estava próxima de nós. Não ainda. — Olha, uma estrela cadente! — Apontei para o céu. — Faz um pedido! — Instiguei e ele desviou o olhar do céu e me olhou nos olhos.

— Já fiz o meu pedido. Você fez o seu?

— Sim, mas não posso contar senão não realiza. — Expliquei desejando que ele conseguisse se livrar da polícia. — Seu nome é quase um cometa, não é?

— Sim, lembra um pouco o cometa Halley. Como sabe disso?

— Quando eu era criança papai me presenteou com um grande livro de astronomia. Falava sobre quase tudo no universo. — Olhei encantada para o céu. — As nebulosas são perfeitas. Já viu?

— Eu conheço algo mais perfeito que elas.

— O quê? — Perguntei curiosa e antes que ele pudesse responder o brinquedo parou. Tivemos que descer. Seguimos por entre as pessoas animadas que na maioria carregavam​ crianças ainda mais eufóricas. Harley comprou uma torre colorida no palito para mim, que ele disse se chamar algodão doce. Comi e adorei a textura macia. Seguimos para uma barraquinha e ele pagou por uma grande arma. Fiquei assustada, entretanto ele me tranquilizou apontando para os patos de madeira. A cada tiro nos patinhos ele marcava um ponto. Eu odiei o som provocado pela arma. Me afastei um pouco e só voltei quando ele tinha derrubado todos os patos. Ele então pegou um urso de pelúcia gigante com laço vermelho no pescoço e me entregou. Me lembrou um urso pequeno que eu tinha ganhado do meu pai, mas quando cheguei no convento a madre mandou eu jogar fora. Por isso fiquei tão agradecida ao Harley pelo presente.

— Vamos arrumar um lugar para dormir. — Ele avisou e nós voltamos para a moto. Segurei o urso pelos braços e fomos nós três para a mata densa próxima ao parque. O farol da moto era a única luz que tínhamos entre as enormes árvores. Paramos numa clareira onde o céu luminoso deixava tudo às claras. Descemos da moto e olhamos em volta. — Teremos que improvisar.

— O Rub pode ajudar. — Ofereci colocando o enorme urso de pelúcia deitado de barriga para cima e usei de travesseiro. Harley sorriu e deitou ao meu lado. Ficamos um bom tempo no chão, lado a lado olhando para o céu. Harley inesperadamente tocou na minha mão e a segurou quando eu permiti o toque. Então ele ergueu a minha mão e levou até a boca, depositando um beijo. Eu me virei e o olhei de perto. Ele também me olhou. Me aproximei devagar e beijei a bochecha dele. Ele sorriu e beijou a minha. Me aproximei novamente e beijei a testa dele. Ele retribuiu, porém demorou um pouco mais com seus lábios em mim. E então colou nossas testas e eu fechei os olhos me sentindo ser jogada ao mar de reboliço interno.

— Posso beijar sua boca? — Pediu permissão e eu senti que na minha barriga havia pequenas borboletas voando em rasantes.

— Sim. — Respondi baixo e ele afastou um pouco para olhar nos meus olhos. Pisquei sem jeito e ele tocou meu rosto cuidadosamente. Ele fechou os olhos e eu senti que deveria fazer o mesmo. Seus lábios tocaram nos meus e deram uma leve pressão que aumentou aos poucos. Depois ele entreabriu a boca e eu o imitei sentindo ele sugar meus lábios como se minha boca fosse uma fruta recém colhida. Suas mãos subiram para meu rosto e ele deitou sobre mim. Eu não soube o que fazer com as mãos então abracei o pescoço dele. Meu corpo todo parecia reagir e meu peito subia e descia de acordo com a minha necessidade de respiração. Então Harley se afastou um pouco e me olhou nos olhos.

— Meu pedido à estrela cadente acaba de se realizar. — Contou e eu sorri o abraçando mais forte. O corpo dele pesou sobre o meu e ficamos assim, quietinhos, juntos por um bom tempo. Pouco depois ele saiu de cima de mim e me abraçou de lado, deitei minha cabeça sobre o peito dele, senti ele beijar o topo da minha cabeça. — Boa noite, Angeline!

— Boa noite, Harley! — Falei me aconchegando mais nele. E mesmo estando no meio da mata, fugindo da polícia, eu nunca havia me sentido mais protegida antes. Dormi pouco depois.

O Caso HarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora