— Conseguimos fugir para um parque próximo da cidade. À noite ainda estava cheio de pessoas, a polícia jamais iria nos encontrar em meio à tanto movimento. — Contei e Anthony assentiu.
— Vamos para a roda gigante! Lá no topo podemos ver se a polícia está aqui por perto! — Harley falou baixo no meu ouvido. Depois com uma mão me conduziu para um brinquedo gigante com pequenas cabines. Comprou um tíquete e entregou para um homem que me apontou em qual cabine eu deveria entrar. Sentei e Harley sentou ao meu lado. O banco era pequeno e ficamos muito próximos. Meu coração voltou a ficar inquieto no peito. Subimos devagar e quando chegamos no topo olhamos para baixo, não havia sinal de luzes vermelhas piscando. A polícia não estava próxima de nós. Não ainda. — Olha, uma estrela cadente! — Apontei para o céu. — Faz um pedido! — Instiguei e ele desviou o olhar do céu e me olhou nos olhos.
— Já fiz o meu pedido. Você fez o seu?
— Sim, mas não posso contar senão não realiza. — Expliquei desejando que ele conseguisse se livrar da polícia. — Seu nome é quase um cometa, não é?
— Sim, lembra um pouco o cometa Halley. Como sabe disso?
— Quando eu era criança papai me presenteou com um grande livro de astronomia. Falava sobre quase tudo no universo. — Olhei encantada para o céu. — As nebulosas são perfeitas. Já viu?
— Eu conheço algo mais perfeito que elas.
— O quê? — Perguntei curiosa e antes que ele pudesse responder o brinquedo parou. Tivemos que descer. Seguimos por entre as pessoas animadas que na maioria carregavam crianças ainda mais eufóricas. Harley comprou uma torre colorida no palito para mim, que ele disse se chamar algodão doce. Comi e adorei a textura macia. Seguimos para uma barraquinha e ele pagou por uma grande arma. Fiquei assustada, entretanto ele me tranquilizou apontando para os patos de madeira. A cada tiro nos patinhos ele marcava um ponto. Eu odiei o som provocado pela arma. Me afastei um pouco e só voltei quando ele tinha derrubado todos os patos. Ele então pegou um urso de pelúcia gigante com laço vermelho no pescoço e me entregou. Me lembrou um urso pequeno que eu tinha ganhado do meu pai, mas quando cheguei no convento a madre mandou eu jogar fora. Por isso fiquei tão agradecida ao Harley pelo presente.
— Vamos arrumar um lugar para dormir. — Ele avisou e nós voltamos para a moto. Segurei o urso pelos braços e fomos nós três para a mata densa próxima ao parque. O farol da moto era a única luz que tínhamos entre as enormes árvores. Paramos numa clareira onde o céu luminoso deixava tudo às claras. Descemos da moto e olhamos em volta. — Teremos que improvisar.
— O Rub pode ajudar. — Ofereci colocando o enorme urso de pelúcia deitado de barriga para cima e usei de travesseiro. Harley sorriu e deitou ao meu lado. Ficamos um bom tempo no chão, lado a lado olhando para o céu. Harley inesperadamente tocou na minha mão e a segurou quando eu permiti o toque. Então ele ergueu a minha mão e levou até a boca, depositando um beijo. Eu me virei e o olhei de perto. Ele também me olhou. Me aproximei devagar e beijei a bochecha dele. Ele sorriu e beijou a minha. Me aproximei novamente e beijei a testa dele. Ele retribuiu, porém demorou um pouco mais com seus lábios em mim. E então colou nossas testas e eu fechei os olhos me sentindo ser jogada ao mar de reboliço interno.
— Posso beijar sua boca? — Pediu permissão e eu senti que na minha barriga havia pequenas borboletas voando em rasantes.
— Sim. — Respondi baixo e ele afastou um pouco para olhar nos meus olhos. Pisquei sem jeito e ele tocou meu rosto cuidadosamente. Ele fechou os olhos e eu senti que deveria fazer o mesmo. Seus lábios tocaram nos meus e deram uma leve pressão que aumentou aos poucos. Depois ele entreabriu a boca e eu o imitei sentindo ele sugar meus lábios como se minha boca fosse uma fruta recém colhida. Suas mãos subiram para meu rosto e ele deitou sobre mim. Eu não soube o que fazer com as mãos então abracei o pescoço dele. Meu corpo todo parecia reagir e meu peito subia e descia de acordo com a minha necessidade de respiração. Então Harley se afastou um pouco e me olhou nos olhos.
— Meu pedido à estrela cadente acaba de se realizar. — Contou e eu sorri o abraçando mais forte. O corpo dele pesou sobre o meu e ficamos assim, quietinhos, juntos por um bom tempo. Pouco depois ele saiu de cima de mim e me abraçou de lado, deitei minha cabeça sobre o peito dele, senti ele beijar o topo da minha cabeça. — Boa noite, Angeline!
— Boa noite, Harley! — Falei me aconchegando mais nele. E mesmo estando no meio da mata, fugindo da polícia, eu nunca havia me sentido mais protegida antes. Dormi pouco depois.
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O Caso Harley
Short StoryAngeline Morgan foi entregue para o convento como pagamento de uma promessa feita pela sua mãe. Obrigada a ficar enclausurada dentro dos muros altos, vivendo uma disciplina rígida, cada vez mais ela deseja conhecer o mundo e abandonar a vida de reti...