AO ENCONTRO DO ACASO

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"Permita que a mudança

                                      bata a sua porta."

Frente a lagoa, em um momento de expressão de agradecimento, sinto-me muito feliz. É difícil estar triste junto à natureza, a um amigo e junto também de pessoas que se divertem de forma sadia. Tim pede a chave da moto para dar uma volta pela redondeza, dizendo ter que me deixar por alguns minutos. Como eu não tinha pressa de ir embora, arremesso a chave sugerindo tomar cuidado com o trânsito e dizendo para me encontrar ali mais tarde. Com uma feição tentando dizer "é claro" e o movimento afirmativo da cabeça, Tim se despede.

Sinto fome e sigo até as barracas de uma feira itinerante com guloseimas, artesanatos, brechó e sebo que virou costume acontecer nos dias de sol, sobre o gramado da Lagoa dos Patos. Perto das barracas, crianças esticam toalhas e espalham revistas, brinquedos e roupas para vender, numa espécie de feira do cacareco. São preços bem irrisórios mas que dá experiência às crianças de desapegar de algumas coisas que não servem mais para elas, mas que pode servir para outros. Existe também a troca, e isso é o que mais acontece. É bem interessante observá-las "namorando" o brinquedo do vizinho e timidamente perguntando sobre a opção de troca e negociação.

Nesta feira, os aromas são demais, principalmente quando se está com fome. Cheiros salgados como o torrado do queijo coalho sobre a grelha e doces como o doce de leite derretido que rechea os churros ou o açúcar do algodão doce. É uma feira extremamente colorida. Cores da culinária, das roupas, dos artesanatos e das pessoas. Uma feira de vida e bom humor. Um evento em comemoração a felicidade. Algo que deveria carregar comigo todos os dias.

Se eu estivesse em casa, estaria sentindo a ressaca, babando ao travesseiro, deixando a hora passar. Mas não. Foi Tim que me tirou de lá e me trouxe para algo diferente e melhor. Obrigado Tim, digo em voz alta sem perceber.

— Não sou Tim, sou Lu. E não há de que. - exclama uma feirante, esticando os braços em direção a mim para mostrar uma bandeja com brigadeiros e bem-casados. Além de um enorme e reluzente sorriso, de orelha a orelha.

Poderia ficar por horas, descrevendo a beleza de Lu mas acho melhor não transformar meus pensamentos em um livro de romance.

— Desculpe. Não estava falando com você, mesmo assim, obrigado pelos docinhos. Quanto custa?

— Um sorriso. Basta dar um sorriso que ganha um doce. Mas não me venha com um sorriso qualquer, exclama franzindo a testa, fingindo ficar zangada.

Na mesma hora, lembro do exercício da maçã, e ao invés de dar-lhe um sorriso por ter pedido, dei uma gargalhada ao lembrar do exercício que Tim ensinou frente ao espelho. Peças se encaixando e novamente Tim me levando no caminho da leveza.

— Um só não, merece dois docinhos por tanta alegria.

— Hora, muito obrigado, mas faço questão de pagar. Quanto lhe devo?

— Não deve nada mesmo. São só alguns docinhos que fiz pra presentear os visitantes de nossa feira. Hoje é um dia especial. Hoje é dia de feira.

Fico admirado com a felicidade que exala de suas palavras. Sinto muita verdade nos sentimentos que ela está expressando e gosto muito disso. Ela não precisava estar ali, não precisava estar conversando comigo e não precisava estar me presenteando. Mas estava fazendo tudo isso porque queria. Porque se sentia bem fazendo.

Lu morava em um bairro próximo a Praça das Aroeiras, uma praça onde eu ia muito em minha infância com meus amigos. Faz bastante tempo que não passo por lá e por isso tínhamos bastante o que conversar. Além disso, como diz Tim, o mundo é uma caverna, se referindo a ser pequeno o suficiente para que todos tenham algum conhecido em comum. Por isso já descobrimos colegas em comum, situações em comum e tantas outras memórias e coincidências que nos deixavam mais próximos. E assim ficamos conversando por algum tempo, enquanto saboreava os docinhos e algumas outras comidas ali da feira. O tempo passou rápido e encerramos nossa conversa com troca dos números de telefone. Por que não?


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