UM TELEFONEMA

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"Estamos apenas de passagem."

Ligo de volta, e estranhamente não é Tim quem responde ao chamado. Sargento Xavier, um policial rodoviário da região e conhecido por todos, é quem atende e com sua voz séria ao telefone, chama-me por meu apelido de infância que só minha mãe e Tim costumam chamar:

— Gugo, é você? - pergunta alguém do outro lado da linha que deve ter lido este meu apelido na lista de contatos.

— Sim, mas quem fala?

— Aqui é sargento Xavier e preciso saber sobre seu parentesco com o senhor Tim.

— Tim é meu amigo. Meu melhor amigo. O que houve?

— Sinto lhe dizer, mas Tim foi vítima de um acidente de carro e infelizmente não aguentou aos ferimentos, falecendo imediatamente no local do ocorrido.

Perco a força de minhas pernas, paraliso minha face, entristeço o olhar e sinto que Tim se foi. Sinto que Tim passou por minha vida, como as águas passam pelo rio. Que seu trem partiu e não voltará mais. Pra me defender, deixo o sentimento de revolta tomar conta de mim:

— Como assim? Não pode ser. Ele estava comigo logo cedo. Ele é muito esperto para isso ter acontecido.

—Senhor Gugo, sinto informar mas é a pura verdade. Meus pêsames.

"Mas é a pura verdade". Sabe o que isso significa quando alguém fala referindo-se a morte de um amigo? Perda. Tim se foi e pra não perdê-lo devo levá-lo todos os dias em meu coração. Primeiro com dor, tristeza. Depois saudade, melancolia. E pro resto de minha vida, com sua felicidade e leveza. Assim estará pra sempre comigo.

Há minutos era Homero, chorando com um outro tipo de perda. Agora eu, aqui, sentado na escadaria de meu apartamento, chorando feito criança por um amigo que tanto me fez bem e me ensinou. Ele que me tirou do apartamento, levando-me ao encontro do acaso e agora sai de minha vida de uma maneira tão brusca.

Ao telefone, agora descolado de meus ouvidos, ainda está sargento Xavier, que mesmo à distância, escuto seus berros de alô. Retomo meus sentidos e ajustando a voz para que me entenda, pergunto o que deve ser feito. E aquele dia estava desenhado para terminar de forma difícil.

As perdas nos fazem amadurecer. Faz-nos darmos valor ao aqui e agora. Valor às simples coisas que acontecem em nossas vidas. A simples encontros e desencontros. A perda nos faz refletir sobre tudo o que nos sobra e como podemos aproveitar melhor o que temos. Quem são nossos amigos, nossos vizinhos, nossos familiares, nossos mestres, nossos conhecidos de longa e de pouca data? A perda nos faz melhor, se nos permitirmos assim nos tornar. Eu não perdi Tim. Eu ganhei Tim por muitos anos de minha vida e o levarei comigo para o restante dela.

E o resto desta triste passagem, são recheados de lembranças, burocracias, encontros, lágrimas, dor, saudade e todo drama que envolve as horas intermináveis de um partir. Descanse em paz, amigo Tim.


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Tempestade do euOnde histórias criam vida. Descubra agora