Berna mordeu o lábio nervosa e acusava a si mesma por ter deixado aquele cheque sobre a mesa, mas onde iria imaginar que Malka iria entrar em sua sala e ver aquilo?
- Vamos, Berna, eu estou esperando. –A mulher disse irritada. –Até quando pensava em me esconder isso?
- Eu ia contar...
- Mas não contou! –A interrompeu. –Desde quando você manda dinheiro pra essa mulher? Desde quando você tem contato com ela? ME RESPONDE!
- Eu não tenho contato com ela. –Abaixou a cabeça. –Olha se acalma, tá bom? Eu vou te contar tudo.
- Sou toda ouvidos. –Respondeu irônica.
- Faz um ano mais ou menos, eu ainda estava em Manhattan e o papai recebeu uma carta de uma mulher que dizia ser a enfermeira da nossa mãe. –Explicou. –Ela dizia que estava doente e não tinha recursos pro tratamento, pedia ajuda e o papai começou a enviar uma quantia para ajudar e ainda pagava a enfermeira.
- Então vocês dois sabiam de tudo e eu nada?
- Não. –Foi até a irmã. –Ele escondeu de mim também, só veio me dizer quando descobriu o câncer e sabia que não iria durar muito, ele me confidenciou ainda em Manhattan e pediu para que eu continuasse a contribuir, eu só estou cumprindo um pedido do babisko.
- Por que não me contou quando o papai morreu? Nós sempre fomos melhores amigas, pelo menos você sempre foi minha melhor amiga e você nem fez o mesmo comigo, Berna.
- O papai pediu pra não comentar nada com você, porque você sempre foi a mais afetada com a partida dela. –Berna segurou na mão de Malka, que se afastou irritada. –Se você soubesse iria querer ir atrás e ele não queria que sofresse por ela novamente.
- Eu não sou uma criança e vocês não tinham direito de me esconder isso. –Jogou o cheque na mesa com raiva. –Isso era para ser algo para compartilharmos juntas, Berna, essa coisa de vocês sempre quererem me proteger irrita muito, sabia? Eu sou grande o suficiente pra suportar qualquer coisa.
- Me perdoe. –Pediu sincera. –Minha intenção nunca foi te excluir de nada, Malka, só não queria que sofresse.
- Nessa carta, ela falou algo sobre nós? Você chegou a ler? Eu quero ler.
- Eu li uma vez, mas o papai me viu e queimou. –Bufou. –Disse que não queria que fossemos atingidas por ela mesmo de longe.
- O que dizia?
- Ela dizia que não queria ver a gente, Malka. –Berna disse por fim e a terapeuta desabou no choro. –Dizia que não se arrependia de ter deixado nós três, que ela nunca quis ser mãe e que pensou em outro futuro pra ela.
Malka colocou as mãos sobre os cabelos e os puxou com desespero enquanto chorava e se ajoelhava no chão desesperada, Berna ajoelhou-se ao seu lado e a abraçou com ternura.
- Eu odeio ela, Berna, odeio. –Disse entre lágrimas. –Ela não merece a gente, nos deixou sozinhas.
- Eu sei, minha irmã, eu sei. –Acariciava os cabelos dela. –Tá vendo porque eu não queria que soubesse?
- Me solta. –Malka se afastou e se levantou. –Você também mentiu pra mim.
- Malka...
- Não venha atrás de mim. –Ela saiu da sala e bateu a porta.
Berna também caiu no choro quando a irmã havia saído de sua sala desabalada, observou o cheque ainda sobre a mesa com uma quantia bastante considerável, não podia desacatar o último desejo de seu pai e querendo ou não, aquela mulher era sua mãe. Entregou o papel para sua secretária e cancelou todas os seus compromissos do dia, ligou para José e pediu para que ele cuidasse de Malka, depois tentou contatar Mustafá, mas ele estava a manhã inteira preso em uma reunião. Próximo do horário de buscar Aisha na escola, Berna estacionou o carro em frente ao local e desceu ao ver a menina vir correndo ao seu encontro e abraçando-a.
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AMOR POR CONTRATO
ChickLitMustafá, único herdeiro da "Império Ayata", precisava de uma esposa para assumir os negócios da família após a morte de seu pai e vê sua vida de mulherengo ir por água abaixo. Berna Steinl, uma turca que viveu por anos em Manhattan, está de volta a...